Assim como o setor de navegação do Amazonas, o transporte rodoviário de cargas também tem sido alvo crescente de ataques de grupos de criminosos. A estimativa é que os roubos de cargas cause um prejuízo anual de R$ 300 milhões ao segmento na região. Segundo a Associação Nacional de Transporte Rodoviário de Cargas e Logística (NTC&Logística), no Brasil, as perdas por roubos registradas em 2016 contabilizaram R$ 1,3 bilhão, com a ocorrência de 24,5 mil assaltos, dos quais, 30% das cargas estão relacionadas ao Amazonas. Os produtos eletroeletrônicos fabricados no Polo Industrial de Manaus (PIM) estão entre os principais alvos dos assaltantes na região.
O primeiro tesoureiro da Federação das Empresas de Logística, Transportes e Agenciamento de Cargas da Amazônia e secretário do Sindicato das Empresas de Agenciamento, Logística e Transportes Aéreos e Rodoviários de Cargas do Estado do Amazonas (Setcam), Raimundo Augusto Araújo comentou que os roubos são mais recorrentes a partir dos trechos de Porto Velho (RO) e Belém (PA). De acordo com ele, existem muitas quadrinhas especializadas que esperam as cargas saírem de Manaus para atacarem antes da chegada ao destino final.
“É importante destacar que na capital não tivemos roubos registrados recentemente. No último, a carreta foi localizada e a situação neutralizada. Mas temos observado o aumento da violência durante as abordagens”, frisou Araújo. Atualmente para que uma carga saia de Manaus ou de outras localidades do país com o mínimo de segurança possível, é necessário que a transportadora contrate serviços de monitoramento. “Hoje temos que ter o gerenciamento de risco e a escolta armada, além do rastreamento e aumento de seguros. A grande questão é que esses novos gastos encarece o valor do frete”, disse.
Dentre os principais fatores contribuintes para o aumento de roubos nas rodovias brasileiras, segundo Araújo, estão a falta de punição aos criminosos e a dificuldade de rastreamento da carga roubada. “Acreditamos que falta o país vencer essa questão da impunidade que contribui diretamente para atuação dessas quadrilhas pelas nossas estradas. Falta ainda uma política de estado efetiva que possa inibir isso. Em um cenário de crise com tantos desempregados, só vemos corrupção em todas as esferas do país e a população está desacreditada”, avaliou.
Nacional
Conforme os dados da NTC, em 2016 foram registrados 24,5 mil casos em todo o país contra 19.2 mil de 2015, representando um aumento de 27,5% na comparação anual. A região Sudeste lidera o ranking nacional ao contabilizar 20,8 mil ocorrências, somando 84% dos casos. Em seguida estão as regiões do Nordeste (5,58%), Sul (5,54%) e Centro Oeste (3,24%). Já o Norte aparece em último lugar com 0,96% ou 237 roubos registrados no período. “Estamos nessa posição devido a localização geográfica e por quase não temos saídas por estradas”, analisou Araújo.
Ainda conforme o balanço, o roubo de cargas totalizou R$ 1,360 bilhões em prejuízo em todo Brasil no ano passado. Em 2015, esse valor foi de R$ 1,120 bilhões. Com isso, houve um crescimento de 21% na comparação anual. A região Sudeste registrou R$ 942,9 milhões em prejuízos, considerada a maior fatia do país. A região Sul aparece logo em seguida com R$ 205 milhões perdidos por conta dos roubos. Na terceira posição aparece o Nordeste (R$ 143,9 milhões), Centro Oeste (R$ 49 milhões) e Norte (R$ 23,1 milhões).
Dentre as cargas mais visadas são produtos alimentícios, cigarros, combustíveis, eletrônicos, produtos farmacêuticos, bebidas, têxteis e confecções, autopeças e produtos químicos. “A situação é bastante preocupante e vem se agravando ano após ano. Medidas precisam ser tomadas com urgência para viabilizar o transporte de segurança no país”, informou a NTC.
Transporte rodoviário de cargas retrai 32% no Amazonas
No primeiro semestre deste ano, o setor de transporte rodoviário registrou queda de 32% na movimentação de cargas em Manaus na comparação a igual período de 2016. Mesmo com indicador negativo, a expectativa é que neste ano o segmento o de transporte rodoviário de cargas do Amazonas apresente crescimento de pelo menos 4% em relação ao faturamento do último ano.
De acordo com Araújo, do total de dez carretas que saem de Manaus em direção às regiões Sul e Sudeste abastecidas por produtos do Polo Industrial de Manaus, somente sete retornam com produtos para atender ao comércio da capital. “Em datas como o Dia das mães, por exemplo, nos dois meses que antecedem a comemoração mandamos cargas para essas regiões, mas não vem muita coisa pra cá”, explicou representante da Fetramaz e Setcom.
Segundo ele, a estimativa do setor é crescer até 4% neste ano em relação ao faturamento de 2016. “Somos otimistas por natureza, e esperamos um crescimento entre 3% a 4% até o final de 2017. Mas tudo depende do desenvolvimento da economia e das reformas feitas pelo governo federal”, projetou Araujo.