Mulheres amazônidas reprogramam área de Tecnologia da Informação

O setor de  Tecnologia da Informação (TI), de predominância masculina, ao ganhar as telas de cinema popularizou a imagem do nerd. O clichê criado a partir daí foi do homem competitivo, nascido para ganhar (apesar de ser antissocial) e que muitas vezes tem a mulher como apoiadora e em papel secundário. Mas mesmo que pouco vistas, em salas de aula ou no ambiente de trabalho, a mulher está presente e vem ganhando espaço nesse universo.

Sobre a falta de representatividade feminina nos ambientes acadêmicos e de trabalho, a designer Nara Vieira acredita em uma mudança do panorama, mesmo que em longo prazo e apesar do clichê dos nerds, como misóginos e antissociais “O nerd é o cara que mais respeita a mulher no trabalho. Não tem como falar mal deles, os caras que são bons, reconhecem quem é bom também”, disse a profissional que já foi designer de aplicativos na Nokia e atualmente trabalha na Sherpa, empresa espanhola de inteligência artificial (assistente virtual para mobiles).

Segundo a designer, é mais fácil quebrar barreiras no ambiente tecnológico que em outras áreas. “A mulher sempre é julgada por características de fora do trabalho: ‘ah é bonita, então é burra’, ‘ah é feia, não quero trabalhar com feia’. Podem me dizer que não existe, mas já ouvi muito e sei que, infelizmente, a mulher precisa fazer o dobro pra provar que vale. Todo ambiente de trabalho tem, tanto de homens quanto de mulheres. Mas vejo que isso está mudando e no ambiente tecnológico somos avaliadas pela competência”, comenta.
Tecnologia e maternidade 

Optar pelo home-office acaba sendo a saída para mulheres que não querem perder o espaço conquistado em TI. Melhor ainda para quem optou pela maternidade diz Nara, que há dois anos e meio é mãe de um menino. “Trabalho de 6h às 15h, meu filho acorda as 11h, então passo pouco tempo sem ‘tomar conta’. É um malabarismo, precisa ter foco para não esquecer que estou trabalhando, mas imagino que seja, para uma mãe, muito melhor do que sair e trabalhar em um escritório”, afirma a designer.

Foto: Reprodução/Shutterstock
Depois da maternidade, Nara ainda tentou voltar a vida ‘normal’ de trabalhar fora de casa. “Ano passado eu cheguei a dar aulas em dois dias na semana e ficava contando os minutos pra voltar. Eu nem imagino como é a vida de alguém que passa 10 horas longe de casa. Trabalhar com tecnologia dá algumas vantagens como o trabalho remoto, e não é preciso encarar trânsito ruim ou ter que se arrumar para sair”, comenta Nara que tem como mais recente projeto (independente) o ‘UX tips for babies’ um guia de como fazer aplicativos e jogos para bebês.

Crescimento constante

De acordo com gerente de RH do Instituto de Desenvolvimento Tecnológico (INDT), o número de mulheres na área de TI vem crescendo de forma discreta, mas constante. “Ainda não temos um grande números de mulheres atuando na área e o crescimento proporcional com o número de homens que ocupam cargos no mercado e na academia ainda é pequena. Mas apesar desse contingente muito menor, um alento é o de salários equiparados, pelo menos em empresas que tenham estruturas salariais implementadas”, disse Vanessa.

Citando a participação maior da mulher nos campos de qualidade e teste de SW (engenharia de softwares), Vanessa acredita que a área ainda oferece mais espaço para acomodar mais especialistas do sexo feminino.

“É importante que as universidades consigam formar um número maior de mulheres para que o mercado de trabalho possa absorver essas profissionais. Tanto nas empresas quanto nas universidades, as mulheres ainda tem muito espaço para ocupar”, conclui a gerente de RH.

Resistência por parte de gestores

Apesar dos avanços, alguns casos de resistência em contratar mulheres ainda podem ser vistos como explica uma selecionadora de RH de um instituto de P&D instalado em Manaus (que não quis ter o nome revelado). “Percebo que alguns gestores demonstram resistência em trabalhar com mulheres. Como exemplo, em uma seleção tivemos dois finalistas (um homem e uma mulher). Após o teste prático (que consistia em programar em C, a introdução para linguagens mais complexas), a moça teve um desempenho melhor e o gestor quis ‘reavaliar’ o teste dela”, disse. 

Para a selecionadora, esse foi um caso latente de discriminação. “O gestor não acreditava que ela havia se saído melhor que o candidato do sexo masculino. A alegação foi de que era difícil encontrar mulheres que trabalhassem com esse tipo de linguagem. Ele estava errado”, fecha a profissional.

Drama no cinema

O filme ‘Estrelas Além do Tempo’ (título original ‘Hidden Figures’) de 2016 trouxe à tona a discussão sobre a participação da mulher em funções consideradas masculinas, principalmente quando ligadas às Ciências Exatas. Na história (real) um grupo de matemáticas negras era segregado em salas escondidas da Nasa (agência espacial americana) e formulava os cálculos que tornaram possível que o primeiro astronauta americano, um homem branco, entrasse em órbita da Terra, em 1962. 

Apesar da importância das chamadas ‘computadores humanos’, as cientistas eram discriminadas e tinham que provar sua competência diariamente. “Estrelas Além do Tempo” foi indicado à vários prêmios em 2016. Levando entre outros, o de Melhor Elenco no National Board of Review, Palm Springs International Film Festival, Satellite Awards e SAG Awards.
 
Poucas vagas para mulheres

Em 2015, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), dos mais de 580 mil profissionais de TI no Brasil, apenas 20% eram mulheres e a pouca representatividade é visível mundo afora. No mesmo ano, o censo realizado nos EUA apontou que esse número era de 25% de mulheres ocupando cargos em TI.
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