Golpes “de amor”: crimes cibernéticos “Romance Scam” e “Sextorsão” crescem no Pará

Com base nos dados obtidos para o estudo, os resultados indicam aumento no número de registros dos dois crimes, de 2018 a 2020.

Se antes era necessário sair de casa para encontrar aquele alguém especial, hoje a tecnologia facilitou esse processo. As pessoas podem encontrar o par romântico do conforto do lar por meio de aplicativos de relacionamento, como Tinder e Grindr, e pelas redes sociais, como Instagram, X e Facebook. Por outro lado, as decepções amorosas não são o único risco dessa jornada. O ambiente digital também facilita a aplicação de golpes e extorsões.

Uma das modalidades criminosas cometidas nesse meio, por exemplo, é o chamado ‘Romance Scam’, em português, Golpe de Romance. Aqui, o criminoso finge estar apaixonado pela vítima para conseguir benefícios financeiros, mediante pedidos de empréstimos ou situações da mesma natureza. Outro crime é a ‘Sextorsão’, quando o criminoso extorque a vítima utilizando conteúdo íntimo dela.

Para entender melhor esses crimes cibernéticos, a delegada de Polícia Civil Fernanda Maués de Souza produziu a dissertação ‘Sextorsão e Romance Scam no Estado do Pará’, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública (PPGSP/IFCH) da Universidade Federal do Pará (UFPA), sob orientação dos professores Marcus Alan de Melo Gomes e Edson Marcos Leal Soares Ramos. 

“A pesquisa tem como objetivo realizar a análise do perfil das vítimas do crime de Sextorsão e Romance Scam no Estado do Pará, no período de 2018 a 2020, buscando identificar o modo de agir dos criminosos”, explica Fernanda Maués.

Foto: StartupStockPhotos/Pixabay

O estudo utilizou dados obtidos junto à Polícia Civil do Pará, nos registros da Diretoria de Combate ao Crime Cibernéticos (DECCC) e da Divisão de Prevenção e Repressão a Crimes Tecnológicos (DPRCT). Para analisar o perfil das vítimas, foram analisadas categorias como faixa etária, estado civil, sexo e profissão.

Casos de Romance Scam e Sextorsão cresceram no período analisado 

Os resultados indicam um aumento no número de registros dos dois crimes, de 2018 a 2020. No caso do Romance Scam, subiu de 5 para 18 ocorrências. Já para a Sextorsão, saiu de nenhum registro oficial para 18 casos. A pesquisadora alerta que ainda assim as medidas de isolamento social durante o ano de 2020, por causa da pandemia da covid-19, podem ter causado uma subnotificação na quantidade de registros criminais.

Em sua maioria, o perfil das vítimas do ‘Romance Scam’ é formado por pessoas do sexo feminino (92,5% das vítimas), com idade entre 40 e 59 anos (57,5%) e solteiras (72,7%). Segundo a pesquisadora, esse é o principal perfil procurado pelo criminoso para aplicar o golpe, uma vez que o foco são pessoas que buscam um romance e que tenham renda disponível. 

“Os golpistas geralmente afirmam estar apaixonados pela vítima desde o início. À medida em que o relacionamento se desenvolve, os golpistas podem pedir pequenos presentes à vítima, como estratégia de teste, sendo que uma vez atendidos, serão solicitadas quantias maiores”, relata a Delegada.

“Os golpistas geralmente afirmam estar apaixonados pela vítima desde o início. À medida em que o relacionamento se desenvolve, os golpistas podem pedir pequenos presentes à vítima, como estratégia de teste, sendo que uma vez atendidos, serão solicitadas quantias maiores”, 

relata a Delegada.

A pesquisa constatou que os golpistas conseguiram êxito na obtenção de vantagem financeira em 60% do total de casos analisados de ‘Romance Scam’. Além disso, a maioria das vítimas alegaram que tiveram prejuízo de até R$10.000 reais. Contudo, a pesquisadora ressalta que esse crime resulta em um “golpe duplo”, pois há a perda de dinheiro e a perda de um relacionamento, sendo que essa segunda pode impactar mais a vítima do que a primeira.

No caso da ‘Sextorsão’, o perfil das vítimas também é majoritariamente composto pelo sexo feminino (95,4%) e por solteiras (72,7%). A divergência entre os dois crimes está na faixa etária do perfil, visto que a maioria das vítimas têm entre 20 e 29 anos (50%). A dissertação ainda destaca que 13,6% das vítimas são menores de idade.

A respeito de como as autoridades policiais lidam com a situação, 81,82% dos registros de ocorrência analisados não viraram inquérito policial. Além disso, a autora destaca uma dificuldade em trabalhar com os dados dos boletins de ocorrência, em razão de haver uma “falta de alimentação dos dados do registro da ocorrência pelo operador, que preenche as informações do sistema de maneira incompleta ou equivoca”, afirma. Fernanda Maués produziu uma cartilha acerca do Romance Scam com orientações contra o crime.

Previna-se contra os golpes

– Privilegie aceitar amizades nas redes sociais com pessoas que possuam amigos em comum com você;
– Nunca transfira valores sob qualquer pretexto;
– Nunca forneça informações de caráter pessoal, cópia de documentos e/ou fotos íntimas na internet;
– Não apague o registro de mensagens.

Já em caso de crime:

– Registre um boletim de ocorrência, levando a maior quantidade de informações, como números de telefone, o aparelho por meio do qual as mensagens foram trocadas, além dos comprovantes de movimentações bancárias, caso tenham sido realizadas;

– Caso tenha realizado transações bancárias, procure seu gerente bancário para informar sobre a situação.

Endereços importantes em Belém:

Diretoria Estadual de Combate à Crimes Cibernéticos: Av. Pedro Miranda, 2288 – Pedreira, Belém – PA;
Delegacia Geral de Polícia Civil: Av. Gov Magalhães Barata, 209 – Nazaré, Belém – PA.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, edição 167, da UFPA, e escrito Bruno Roberto

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