RT aprovada na Câmara sofrerá profundas modificações no Senado

O texto da Reforma Tributária aprovado na Câmara Federal é alvo de ceticismo de analistas quanto à sua integridade, funcionalidade e eficácia.

O texto da Reforma Tributária aprovado na Câmara Federal é alvo de ceticismo de analistas quanto à sua integridade, funcionalidade e eficácia. Inevitavelmente, sofrerá profundas mudanças no Senado. “A animação de economistas que a comparam ao Plano Real não faz sentido algum. Essa reforma lembra muito mais o Plano Cruzado, o Plano Verão ou o Plano Collor. O Plano Real era outra coisa, foi elaborado com consciência e com base na experiência de muitos. Em comum, o texto aprovado tem a mesma arrogância dos planos citados”, disse Everardo Maciel, ex-secretário da Receita Federal. 
O ex-deputado, economista e tributarista Serafim Corrêa, indo direto ao ponto, afirma: “Eu filio-me à corrente que defendia quatro mudanças que poderiam melhorar muito o sistema: a fusão do PIS-COFINS, uma legislação nacional única para o processo administrativo fiscal, uma única para o ICMS e outra para o ISS. O fato é que fomos vencidos”. No que se refere ao Conselho Federativo, considerado uma “geringonça federativa” por especialistas, segundo Corrêa, “na verdade cria estados de primeira classe (Sul e Sudeste) e de segunda (o resto). Não creio que passe no Senado sem ajustes. Norte, nordeste e centro-oeste têm maioria no Congresso”. 
De acordo com o tributarista Átila Benjamin, “embora o pacto federativo estabeleça o equilíbrio tributário entre os poderes federal, estadual e municipal, nunca poderá exceder o que está estabelecido no Código Tributário Nacional e na Constituição Federal de 1988. Infelizmente, a PEC 45, base da RT, foi totalmente travestida por emendas destinadas apenas a favorecer o aumento da arrecadação do governo federal”. 
Senado Federal. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Para o economista Rodemarck Castello Branco, “a reforma é uma das mudanças estruturais inadiáveis para o aumento da produtividade e melhoria do ambiente de negócios no Brasil. É inadmissível que continue operando um manicômio tributário, com centenas de leis, decretos, resoluções e normas passíveis das mais diversas interpretações”. A questão que se impõe: “O texto aprovado na Câmara dos Deputados corresponde às necessidades do país? Entendo ter sido a reforma possível considerando a elevada gama de interesses envolvida e as repercussões em relação ao pacto federativo”, afirma.

Quanto aos impactos da RT sobre a Zona Franca de Manaus, Rodemarck considera ter sido atendida a primeira condição: sua manutenção no texto constitucional com possível garantia das atuais vantagens tributárias. O próximo passo, mais complexo, “consiste na sua inserção na nova estrutura tributária, que exigirá a manutenção do IPI (qualquer que seja a denominação que terá) para os produtos fabricados em Manaus e a acolhida do crédito presumido nos dois tributos de IVA, incidentes no destino, condições sine qua non à preservação das vantagens comparativas consubstanciadas no DL 288/67”.

Alguns óbices, na visão de Castello Branco: Mantidos os créditos presumidos, a que níveis? Como ficarão os incentivos fiscais concedidos pelo Governo do Amazonas numa sistemática em que o tributo ocorre no destino? Quais as reais vantagens dos produtos aqui fabricados? Assegurada a diferenciação tributária gerada pelo IPI, qual o critério a ser obedecido na concessão de incentivos a produtos ainda não fabricados na ZFM? Numa estrutura produtiva com bens de elevada tecnologia e ciclo de vida cada vez mais curto, como evitar que a ZFM seja esvaziada à proporção que esses bens venham a ser substituídos por sucedâneos ainda não ofertados no mercado? Como serão formados e distribuídos os recursos do Fundo exclusivo para o Amazonas? E como será mantida a UEA?

Como se pode inferir, a luta do Amazonas e da ZFM para integrar-se à nova ordem tributária nacional, conservando as vantagens fiscais asseguradas na CF 88 ainda está muito longe de começar. Cabe ao governo do Estado, em articulação com as classes políticas e produtivas, encontrar fórmulas que atendam a esses questionamentos. 

Sobre o autor

Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas (ALCEAR), do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA/INPA) e do Conselho Regional de Economia do Amazonas (CORECON-AM).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Subnutrição severa em crianças Yanomami preocupa pesquisadores

Equipe do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp alerta para riscos da condição em artigo publicado no portal da revista Nature Medicine.
Publicidade

Leia também

Publicidade