Estilista amazonense apresenta raízes indígenas nas passarelas do São Paulo Fashion Week

Maurício Duarte é da etnia Kaixana, natural de Manaus, e se mudou para São Paulo em 2016, após ganhar uma bolsa para estudar moda em uma das maiores faculdades brasileiras do gênero.

O estilista amazonense Maurício Duarte vai levar um pouco das suas raízes indígenas para a passarela da 55ª edição da São Paulo Fashion Week (SPFW), que acontece em maio. Ele é o primeiro indígena amazonense a expor seu trabalho no evento e quer fazer dessa oportunidade um espaço para que outros “parentes” também possam contar as suas histórias, culturas e tradições.

Maurício é da etnia Kaixana, natural de Manaus, e se mudou para São Paulo em 2016, após ganhar uma bolsa para estudar moda em uma das maiores faculdades do gênero, no país. Desde então tem usado seu trabalho para falar do seu lugar de origem.

“Tudo começou nas feiras de artesanato em Manaus, fazendo cursos do Senai e tentando encontrar profissionalmente um caminho para que isso pudesse acontecer”, disse.

Mas a jornada não foi fácil. Após inaugurar seu primeiro ateliê, em 2019, veio a pandemia e, como qualquer artista que vive do próprio trabalho, precisou contar com a ajuda de amigos para continuar em São Paulo e manter vivo o sonho de crescer no mundo da moda. Já em 2022, superada a crise sanitária e com a economia voltando a girar, mudou de ateliê e conseguiu expandir seu trabalho. Foi quando surgiu o convite para participar da edição 54 da Fashion Week.

“Foi a realização de um sonho, afinal, a gente conseguiu chegar lá, provando que nós indígenas merecemos estar em todos os lugares. E nós também lançamos um fashion filme, que contou um pouco mais da coleção e que foi feito por indígenas, por pretos, já que a nossa ideia era falar desse lugar de pertencimento”,

afirmou.

Foto: Reprodução/Nathalie Brasil

O sucesso foi tanto que Maurício foi convidado para voltar ao evento agora em maio, na edição 55 da SPFW. No entanto, para o novo desafio, o estilista quis fazer uma conexão ainda maior com outras etnias, possibilitando que outros “parentes” pudessem mostrar seus trabalhos na passarela.

“Não faz sentido na minha cabeça falar sobre o Amazonas, sobre Manaus, estando em São Paulo, sem me conectar 100% com as pessoas que realmente fazem as coisas, que vivem do artesanato, sabe? Foi então que fui até São Gabriel da Cachoeira fazer conexões com essas pessoas, porque eu quero conseguir reunir um número maior de indígenas de outros povos no nosso desfile”, explicou.

E o fruto dessas conexões de saberes será exibido nos desfiles assinados por Maurício durante a SPFW. Segundo ele, a ideia é transformar peças utilitárias em peças do vestuário.

“As cestarias vão se transformar em saias, por exemplo. E é aí que esses artistas vão poder falar, mostrar seus trabalhos. Não sou eu que vou mostrar o que eles fizeram, quem são, de onde vieram. São eles, através dos seus trabalhos, da sua arte”, afirmou.

Foto: Thomfoxx/Instagram

No entanto, segundo Maurício, existem muitas dificuldades pelo caminho, como a falta de apoio financeiro para que essa visibilidade dada aos “parentes” possa ajudá-los a crescer de forma exponencial: “Os artesãos não tem logística, não tem uma estrutura para desenvolver o produto. Me questiono quantas empresas nós temos no Polo Industrial de Manaus que fomentam projetos como esse?”.

O artista aposta no trabalho desenvolvido para a próxima SPFW como uma forma de fomentar a cadeia produtiva do setor e também de expandir laços com outros “parentes”, além de buscar dar visibilidade à sua própria origem, como sempre fez desde o início.

“É muito importante criar conexões, estar conectado aos indígenas de outras regiões, sabe? Já consegui vestir o Davi Kopenawa, Daiara Tukano, Sâmela Sateré Mawé, Tukumã Pataxó, e são nomes que também, por onde passam, levam a nossa cultura, a nossa história para o Brasil e para o mundo”, explicou.

“Todo mundo que estuda moda, sabe que seja no Brasil, em Milão, Londres ou Paris, a fashion week é um evento que projeta muito a gente, afinal, produzimos para um público, nos conectamos a outras pessoas e criamos um impacto social muito grande, além de fazer a economia circular. Além de contar a nossa história, a nossa origem, é claro, né? E sempre digo que ninguém melhor para falar do nosso lugar de origem que nós mesmos”, 

concluiu.

*Por Matheus Castro, do g1 Amazonas

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