Pesquisa analisa níveis hormonais de macacos da Amazônia

De acordo com os pesquisadores, um dos objetivos do estudo é melhorar o manejo de animais em cativeiro.

Sabia que assim como os seres humanos, os macacos têm níveis hormonais que se alteram de acordo com a idade e fatores externos, como o estresse? O assunto é o tema do projeto de pesquisa ‘Senescência e Níveis de Estresse em Primatas Neotropicais’, coordenado pelos professores Frederico Ozanan, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), campus Belém, e Rafaela Takeshita, da Kent State University, Ohio (EUA). A maior parte das espécies de primatas analisados na pesquisa são os da região amazônica.

“O projeto é sobre senescência e monitoramento do estresse desses indivíduos. O estresse é controlado pelo hormônio cortisol, um dos mais utilizados para avaliar o estresse. Entretanto, pesquisas mais recentes mostraram que o hormônio desidroepiandrosterona (DHEA) e seu éster sulfato (DHEAS), produzido pela mesma glândula, também serve para monitorar esse estresse e os níveis de senescência em primatas”, explica o professor Ozanan.

Foto: Divulgação/Instituto Mamirauá

Os animais escolhidos para estudo são os de cativeiro, pela facilidade de acesso e pelos níveis de estresse que eles passam ao longo da vida. “Se os níveis de estresse se alteram, podemos entender melhor a fisiologia do processo e os seus efeitos na reprodução. Por isso, fazemos com animais de cativeiro, que passam por variadas situações de estresse. O principal foco é o bem estar dos animais, principalmente dos que estão em cativeiro”, explica.

Os níveis de estresse são fatores de grande importância e que podem interferir desde a reprodução dos primatas, até outros fatores de saúde desses animais. 

“Por exemplo uma melhor ambientação, técnicas de contenção diferenciadas, técnicas de captura, tudo isso reflete no bem-estar. O estresse é o grande inimigo do processo de reprodução, o ideal é que os níveis de estresse em cativeiro estejam baixos, para que não haja interferência. Além disso, altera também outros fatores de saúde, tais como o aumento da glicemia e baixa de imunidade a médio e longo prazo, ou seja, o animal adoece com mais facilidade”,

disse.

A senescência reprodutiva é o período em que os macacos têm uma queda da fertilidade. Segundo o professor, assim como acontece com mulheres durante o período da menopausa, nos macacos a fertilidade também vai caindo depois de certa idade. “O período de senescência reprodutiva na mulher, é quando ela deixa de produzir os óvulos, que é a menopausa. Nos primatas alguns podem também passar por esse momento. Eles têm um pico reprodutivo, depois esses índices vão caindo e interfere na fertilidade”, diz.

Um dos objetivos do estudo é melhorar o manejo de animais em cativeiro. Foto: Divulgação/Frederico Ozanan

Espécies amazônicas 

Segundo o professor, existem mais de 100 espécies de primatas na Amazônia, e esses números se alteram devido às constantes descobertas e alterações de classificação. “As espécies de macacos na Amazônia são muitas e algumas ainda estão sendo descobertas, muda taxonomia, às vezes são reclassificados gêneros, aí diminuem números de espécies, ou aumentam, tudo depende dos estudos”, disse. A equipe do projeto pretende analisar esses níveis de senescência especificamente em macacos da região amazônica, conhecidos como primatas do ‘novo mundo’, em várias fases da vida, desde jovens até a idade mais avançada, medindo os níveis hormonais de reprodução e estresse.

“Queremos ver se há uma semelhança nos níveis de senescência entre os primatas do ‘novo mundo’, com os primatas do ‘velho mundo’ (Ásia, Europa, África), que já têm esses níveis mais bem conhecidos. Ou, descobrir se há diferenças entre espécies. Então a pesquisa é para entender realmente os primatas do ‘novo mundo’, porque se tem muito pouca informação”, diz.

Apesar de muita gente pensar que os macacos e seres humanos se parecem, o professor explica que há uma distância entre ambos. “As pessoas dizem que os primatas parecem ser humanos, mas há diferenças significativas. Esse distanciamento se mostra em diferenças nos ciclos reprodutivos. Por exemplo, a menstruação: nem todas as fêmeas primatas do ‘novo mundo’ menstruam. Então os hormônios têm concentrações diferentes, e é isso que a gente tenta entender, contribuir com as informações, para entender os processos fisiológicos dos primatas da Amazônia”, explica o professor.

Além amostras coletadas no Centro Nacional de Primatas (CENP Pará), o estudo também utiliza amostras coletadas em primatas amazônicos dos zoológicos de São Paulo e Curitiba, material que vai ser analisado no Pará. A parceria com a Kent State University (KSU), dos Estados Unidos, é realizada a partir da colaboração da professora Rafaela Takeshita, egressa da Ufra e que tem atuado na coorientação de dois mestrandos do Programa de Pós-graduação em Saúde e produção Animal na Amazônia – PPGSPAA. A professora também está supervisionando a discente Gessiane Pereira da Silva, que está realizando doutorado sanduiche na KSU, com o apoio do projeto Procad Amazônia, apoiado pela CAPES.

Coletas são realizadas em animais do Centro Nacional de Primatas (CENP Pará) e em zoológicos de São Paulo e Curitiba. Foto: Divulgação/Frederico Ozanan

“A pesquisa começou no Japão com o doutorado da Rafaela Takeshita, que foi nossa aluna na graduação em medicina veterinária da UFRA. Entretanto, ela pesquisou os primatas do velho mundo. A partir disso, passamos a estudar os primatas do novo mundo, os da nossa região amazônica. E agora a Gessiane, está fazendo parte do doutorado nos Estados Unidos, continua essa pesquisa na linha das medições hormonais dos primatas. A intenção é que ela volte para cá, e que possa elaborar os próprios kits para medição de hormônios nos primatas, já que os kits prontos importados são muito caros”,

falou o professor.

O projeto tem o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foi contemplado com a bolsa Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e conta também com apoio financeiro internacional da National Science Foundation e Wenner-Gren Foundation, obtidos pela professora Rafaela Takeshita. O professor explica que apesar de já estar avançado, o projeto é apenas uma base para pesquisas mais avançadas.

“Esse é um projeto base, entender a fisiologia dos animais, para depois ir para questões mais complexas como entender como interfere diretamente no sistema nervoso, sistema cerebral, coisas a longo prazo. Vamos começar mesmo entendendo como é o comportamento hormonal, e tudo vai ser guardado em um banco de informações para ser usado posteriormente, nas pesquisas mais avançadas”, finaliza.  

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