Alexandre Rodrigues Ferreira: o primeiro cientista brasileiro

A expedição de Alexandre Rodrigues Ferreira pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá durou quase dez anos. O diário de viagem do naturalista é, ainda hoje, considerado um dos mais importantes inventários sobre a região Amazônica, no século XVII.

Alexandre Rodrigues Ferreira foi um importante naturalista brasileiro, nascido em 1756, em Salvador, Bahia. Foi radicado em Portugal, país em que obteve o título de bacharel e doutor em Filosofia Natural, pela Universidade de Coimbra. O naturalista é conhecido por chefiar a primeira expedição científica no Brasil. 

Foi a partir das relações tecidas na Universidade de Coimbra, em especial pela tutoria do naturalista italiano Domenico Agostino Vandelli, que Rodrigues Ferreira recebeu indicação para realizar a Viagem Filosófica, uma das principais expedições do século XVIII no Brasil.

A nomeação para que o naturalista chefiasse a expedição ocorreu em 1778, pela Rainha D. Maria I. No entanto, a viagem rumo ao Brasil partiu do porto de Lisboa somente no dia primeiro de setembro de 1783, sob intensa atividade preparatória.

Nessa expedição, Rodrigues Ferreira foi acompanhado pelos desenhistas José Joaquim Freire e Joaquim José Codina e o jardineiro botânico Agostinho Joaquim do Cabo. A viagem teve como objetivo empreender investigações sobre territórios que até então eram desconhecidos, do ponto de vista científico e econômico. A partir da expedição, o naturalista percorreu as capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá.

Por onde passava, Alexandre Rodrigues Ferreira fazia registros manuscritos, iconográficos e etnográficos da fauna, flora e dos habitantes locais, a fim de enviar informações à coroa portuguesa. Parte das remessas eram endereçadas ao Real Gabinete da Ajuda em Lisboa.

Registro feito por um dos desenhistas que acompanhavam a Viagem Filosófica. Tambaqui ou Palú. Acervo digital da Biblioteca Digital.

Do ponto de vista histórico, a Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira se insere no período conhecido como século das luzes, marcado pela ascensão do Iluminismo. Durante o século XVIII, os ideais Iluministas ganhavam espaço no campo filosófico, político e econômico, regendo algumas das transformações de pensamento daquela época, principalmente no continente europeu.

Portugal passava por um período de transição, cujas mudanças eram reflexo das reformas do ministro Sebastião José de Carvalho, que ficou conhecido como Marquês de Pombal. Algumas delas buscavam o desenvolvimento econômico e o aumento de lucros com a colônia brasileira.

A expedição chegou em Belém em 31 de outubro de 1783. Após um ano nessa cidade, a expedição seguiu curso para Barcelos. É importante destacar que Barcelos aparece nos relatórios de Alexandre Rodrigues Ferreira como um dos principais polos de recolhimento de amostras. A expedição ficou no local por quase três anos, esperando ordens superiores para que voltasse à Portugal.

Registro do Prospecto da Vila de Barcelos, feito por José Joaquim Freire. Coleção Alexandre Rodrigues Ferreira.

Ao todo, partiram de Barcelos oito remessas enviadas para o Museu de História Natural da Universidade de Coimbra, totalizando cerca de 933 exemplares de diferentes coletas etnográficas, zoológicas e botânicas. Nos dois últimos casos, alguns exemplares eram enviados ainda vivos.
Dentre os materiais enviados pelo naturalista, também se destacam variados objetos, como máscaras, indumentárias, instrumentos musicais e peças cerâmicas produzidas pelos indígenas.

Máscaras de entrecasca dos Jurupixuna, recolhida por Alexandre Rodrigues Ferreira.

A Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira nos rendeu um inestimável conjunto de informações, coletadas ao longo de uma jornada de nove anos de expedição. O naturalista faleceu em 1815, em Lisboa. Seu diário de viagem se mostra um importante legado para a história natural.

A Viagem Filosófica foi a primeira expedição dessa magnitude a percorrer a Amazônia Brasileira. Dos vastos exemplares naturais e etnográficos enviados pelo naturalista a Lisboa, restam apenas os que se encontram no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência e na Academia das Ciências de Lisboa.

Para conhecer mais sobre a Viagem Filosófica e sobre outras expedições pela Amazônia, assista ao vídeo Viajantes da Amazônia entre os séculos XVIII e XIX, da websérie Visualidades Amazônicas:

Sobre as autoras

Lorena Machado é artista e pesquisadora amazonense, possui mestrado em Letras e Artes (Universidade do Estado do Amazonas) e graduação em Artes Visuais (Universidade Federal do Amazonas).

Karen Cordeiro é artista e pesquisadora amazonense, possui mestrado em Letras e Artes (Universidade do Estado do Amazonas) e graduação em Artes Visuais (Universidade Federal do Amazonas). Possui como área de pesquisa a História da Arte no Amazonas.

*O conteúdo é de responsabilidade das colunistas

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