Tecnologia social voltada à saúde e educação de crianças ribeirinhas do Amazonas concorre a prêmio nacional

A fase da vida de 0 a 6 anos, chamada de primeira infância, é de extrema importância para a formação das estruturas física e psíquica de um ser humano. Mais de 70% do cérebro de um adulto comum é desenvolvido nessa época e aspectos como cognição e sociabilidade são todos estruturados nesse estágio. Da gestação até o crescimento, a alimentação, as primeiras palavras, os primeiros passos, novos aprendizados… são vivências essenciais e de consequências à vida toda.

Também é nessa fase que as crianças estão mais suscetíveis a vulnerabilidade como limitações, violências e estresses. A falta de um cuidado adequado à saúde e à educação dos pequenos nesse tempo de vida são irreversíveis.

Se esse zelo é essencial a crianças que vivem num contexto urbano, para aquelas moradoras do interior do Amazonas, como em comunidades ribeirinhas, é ainda mais urgente. Desafios como distância geográfica e escassez de serviços básicos demandam uma abordagem diferenciada com as crianças ribeirinhas.

Foto:Laryssa Gaynett/FAS

Pensando nisso, a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) vêm promovendo desde 2012 o Programa Primeira Infância Ribeirinha (PIR), com objetivo de levar assistência integral a crianças amazonenses na faixa etária de 0 a 6 anos de idade residentes de comunidades situadas em Unidades de Conservação. Hoje, a iniciativa atinge mais de 1,6 mil crianças de 1.129 famílias, sendo esse um dado parcial de 2019, nos perímetros dos municípios de Maraã, Novo Aripuanã, Itapiranga, Tefé e Uarini.

Dentro do programa, agentes comunitários que prestam atendimento em saúde e educação a esse público são capacitados para fazer um acompanhamento integral às crianças de 0 a 6 anos, tendo como apoio uma metodologia própria inspirada em políticas do Ministério da Saúde relacionadas à primeira infância.

Além disso, no programa também é usado um aplicativo mobile, desenvolvido pela Samsung e pelo Instituto de Tecnologia do Norte (ITN), que reúne, num só lugar, todo o conteúdo necessário ao atendimento à primeira infância, desde um guia de visitação domiciliar até informativos e metodologias corretas sobre educação e saúde.

A gestação do bebê, o apoio às mães, o nascimento da criança, a amamentação, cuidados com água e higiene pessoal, dicas para evitar acidentes domésticos, prevenção a doenças, relacionamento familiar, desenvolvimento da fala e da cognição estão contemplados no aplicativo.

“Os agentes comunitários são os olhos da saúde nessas comunidades, atuam em campanhas de vacinação, estão dentro da casa das pessoas lidando com a saúde delas. Porém, infelizmente, a saúde na primeira infância não recebe a devida importância”, explicou a analista técnica do programa, a nutricionista Franci Lima. “Nosso objetivo é formar os agentes comunitários de saúde para dar um melhor atendimento desde a suspeita da gravidez até os 6 anos, fortalecendo o vínculo entre os pais e a criança, que muitas vezes é deixado de lado”.

Foto:Laryssa Gaynett/FAS

Reconhecimento nacional

Tal metodologia usada no Programa Primeira Infância Ribeirinha foi reconhecida recentemente pela Fundação Banco do Brasil (FBB) como uma tecnologia social transformadora. O programa ganhou um selo e também foi selecionado como um dos três finalistas do Prêmio FBB de Tecnologia Social 2019 na categoria Primeira Infância, concorrendo com outras duas iniciativas desenvolvidas no país com foco na população de 0 a 6 anos, o Programa Municipal de Aleitamento Materno PRÓ-MAMÁ, da Prefeitura Municipal de Osório, no Rio Grande do Sul, e o Visitação Domiciliar na Primeira Infância, da Secretaria da Saúde de Porto Alegre, também no Rio Grande do Sul.

O anúncio do vencedor do prêmio acontece na próxima quarta-feira (16), na sede da FBB em Brasília. O primeiro lugar leva R$ 50 mil, o segundo R$ 30 mil e o terceiro R$ 20 mil. “Essa certificação e a indicação ao prêmio prova o quanto a metodologia da FAS impacta positivamente nos locais onde nós atuamos, levando melhoria na organização do sistema de saúde local e na sistematização das visitas domiciliares em saúde, com os agentes atuando de forma preventiva”, disse Franci Lima. “Fazemos tudo com muito esforço e dedicação, com apoio dos agentes, das prefeituras municipais e, claro, das famílias”.

Ao todo, crianças de mais de 8oo famílias são beneficiadas pelo Primeira Infância Ribeirinha, e cerca de 80 agentes comunitários foram capacitados desde então. “Investir em crianças é investir no futuro da Amazônia. O PIR é fundamental para levar educação e saúde na fase mais crítica da vida das pessoas, que é o período de 0 a 6 anos, onde toda a capacidade de raciocínio e inteligência cognitiva é formada. Serão essas crianças que no futuro estarão tomando decisões fundamentais para o futuro da Amazônia”, ressaltou o superintendente-geral da FAS, Virgílio Viana. “O reconhecimento pela FBB só reforça a importância de desenvolver soluções inovadoras como essa para o desenvolvimento sustentável da região”.

Foto:Laryssa Gaynett/FAS

Sobre o prêmio

Realizado a cada dois anos desde 2001, o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social tem o objetivo de identificar, certificar, premiar e difundir tecnologias sociais já aplicadas e que proponham soluções de problemas relativos à educação, saúde, meio ambiente, energia, habitação, recursos hídricos e renda em todo o país. Podem participar instituições de direito público ou privado sem fins lucrativos.

Em nove edições, mais de 7 mil iniciativas se inscreveram e mais de R$ 4,1 milhões foram concedidos em prêmios aos vencedores para aprimoramento das tecnologias sociais. As iniciativas inscritas, além de já serem reconhecidas como tecnologias sociais pela FBB, passam a fazer parte de um banco de dados composta por 1110 instituições. Neste ano 24 tecnologias sociais concorrem ao prêmio em oito categorias: inovação digital, educação, geração de renda, meio ambiente, gestão comunitária, mulheres na agroecologia, primeira infância e categoria internacional.

Sobre a FAS

A Fundação Amazonas Sustentável (FAS) é uma organização brasileira sem fins lucrativos e sem vínculos político-partidários que tem por missão fazer a floresta valer mais em pé do que derrubada, promovendo ações de desenvolvimento sustentável e de melhoria de qualidade de vida dos povos que vivem na floresta. Por meio de programas e projetos, a FAS impacta a vida de cerca de 40 mil pessoas em 16 Unidades de Conservação do Estado, em cooperação com a Sema e apoio do Fundo Amazônia/BNDES, Samsung, Bradesco e Coca-Cola Brasil.

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