A nota técnica é assinada pela Coordenação Geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do ministério. Segundo as coordenadoras do setor, a melhor forma de cuidar dos recém-nascidos é o chamado método canguru, adotado desde 2000 no país, e que prevê o contato direto, pele a pele, entre bebês e familiares.
Os bonecos de crochê são feitos em fios 100% algodão, com oito tentáculos de 22 centímetros – muitas vezes, os bichinhos são maiores que as próprias crianças. Antes de serem colocados nas incubadoras, os objetos precisam ser esterilizados para evitar infecções. Em geral, os bebês podem levar os bichos para casa quando recebem alta médica.
Virou febre
Os polvos de crochê surgiram em um hospital universitário da Dinamarca, em 2013, e ficaram conhecidos como ‘projeto Octo’. No Brasil, uma das primeiras unidades a adotar o método foi o Hospital Regional de Santa Maria, no Distrito Federal. Lá, os bonecos começaram a ser usados no fim de março.
O neonatologista Marc Ruberto, do mesmo hospital, diz que o polvo também gera alívio para as mães, conforme os sinais de melhora vão aparecendo nas crianças. “São bebês que ainda precisam de ventilação mecânica, uso de medicamentos e ainda estão em estado grave. Mesmo que ainda sejam muito pequenos, eles fazem a interação com o polvo”, afirma.
O projeto virou febre em todo o país, e foi abraçado por grupos de voluntários que se reúnem para confeccionar os pequenos polvos. Nos últimos meses, a ação foi replicada em hospitais de São Paulo, do Paraná, de Santa Catarina e Minas Gerais.
Polvo ou canguru?
O governo federal classifica os polvos do projeto Octo como um “brinquedo”, e nega que a semelhança dos tentáculos com o cordão umbilical seja suficiente para despertar algum conforto extra ao bebê. Segundo a nota técnica, qualquer brinquedo do tipo – “girafas, sapos, ursos, bonecos, carros” – geraria o mesmo benefício, “desde que respeitadas as normas e protocolos de controle de infecção hospitalar de cada unidade”.
Ainda de acordo com o documento, “as evidências mostram que o cordão umbilical, a placenta e as paredes uterinas oferecem outros estímulos e sensações (cheiros, sons, texturas, umidade e o pulsar)”. Na prática, o texto diz que o recém-nascido não se engana, e consegue perceber que o polvo não tem relação com o cordão umbilical da mãe.
Em contrapartida, o Ministério da Saúde classifica o método canguru como um “modelo de assistência integral”, que começa na gravidez de risco e segue até o recém-nascido alcançar 2,5 kg. “Dessa forma, o acompanhamento contempla todo o pré-natal, internação materna, parto e nascimento, internação do recém-nascido e retorno para casa. Envolve cuidado humanizado, valorizando, principalmente, o contato pele a pele entre bebê e seus pais, controle ambiental, redução da dor, cuidado com a família e todo suporte necessário com equipe multiprofissional na área de saúde”, diz a pasta.
Entre as vantagens oferecidas pelo método canguru – e comprovadas cientificamente, de acordo com o Ministério da Saúde – estão o favorecimento do vínculo pai-mãe-bebê-família, estímulos sensoriais positivos, melhora no desenvolvimento do bebê, estímulo ao aleitamento materno e redução no risco de infecção hospitalar.