Frutas e verduras do Mercado Municipal Adolpho Lisboa , em Manaus, que iriam parar no lixo serão transformadas em comida e servidas ao som de boa música. Assim será a Disco Xepa, uma mistura de gastronomia, arte e música, que o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), por meio do Laboratório de Nutrição, participará a partir das 8h, deste sábado (29). Promovido pelo movimento Slow Food, o evento mundial tem o objetivo de chamar a atenção para o desperdício alimentar.
“Queremos dar ênfase e conscientizar as pessoas de que esses alimentos que são descartados podem ser úteis e consumidos, por oferecerem valor nutricional, qualidade e segurança”, diz a pesquisadora do Inpa, a nutricionista Dionísia Nagahama, adepta do Slow Food. O movimento internacional defende uma alimentação boa, limpa e justa, o que significa comida saborosa, sem substâncias que prejudiquem a saúde ou o meio ambiente, e que o produtor receba valor justo pelo seu trabalho.
A Disco Xepa é uma ação da rede jovem do movimento Slow Food no Brasil e reunirá, no Mercado Municipal Adopho Lisboa, jovens, estudantes, idosos, chefes de cozinha e simpatizantes pela causa do não desperdício de alimentos ou do aproveitamento daqueles alimentos que seriam jogados no lixo.
Mais de 100 Disco Xepa simultâneas em 39 países estão programadas até o momento. No Brasil, serão em torno de 20. Os organizadores querem fazer a diferença para dar visibilidade à necessidade de assumir o desperdício de alimentos como um grande problema mundial.
Um terço dos alimentos destinados ao consumo humano no mundo (1,3 bilhão de toneladas) é jogado fora ou desperdiçado todos os anos. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), menos de um quarto deste alimento jogado fora seria suficiente para acabar com a fome mundial, que afeta cerca de 800 milhões de seres humanos.
Nagahama explica que o Laboratório de Alimentos e Nutrição do Inpa também trabalha dentro da filosofia do aproveitamento integral dos alimentos, da conscientização do não desperdício, da educação alimentar e nutricional e do resgate da tradição culinária regional. “O evento é uma oportunidade de mostrar que é possível ter uma alimentação saborosa, segura e saudável, mesmo com aquelas folhas e frutos deformados, fora do padrão estético e que as pessoas rejeitam”, diz.
Além da equipe do Laboratório de Alimentos e Nutrição, participarão da Disco Xepa bolsistas e ex-alunos dos cursos de pós-graduação de Botânica, Ciências em Florestas Tropicais e de Agricultura no Trópico Úmido do Inpa, professores e acadêmicos de gastronomia e nutrição de diversas faculdades de Manaus e parceiros como o Senac, o Sesc Mesa Brasil e As Clarissas. “Qualquer pessoa simpatizante e engajada com o não desperdício de alimentos pode participar, pois a ação não é a distribuição de refeição, mas sim a conscientização para o não desperdício e o despertar para a criatividade”, explica a pesquisadora.
O que é uma Disco Xepa?
Segundo uma das participantes do movimento Slow Food em Manaus, Helenkassia Araújo, a Disco Xepa é uma ação contra o desperdício alimentar em que voluntários são convidados a coletar, higienizar, cortar e cozinhar a xepa, ou seja, utilizar todo alimento que iria para o descarte por não se enquadrar no padrão de estética comercial. Segundo Araújo, todas as preparações serão distribuídas gratuitamente.
É também uma ferramenta de transformação que reúne diversos saberes para a educação e conscientização da sociedade. “Além dos cozinheiros voluntários, o evento promete agenda cultural com apresentações musicais e discotecagem”, conta Araújo.
As coletas são feitas desde quarta-feira (26), nas feiras itinerantes da Ferreira Pena e Apurinã, da Banana e no próprio Mercadão. Até o momento, os integrantes já conseguiram coletar uva, banana, mamão, laranja, cebola, macaxeira.
Desperdício
Em Manaus, segundo dados da Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp), mais de 90 toneladas de alimentos de 40 feiras da cidade são jogadas no lixo todos os dias. A campeã do desperdício é a Feira da Banana, no centro da cidade, onde são descartadas 8,6 toneladas por dia, aproximadamente 258 toneladas por mês, mais de 3 mil toneladas por ano de bananas, melancias, laranjas, que poderiam servir de alimento para outras pessoas.
Também constam no ranking das campeãs do desperdício a Feira da Panair (bairro do Educandos) seguida da Feira da Manaus Moderna, no centro da cidade.