Pesquisa analisou relação entre casos confirmados de dengue, zika e chikungunya e pontos de descarte irregular de lixo em bairros da capital maranhense de 2015 a 2019.
O cenário atual de epidemia da dengue, a arbovirose de maior ocorrência no país, tem relação com problemas da urbanização das cidades. Bairros de periferia de São Luís, no Maranhão, com pontos de descarte irregular de lixo tiveram mais casos de dengue, zika e chikungunya de 2015 a 2019, segundo revela estudo inédito de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) publicado na sexta (3) na ‘Revista Brasileira de Epidemiologia’.
O trabalho coletou dados dos 40.353 casos confirmados dessas doenças na cidade de São Luís em um período de cinco anos (2015-2019), confrontando-os com o Índice de Desenvolvimento Social (IDS) e com dados de 600 pontos de descarte irregular de lixo localizados em bairros da capital maranhense. Os pesquisadores calcularam o coeficiente de detecção de arboviroses, que é a relação entre o número de casos destas doenças e a população de determinada região.
Segundo a análise, o aumento de uma unidade de descarte irregular de lixo, em 2015, fez o coeficiente de detecção crescer 1,25 por 100 mil habitantes. Além de terem concentração desses pontos, os bairros da capital maranhense com mais casos destas doenças têm como características a alta densidade populacional e a urbanização não planejada. O IDS, por outro lado, não foi estatisticamente associado a esse coeficiente.
O depósito de lixo de forma irregular fornece uma grande quantidade de recipientes potenciais para a reprodução dos mosquitos Aedes aegypti, o que aumenta a população de vetores de doenças como dengue, zika e chikungunya. “Este é um problema significativo em muitas áreas urbanas e está intimamente relacionado à proliferação dos vetores das arboviroses”, explica a pesquisadora da Fiocruz Emile Amorim Pereira, principal autora do estudo.
Em 2008, o Maranhão ocupava o terceiro lugar dos estados com pior destinação de resíduos, com 96% do lixo depositado a céu aberto, segundo Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do IBGE. Segundo Censo de 2022, ele é o estado com a menor taxa de coleta direta de lixo, com 53,5% da população usando esse serviço.
Segundo Pereira, o combate à dengue e outras doenças transmitidas pelo Aedes passa por resolver o problema do descarte irregular de lixo nas cidades. “São necessárias políticas de gestão de resíduos mais eficazes e campanhas de conscientização pública sobre a importância do descarte adequado de lixo”, pontua. Além disso, ela cita a demanda por fiscalização e punição para pessoas que descartam lixo de forma ilegal e programas de limpeza urbana para remover resíduos acumulados em áreas propensas à reprodução de mosquitos.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Bori