Após mordidas de morcegos, AM investiga possíveis casos de raiva humana

Uma amazonense de 10 anos com um quadro de encefalite viral, e com suspeita de ter contraído raiva humana, será submetida ao tratamento experimental para raiva humana, conhecido como protocolo de “Milwaukee“, ou “Protocolo de Recife“. De acordo com reportagem publicada pelo G1 Amazonas, a autorização foi dada pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira (21). A paciente, que é da comunidade de Tapira, no Rio Unini, no município de Barcelos, no interior do Amazonas, está internada desde a última sexta-feira (17) na Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), em Manaus.

“É um protocolo de procedimentos com uso de antivirais para tratar paciente com encefalite provocada pelo vírus da raiva. Não temos ainda a confirmação via exames, mas não precisamos disso para aplicar o tratamento. Mesmo não sendo confirmada a raiva, aguarda-se ação dos medicamentos por se tratarem de antivirais”, explicou ao G1 o infectologista da FMT-HVD, Antonio Magela, que acompanha o caso.

Magela destaca que o tratamento, feito com dois antivirais, a biopterina e a amantadina, foi responsável pelos três únicos casos de cura para raiva humana registrados pela literatura médica: o primeiro de uma norte-americana; o segundo de um adolescente de Recife, que contraiu raiva após ser mordido por morcego, e um terceiro caso de cura na Colômbia. De acordo com o Ministério da Saúde, os medicamentos foram enviados a Manaus na última terça-feira (21) e devem chegar nesta quarta (22).

Outros casos

Na última quinta-feira (16), um adolescente de 17 anos da mesma comunidade morreu no Pronto-Socorro 28 de Agosto, em Manaus, vítima de encefalite viral. O caso será investigado pela FMT como suspeita de raiva humana. Outro paciente da localidade, que também está internado em Manaus, já teve a suspeita de encefalite viral descartado por exames de liquor.

A hipótese é que os pacientes tenham contraído raiva humana, com base em registros de mordidas de morcego e evolução dos sintomas. Outras hipóteses como infecção por arbovírus, comuns em área de floresta, no entanto, não são descartadas.

A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) enviou, no domingo (19), uma equipe de vigilância ambiental da chegou à comunidade para fazer diagnóstico situacional na área e ações de prevenção. Já na terça-feira, uma segunda equipe, que conta com um biólogo e um médico veterinário, ambos com experiência na prevenção e controle de eventos que envolvem morcegos, além de dois profissionais de enfermagem oriundos da Secretaria Municipal de Saúde de Novo Airão, chegou à localidade. O objetivo é evitar que o vírus se espalhe, com o deslocamento dos comunitários de outras localidades em busca de atendimento em Tapira.

“A nossa primeira equipe solicitou que fossem enviadas mais 500 doses de vacina para tratamento antirrábico humano para Barcelos e 250 doses para Novo Airão, além de 60 doses de soro antirrábico para Barcelos”, informou ao G1 a diretora presidente da FVS-AM em exercício, Rosemary Costa Pinto.

Além disso, técnicos da FVS-AM realizam a coleta de espécimes de morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue), bem como a aplicação da pasta vampiricida, usada para o controle da população desses animais e busca ativa de outros casos suspeitos em humanos, além da intensificação da vacinação de cães e gatos.

“A comunicação com a nossa equipe é precária, por conta da comunidade ser localizada em uma área remota. As primeiras informações são de que havia vários comunitários agredidos por morcegos, e para estes casos, é recomendável sorovacinação antirrábica profilática em até 48 horas após a agressão”, salienta.

Até o momento, não foram encontrados novos casos de pessoas sintomáticas com encefalite viral na comunidade.

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