Amazonas lidera incidência do câncer de colo de útero no país

No mês da Conscientização do Câncer de Colo Uterino, especialistas alertam que o Amazonas é hoje o Estado com a maior incidência da doença. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são 37 casos a cada 100 mil mulheres, estando Manaus à frente, com 53 diagnósticos positivos para cada 100 mulheres.

“Infecção pelo vírus Papilomavírus Humano (HPV), geralmente relacionada a comportamento sexual de risco – inúmeros parceiros, contato sexual sem preservativo e de ínicio em idade precoce são alguns dos principais fatores que contribuem para esses números alarmantes”, alerta o cirurgião oncológico Jeancarllo Silva.

Foto: Reprodução/Shutterstock
O médico destaca que o câncer de colo útero é totalmente prevenível, mas o Amazonas necessita de medidas mais agressivas para o rastreamento da doença, já que as diretrizes nacionais e internacionais recomendam que o exame de Papanicolaou, uma arma poderosa na descoberta das lesões cancerosas e pré-cancerosas do colo uterino, seja feito apenas a partir dos 21 anos de idade, com intervalo de 01 ano, aumentando esse intervalo para 03 anos no caso de dois exames normais consecutivos.

Na opinião do oncologista, essa realidade não se aplica ao Amazonas, quando frequentemente os médicos encontram mulheres de 35 anos com câncer de colo uterino e que nunca fizeram um exame de prevenção. Por isso, Jeancarllo afirma que defende que a coleta seja feita precocemente, logo após o início da vida sexual.

“As campanhas de prevenção e ação sobre o câncer de colo uterino precisam ser contínuas e não pontuadas em uma época ou mês específico, pois devem agir constantemente, uma vez que são baseadas na sexualidade de meninas que frequentemente iniciam sua vida sexual aos 12 ou 13 anos. Como conversar em uma consulta médica com uma menina de 12 anos sem os pais? Como realizar o preventivo dessas meninas aos 15 anos, se a maioria dos pais não sabe que elas já possuem vida sexual? Esses são algumas das dificuldades encontradas para a abordagem desse tema tão controverso”, apontou o especialista.

Os sintomas são silenciosos e, por isso, a doença costuma ser diagnosticada em fases mais avançadas, quando começam a surgir sangramentos vaginais e dores pélvicas. “Por isso, com a realização de exames preventivos do colo uterino anualmente, após o início da vida sexual, é mais fácil conseguirmos diagnosticar o câncer em fase inicial e com grande chance de cura”, apontou o cirurgião.

Além do exame de Papanicolaou, é possível evitar a doença através do uso de preservativos durante a relação sexual e a vacinação contra o HPV, que desde 2014 faz parte do Calendário Nacional de Imunização em adolescentes do sexo feminino com 9 a 13 anos, conforme orientação da Organização Mundial da Saúde. E, neste ano, foi ampliada para o sexo masculino com idade de 12 a 13 anos. A vacina consiste em duas doses, sendo necessária a aplicação da segunda no sexto mês após a primeira. A imunização é gratuita e está disponível no SUS.
A oncologista clínica Gilmara Resende explica que a faixa etária escolhida para a vacina visa garantir maior proteção, já que nessa idade as adolescentes ainda não iniciaram a vida sexual, e, por isso, não estiveram expostas ao vírus. “A vacina tem eficácia comprovada na prevenção de 70% dos cânceres de colo de útero, 87% dos tumores de ânus e 90% das verrugas genitais”, informou a médica.

Ela revela que há mais de 100 subtipos de HPV, sendo que 12 tipos do vírus podem ser considerados cancerígenos. Entre eles, os mais perigosos são os de tipo 16 e 18, que costumam aparecer em cerca de 70% dos casos de câncer de colo do útero. 

“E a conscientização a respeito do HPV tem que ir além, já que esse vírus também é responsável pelo surgimento de tumores em outros órgãos, como no pênis, ânus e na orofaringe”, disse a dra. Gilmara, que assim como o médico Jeancarllo, faz parte de equipe multidisciplinar de especialistas em cancerologia, voltada ao atendimento individualizado desses pacientes em Manaus.
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