Espaço para venda de artesanato de indígenas venezuelanos é inaugurado em Boa Vista

Recursos obtidos com a venda serão revertidos para a população indígena abrigada pela Operação Acolhida em Roraima

Será inaugurado, nesta sexta-feira (30), um espaço exclusivo para a comercialização do artesanato ancestral feito por mulheres indígenas venezuelanas refugiadas no Brasil. A partir das 16h, começa a funcionar o Espaço de Artesanato Warao e E’ñepaa, no Centro de Artesanato de Boa Vista, capital do Estado de Roraima.

Este espaço é resultado de uma parceria entre a Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI) e o Sindicato de Artesãos de Roraima, e conta com o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

No local, as mulheres indígenas destas duas etnias poderão comercializar seus artesanatos. As artesãs vivem nos abrigos temporários Pintolândia (Boa Vista) e Janakoida (Pacaraima), que fazem parte da Operação Acolhida – resposta do governo federal ao fluxo de pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela para o Brasil.

Foto: Divulgação/Fraternidade Humanitária (FFHI)

A abertura deste espaço é resultado da busca por alternativas de geração de renda para a população indígena venezuelana que vive nos abrigos temporários geridos pela FFHI, em parceria com o ACNUR.

Por meio do seu setor de Meios de Vida, a FFHI busca dar autonomia social e econômica às pessoas refugiadas que estão nos abrigos geridos por esta organização humanitária. Atualmente, cerca de 800 pessoas refugiadas e migrantes indígenas da Venezuela estão acolhidas nos abrigos Pintolândia e Janokoida.

De acordo com recente relatório do ACNUR sobre atividades para populações indígenas venezuelanas, mais de 5 mil indígenas do país vizinho (das etnias Warao, Eñepá, Pemon, Kariña e Wayûu) procuraram proteção e assistência em terras brasileiras. Destes, 3.224 são solicitantes do reconhecimento da condição de refugiado, e 100 deles já tiveram suas solicitações confirmadas pelo governo do Brasil.

A FFHI busca intensificar a resposta humanitária por meio de soluções que tragam novas perspectivas para que as pessoas refugiadas possam reconstruir suas vidas.

O êxodo de venezuelanos por causa da crise política, econômica e social no país é um dos maiores movimentos de deslocamento forçado das Américas. Segundo estimativas da ONU, cerca de 5,5 milhões de venezuelanos já deixaram seu país em busca de proteção e assistência.

No Brasil, estima-se que cerca de 500 mil venezuelanos já chegaram ao país, sendo que aproximadamente metade permanece no país. Mais de 46 mil venezuelanos já foram reconhecidos como refugiadas e refugiados no país, configurando a maior população com este perfil na América Latina. 

Foto: Divulgação/Fraternidade Humanitária (FFHI)

Importância do artesanato – Por meio do artesanato, os povos indígenas das etnias Warao e E’ñepa expressam sua cultura, sua identidade e sua ligação com os elementos da natureza.

O trabalho com artesanato nos abrigos temporários para indígenas da Operação Acolhida contribui para gerar renda às artesãs, sendo desenvolvido com o objetivo principal de manter viva a cultura e a expressão da identidade deste povos, que por diversos motivos tiveram que abandonar seus locais de origem e hoje vivem em contextos muito diferentes de suas formas de vidas tradicionais.

Ojidu, a Árvore da Vida Warao – Toda a vida e sustento do povo Warao está interligada à arvore do Buriti, com a qual produzem alimentos, artesanatos, vestimentas e casas.

“Nós consideramos a árvore do buriti como a mata da nossa terra, árvore sagrada, desde os nossos ancestrais. É parte da vida dos indígenas Warao, porque dela saem muitos alimentos e a fibra do buriti, com a qual fazemos o artesanato”, conta a indígena e artesã Ensismar, moradora do abrigo Pintolândia.

Essa profunda relação é explicada em sua mitologia. “Há muito tempo, os Warao conheceram um homem que chamava Ojidu. Ele dava aos Warao tudo o que precisavam: redes, frutos, farinha. Tudo o que os Warao necessitavam, ele conseguia. Um dia, um homem muito invejoso o matou, e ele se tornou uma árvore de buriti (Ojidu), nossa árvore da vida. Ela nos dá tudo o que precisamos”, explica a artesã.

E’ñepa, gente indígena – Com afinco e zelo, os indígenas da etnia E’ñepa manuseiam sementes na confecção de e miçangas, colares e pulseiras, talham grafismos e pintam as madeiras tratadas que dão origem a arcos e flechas decorativos.

Por estarem em menor número dentro dos abrigos, são mais tímidos e silenciosos, e buscam manter suas tradições e essência: das roupas coloridas às festividades. 

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Amazônia onde a violência campeia sem controle

Conflitos gerados por invasões de terras configuram hoje o principal eixo estruturante da violência na Amazônia Legal, segundo conclui o estudo Cartografia das Violências na Amazônia.

Leia também

Publicidade