Relembre algumas lendas urbanas da capital rondoniense

“Porto do Velho”, “Matinta Perera” e “Mulher-Árvore” são algumas das principais lendas passadas de geração em geração que ajudam a contar a história da cidade e compõem a cultura portovelhense.

Lenda ‘Porto do Velho’

Duas teorias tentam explicar a história do nome da cidade ‘Porto Velho’. A primeira é muito conhecida pelos moradores e é repetida há muitos anos na cidade: a lenda do Porto do Velho.

O autor Antônio Cândido da Silva, na década de 1960, escreveu o livro Enganos da Nossa História, onde contou a lenda de um velho lenhador chamado Pimentel, que trabalhava em um porto no rio Madeira, cortando lenha para navios à vapor na época do ciclo da borracha, final do século XIX. Quem chegava à região, a chamava de Porto do velho Pimentel, que com passar do tempo, teria se tornado o nome Porto Velho.

Apesar da história ser bastante conhecida na capital, não há comprovação sobre a existência de Pimentel, e por isso, a narrativa ficou conhecida como uma lenda. Conforme a historiadora Rita Vieira, o motivo “oficial” para o nome do município se deu em meados da Guerra do Paraguai, entre 1864 a 1870.

A guerra envolveu parte do estado do Mato Grosso e por isso, o governo brasileiro construiu um porto para militares que participaram do conflito na região onde, atualmente, é localizada a capital rondoniense. Depois que a guerra acabou e o Brasil foi vitorioso, o porto e o município ficaram abandonados. 

Pátio da Estrada de Ferro Madeira Mamoré em 1910 — Foto: Luiz Brito/Divulgação

Foi então que, por volta de 1907 e 1912, a Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM) começou a ser construída pela empresa de Percival Farquhar, às margens do Rio Madeira. Os trabalhadores chamavam a região de Porto velho dos militares, por causa do porto abandonado pelos militares da Guerra do Paraguai.

A partir disso, quando houve a criação da cidade, em 2 de outubro de 1914, o nome escolhido foi Porto Velho, porque fazia referência ao porto abandonado. 

Lendas ‘Matinta Perera’ e ‘Mulher-Cobra’

A construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré é envolvida por muitas histórias de assombrações, como as das aparições de Matinta Perera e da Mulher-Cobra. Segundo às pesquisas de História e Estudos Literários das doutoras Mara Genecy Centeno Nogueira e Maria Gomes Sampaio, da Universidade Federal de Rondônia (Unir), para entender as origens dessas personagens.

A primeira é uma personagem do folclore nortista conhecida por ser uma velha bruxa que durante a noite se transforma em um pássaro agourento. Conforme a lenda, quem ouve o seu assobio deve lhe ofertar fumo e café, caso contrário, ou a própria pessoa ou alguém da sua família deve morrer. 

A lenda conhecida em Porto Velho remete aos relatos de um guarda da ferrovia que teve um encontro com Matinta e ainda presenciou a aparição de uma mulher com uma cauda de cobra, na noite em que sua esposa faleceu.

Canteiro de obras da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, em 1910, no momento em que trabalhadores montavam uma locomotiva — Foto: Luiz Brito/Divulgação

Segundo a história, o guarda chamado João, ouviu os assobios de Matinta Perera à beira do rio Madeira, acompanhados de urros e choros, em uma noite de trabalho.

Na condição de vigilante, João foi seguindo o barulho para verificar se havia algum animal machucado ou se eram gritos de uma pessoa, mas quando chegou ao local, o guarda viu algo sobrenatural: uma mulher suja de terra saiu de uma cova perto da margem do rio, onde se formava um banzeiro. Em meio às ondas, surgiu uma enorme serpente, que como um liquidificador, misturou-se a mulher e tornou-se uma Mulher-Cobra.

Segundo a lenda, Matinta e a Mulher-Cobra percorriam juntas ruas e avenidas da cidade, frequentavam terreiros e levavam terror e medo para quem via as assombrações e ouvia os assobios.

Lenda ‘Mulher-Árvore’

Outra história que envolve a construção da EFMM é a da Mulher-Árvore. Segundo a lenda, uma mulher que foi amante de um engenheiro da ferrovia e que não gostava de viver em Porto Velho, tirou a própria vida no espaço ferroviário após profunda tristeza e foi enterrada no Cemitério da Candelária.

Como castigo pelo pecado, o seu túmulo foi destruído por uma frondosa castanheira que, em noite de lua cheia, se misturava ao cadáver e se transformava na Mulher-Árvore. 

Cemitério da Candelária, início do século XX — Foto: Dana Merril

Os relatos dos trabalhadores da época afirmavam que em toda noite de lua cheia, a mulher retirava suas raízes e caminhava para fora do cemitério, seguindo o caminho dos trilhos. Por onde passava, era possível ouvir choro e desespero da assombração, que deixava rastro de destruição causado pela ventania da floresta.

Dizem que o primeiro a visualizar a mulher foi um vigia da ferrovia. Outros testemunharam tê-la visto andando pelos trilhos, voltando para o cemitério. E muitos atestavam que a qualquer momento ela voltaria a aparecer, principalmente para crianças que não gostavam de dormir cedo, de não fazer os deveres de casa e eram desrespeitosas com os mais velhos.

O artigo “Cruz Credo! Lendo a cidade de Porto Velho por meio de narrativa de assombração“, publicado na revista Humanidades e Inovação, explica que a lenda da Mulher-Árvore faz referência à loucura e a tristeza que tomaram conta de homens e mulheres imigrantes que vieram trabalhar na ferrovia e que não conseguiram se adaptar a vida em Porto Velho, a ponto de desaparecerem na floresta e nos rios na tentativa de voltarem para a terra natal. 

Lenda ‘Diabo do Papo de Esquina’

Uma das lendas mais “atuais” da capital rondoniense, é a da aparição de um demônio em uma casa de shows, na zona Sul de Porto Velho. Segundo os boatos, a história aconteceu em julho de 2011 e teve muita repercussão de portovelhenses que confirmavam ter testemunhado a aparição.

Através das redes sociais e, principalmente, no boca a boca, os relatos contam que no meio da noite, no auge da festa, um homem bem vestido com chapéu e terno brancos chamou uma moça para dançar. A noite estava muito quente, e durante a dança, o chapéu e as roupas do homem começaram a derreter, deixando amostra um par de chifres e um rabo.

Segundo a lenda, quando o homem percebeu que todos os presentes da festa viram quem ele realmente era, o indivíduo sobrenatural se escondeu no banheiro. O boato diz que o tal demônio teria desaparecido, deixando para trás somente as roupas e o chapéu.

Algumas pessoas ainda afirmam que a moça com quem o demônio dançou, desmaiou após ver os chifres e até foi levada ao Hospital João Paulo II, embora não exista nenhum registro oficial que comprove o fato.

*Estagiária do g1 Rondônia, sob supervisão de Ana Kézia Gomes e Thais Nauara. 

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