Projeto de professoras conta histórias de Porto Velho através de registros do centenário Jornal Alto Madeira

A ideia do projeto é mapear e construir a história da cidade, “desde aspectos de vida, morte, cultura, política, economia e sociedade”

As professoras de história Mara Centeno e Elis Oliveira têm uma missão importante em mãos: resgatar registros da capital Porto Velho e divulgá-los na internet por meio do projeto “Porto de Histórias”, oriundo de 10 anos de estudo.

A principal fonte de ambas é Jornal Alto Madeira, que circulou de 1917 a 2017 pela região. Considerado um dos jornalistas mais antigos do Brasil em atividade, o diretor do veículo, Euro Tourinho, morreu em novembro do ano passado aos 97 anos.

A ideia do projeto é mapear e construir a história da cidade, “desde aspectos de vida, morte, cultura, política, economia e sociedade”, segundo Elis Oliveira, que atua em assuntos como futebol e esporte amazônico, cultura e sociedade em Porto Velho.

Mara Centeno, que leciona o curso na Universidade Federal de Rondônia (Unir), foi professora de Elis e é atuante nos temas memória, patrimônio, morte e estudos amazônicos, diz que o “Porto de Histórias” começou a surgir a partir das pesquisas das duas durante o mestrado e permeou por seu trabalho de doutorado.

“E ao longo desse percurso, nós estamos publicando livros, artigos sobre essa fonte e também agora com esses diálogos que nós estamos travando através do canal sobre o Alto Madeira”, reiterou a professora.

O projeto vai acompanhar todas as edições publicadas pelo Alto Madeira. No site do “Porto de Histórias”, o internauta já encontra alguns artigos e dissertações das professoras sobre o assunto, o perfil das duas, além de três episódios disponíveis no canal no YouTube que contam sobre Porto Velho aos olhos do que foi noticiado no jornal centenário.

100 anos de Alto Madeira

Muitos dos fatos que hoje formam a História de Rondônia já foram notícia, e grande parte dos acontecimentos marcantes do estado foram publicados no jornal impresso Alto Madeira. O periódico nasceu das mãos de Joaquim Augusto Tanajura em 1917 e resistiu, aos cuidados da família Tourinho, de 1962 a 2017.

Um século de Alto Madeira e 97 anos de Euro. A História desses dois gigantes se mistura e se complementa. O enlace começou nos anos de 1950, quando Euro se aproximou de jornalistas que trabalhavam no periódico. Ele decidiu escrever para a coluna social, assinando com o nome de uma das filhas: Eurly Tourinho.

Nessa época o dono do jornal era Assis Chateaubriand – outra figura icônica para o jornalismo – e só no início da década de 60 a família Tourinho passa a dirigir o Alto Madeira.

Cerca de 55 anos depois, o jornal encerrou suas atividades devido problemas financeiros. Na edição especial, que se despedia dos leitores, Euro lembrou a importância de manter a sintonia com o passado, adequando-se ao contexto histórico de cada época.

Relembre alguns dos assuntos noticiados no jornal:

1917 – O Alto Madeira é inaugurado com o objetivo de dar força ao jornalismo local.

1918 – As manchetes informaram inúmeras notícias da violenta Primeira Grande Guerra Mundial e contou sobre a borracha amazônica perdendo valor.

1921 – As pautas políticas ganharam mais espaço, principalmente os atos a favor do voto feminino.

1928 – O Alto Madeira deu atenção a elevação de Guajará-Mirim a município.

1929 – No ano conhecido pela trágica quebra da bolsa de Nova York, o Alto Madeira estampava fotos de filas enormes de pessoas desempregadas. Manchetes como “A grande crise abala o mundo” eram mostradas nas edições.

1931 – Os jornalistas traziam a público matérias críticas relacionadas a falta de abastecimento de água em Porto Velho.

1932 – A nacionalização da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré era foco, quando Aluízio Ferreira passa a ser o administrador.

1940 – A visita de Getúlio Vargas a Porto Velho ganha espaço entre as publicações.

1943 – Os jornalistas escreviam sobre o decreto de criação do Território Federal do Guaporé e posse de Aluízio Ferreira como governador.

1948 – Joaquim de Araújo Lima torna-se o primeiro governador civil do Território do Guaporé.

1950 – O jornal cobria a campanha para que Rondon fosse indicado ao Nobel da Paz devido serviços em favor da pacificação dos indígenas.

1958 – A morte de Marechal Rondon foi repleta de condolências e homenagens.

1960 – O destaque foi para o presidente Juscelino Kubitschek e o início das obras da BR para ligar a Amazônia ao restante do país.

1961 – Pautas culturais estampavam as edições, principalmente sobre exibições de filmes no Cine Resky.

1970 – Ganha ênfase as matérias sobre ocupações de terras.

1979 – Começa o governo de Jorge Teixeira, com a prioridade de transformar o Território Federal de Rondônia em estado.

1982 – O Alto Madeira cobriu as inaugurações do Ginásio Cláudio Coutinho e a criação da Universidade Federal de Rondônia (Unir).

1992 – As matérias falavam da contaminação elevada por mercúrio no Rio Madeira.

2002 – Na área da política as notícias eram sobre a eleição de Ivo Cassol a governo.

2004 – Falando de cultura, o Arraial Flor do Maracujá era foco.

2005 – Roberto Sobrinho assume a prefeitura de Porto Velho.

2009 – A paralisação das obras da usina hidrelétrica de Jirau.

2014 – Acontece a cheia histórica do Rio Madeira.

2017 – A última edição do Alto Madeira vai às bancas.

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