Além do lar, Mimosa ganhou o coração da Família D’Ávila, que é dona de duas fazendas com cerca de 850 hectares de pasto e mais de mil cabeças de gado
Hoje com quase 300 quilos, forte e saudável, a novilha Mimosa, de pouco mais de um ano, seria mais uma entre tantas que iriam terminar em frigoríficos. Mas contrariando o destino, ela se tornou animal de estimação.
Além do lar, Mimosa ganhou o coração da Família D’Ávila, que é dona de duas fazendas com cerca de 850 hectares de pasto e mais de mil cabeças de gado em Porto Velho.
O espaço reservado para Mimosa é no quintal de casa. Além de conviver bem com os cachorros da família, é adorada pelas crianças e até gosta de tirar selfies.
O amor dos D’Ávila pela dócil novilha surgiu após um trágico acidente em janeiro do ano passado em uma das fazendas, que resultou na amputação da pata traseira do animal.
“Estava no curral e tinham mais de dois touros juntos. Ocorreu que um deles pisou em uma das patas dela. Deu fratura exposta. Eu não estava no momento, estava na casa e minha mãe presenciou. Cheguei lá [no curral] e vi a Mimosa tentando se levantar. Nisso, pedi para o meu pai pegar o carro, colocamos ela em cima e a levamos para a casa da fazenda mesmo”, relembrou Bruna D’Ávila, estudante de medicina veterinária.
Mimosa foi gravemente ferida durante uma briga entre touros e poderia ter sido sacrificada de imediato, assim como regularmente acontece com bovinos de corte que tenham fratura de membros.
“Algumas pessoas falaram que não valia a pena, que era melhor sacrificar, senão ela iria ficar sofrendo. Ninguém acreditava que íamos cuidar dela. Mas ficamos levantando noites e noites, tardando com ela na capim. Sofremos muito até ela [Mimosa] saber se virar. É amor”, disse a pecuarista Vera Lúcia, mãe de Bruna.
Bruna D’Ávila, então, resolveu tratar de Mimosa, que na época era apenas uma bezerra. A família chegou a montar uma estrutura de madeira para garantir todos os cuidados possíveis à Mimosa. Mas mesmo com o tratamento, a amputação do membro ferido foi inevitável.
“No dia 21 de janeiro foi feita a amputação e, no decorrer do tempo, fomos criando mais amor por ela. Minha mãe trazia, às vezes, leite da fazenda para ela tomar, mas não era sempre. Até hoje está aqui, é mansinha. Convivemos com ela”, explicou a jovem de 24 anos.
O trabalho de amputação e recuperação de Mimosa foi acompanhado de perto por Bruna e Vera Lúcia. Pouco mais de um ano do acidente e da adoção, todos da família auxiliam nos cuidados da novilha.
“É muito amor. Meus cachorros convivem bem com ela. Eu saio de casa cedo e volto mais para o fim da tarde, quase de noite. Isso quando eu estudava, pois hoje em dia chego mais cedo. Mas quando eu chegava mais tarde, ela já via meu carro e berrava. Se eu não vou falar com ela, ela fica muito brava”, declarou Bruna.
“É diferente ter uma novilha dentro de casa praticamente. Mas ajudei em tudo que pude, continuo ajudando. A gente gosta mesmo de animais e não ia deixá-la sofrer”, contou Vera.
Prótese
Para ajudar na locomoção, Mimosa vai ganhar uma prótese, confeccionada em Porto Velho. É a primeira vez que uma prótese como essa é feita sob medida a um bovino.
O responsável pela fabricação é o seleiro Renato Almeida, que usou cano de PVC para montar a peça. Ainda não há previsão de entrega. “Usei cano de PVC de esgoto, couro e borracha para ficar mais macio. Agora vamos fazer os ajustes para colocarmos um cinto, alguma coisa para fixar melhor”, explicou o seleiro.
“Quando a Mimosa era pequena, conseguia andar normalmente, correr. Mas agora ela cresceu, engordou. Então sente dificuldade de andar. Com certeza ela não vai andar normal como as outras, só que ela, nesse contexto, nunca ficou debilitada. A única dificuldade dela é de andar”, garantiu Bruna.