A primeira riqueza encontrada aqui em Roraima não estava no subsolo, estava no rio. Estava na água. Nossos peixes, nossa riqueza alimentar.
O peixe foi o primeiro produto de exportação de Roraima. Quando Roraima nem se chamava Roraima. Isso foi lá no distante século 18 quando os portugueses criaram, no rio Branco, os Pesqueiros Reais da Coroa Portuguesa. Toneladas de carne de pirarucu, milhares de tartarugas com seus milhões de ovos e um incalculável número de peixes-boi, eram os principais produtos de exportação.
Ou seja, a primeira riqueza encontrada aqui em Roraima, não estava no subsolo, estava no rio. Estava na água. Nossos peixes, nossa riqueza alimentar. Mas a exploração dessa riqueza foi tão predatória que em pouco tempo as tartarugas, os peixes-boi e os pirarucus foram desaparecendo.
Fato curioso é que na mesma época que o peixe-boi era exportado, os portugueses trouxeram as primeiras cabeças de gado para os campos do vale do rio Branco. A saída do peixe-boi e a chegada do boi. O peixe-boi sai da cena econômica e do cenário amazônico. O boi entra em cena e muda o cenário e história dos povos da savana roraimense.
Agora, no século 21, três séculos depois dos Pesqueiros Reais, Roraima volta a exportar peixe. Não os peixes do rio e sim das fazendas de peixe, hoje mais rentáveis que as fazendas de boi. E peixes sem o perigo da contaminação por mercúrio, provocada pelo garimpo ilegal, que atinge nesse momento a maioria dos peixes dos principais rios de Roraima.
Aqui é a pátria das águas, nossa vocação econômica sempre foi o peixe. No século 18 começamos de maneira errada. Hoje o peixe é o principal produto de exportação de Roraima. Antes o tambaqui era exclusividade dos amazonenses. Agora, Roraima exporta tambaqui para o Amazonas.
O tambaqui produzido em Roraima mudou a economia e mudou os hábitos alimentares e a culinária local. Promoveu uma mudança cultural. Está presente nos restaurantes e peixadas. Bandas de tambaqui assadas, sem espinhas, são vendidas nos tradicionais pontos de frango assado. O peixe-boi desapareceu, o boi não aconteceu e o sucesso agora, como foi no século 18, é o peixe.
Sobre o autor
Eliakin Rufino é poeta, compositor, professor e filósofo. Nasceu e reside em Boa Vista, Roraima.
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