No meio desse colorido, no meio dessa festa de luzes e cores, de alegria e esperança, há alguns pontos escuros nas iluminadas noites que antecedem o Natal.
Todos os anos, no mês de dezembro, a Prefeitura de Boa Vista ornamenta a cidade para os festejos natalinos. A cidade, que já é bonita até no nome, fica mais linda. A Prefeitura sempre arrasa na decoração. É arte. É show. No calçadão central é erguida uma árvore de natal em tamanho gigante, as árvores das praças e passeios públicos também são iluminadas, as luzes piscam, as crianças correm. Paz, amor, noite feliz.
No meio desse colorido, no meio dessa festa de luzes e cores, de alegria e esperança, há alguns pontos escuros nas iluminadas noites que antecedem o Natal. Esses pontos escuros na paisagem da cidade são, infelizmente, os espaços culturais. Na verdade, não são mais espaços culturais, são ruínas. São escombros. Um mix de irresponsabilidade, incompetência, descaso, preconceito e ignorância.
O Teatro Carlos Gomes, localizado ao lado do prédio da TV Roraima, está em ruínas há muitos anos. O Teatro tem mais tempo fechado e abandonado do que em funcionamento. O primeiro a ser desrespeitado é o próprio maestro Carlos Gomes, que dá nome ao Teatro. Ele não merecia nomear uma ruína. Um teatro fechado é igual a um hospital fechado, é a mesma gravidade. O teatro contribui para a saúde mental da sociedade.
A Casa de Cultura, um pequeno palacete que já foi residência governamental, também está em ruínas há muitos anos. Localizada no centro histórico da cidade, o que deveria ser um cartão postal, um espaço de entretenimento e lazer cultural, é uma ruína que a decoração natalina, com suas luzes coloridas, não consegue ocultar.
O Museu de Roraima, inaugurado em 1985, já é uma ruína há muitos anos. Todo o seu acervo foi desviado, saqueado, abandonado às traças. O espaço que deveria preservar a nossa memória, a nossa história. Papai Noel não visita museu em Roraima.
Outra ruína que envergonha nossa cidade é a Escola de Música. Também inaugurada em 1985, junto com o Museu, ambos localizados no Parque Anauá, a Escola de Música, único espaço público para o ensino da música, escola que já chegou a ter mais de mil estudantes, hoje está em silêncio. O silêncio maldoso do abandono.
Não é por acaso que Roraima amarga estatísticas alarmantes de suicídio entre jovens, feminicídio, alcoolismo, violência doméstica e trabalho infantil. Mais um Natal sem Teatro, sem Museu, sem Casa de Cultura e sem Escola de Música.
Sobre o autor
Eliakin Rufino é poeta, compositor, professor e filósofo. Nasceu e reside em Boa Vista, Roraima.
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