Mulheres de Roraima

Hoje, para as mulheres indígenas, brasileiras, haitianas, guianenses e venezuelanas residentes em Roraima, o que eu desejo é que todos nós abramos a mente e os corações para a aceitação das diferenças […].

Hoje é o Dia Internacional da Mulher e resolvi escrever hoje sobre as mulheres da minha terra. Começando pelas mulheres indígenas, quero na pessoa de Joênia Wapichana, aplaudir essa presença feminina originária. Após cumprir seu primeiro mandato como deputada federal, a primeira deputada federal indígena do Brasil, Joênia foi convidada pelo presidente Lula para assumir, também de forma pioneira, a presidência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, a FUNAI. Sua cerimônia de posse foi mais que uma cerimônia formal, foi um um ritual. Uma lindeza. Joênia inaugura um novo tempo e uma nova história da mulher indígena de Roraima.

Na pessoa de Joana Rufino (1916/2010) minha mãe, quero homenagear as mulheres brasileiras que vieram para Roraima de todas as regiões do Brasil. Mamãe nasceu em Jutaí, na época município de Fonte Boa, no Alto Solimões, Estado do Amazonas. Veio para Manaus ainda na adolescência, trabalhou muito e na juventude, acompanhando um casal de missionários norte-americanos, veio para Roraima trabalhar na fundação da Primeira Igreja Batista. Quando saiu de Fonte Boa chamava-se Joana Bandeira. Aqui, após o casamento, substituiu o sobrenome Bandeira por Rufino, do meu pai. Uma mulher guerreira e empreendedora, Joana viveu 94 anos e contribuiu – no lar, na igreja e no trabalho – para a afirmação da mulher no ambiente hostil e machista da sociedade roraimense.

Não temos ainda um nome de destaque, porque as dificuldades para as mulheres negras que vieram do Haiti, são tantas e tamanhas que a maioria delas luta pela sobrevivência vendendo alho. São as vendedoras de alho da cidade. Mulheres altas, fortes, equilibram na cabeça bacias e tabuleiros com alho. Estão nas ruas, nas feiras e nos mercados. São gentis e mesmo enfrentando a discriminação e o racismo, permanecem altivas e elegantes. “O Haiti é aqui, o Haiti não é aqui”.

Foto: Reprodução/Facebook-Joenia Wapichana

Outro grupo de mulheres digno de aplausos, pela garra e pela tenacidade, é formado pelas mulheres da República da Guiana, a antiga Guiana Inglesa. São milhares delas espalhadas pela cidade, a maioria sobrevivendo no trabalho doméstico e em atividades informais. Negras como as haitianas, elas enfrentam, além das dificuldades com o idioma, um racismo exagerado. São suspeitas pela cor da pele, são revistadas quando saem das lojas, são desrespeitadas. Há um restaurante de propriedade de um guianense que serve comida típica aos sábados e é um ponto de encontro da comunidade em Boa Vista.

E mais recente, temos a presença de milhares de mulheres venezuelanas que passaram a viver em Boa Vista após a debandada geral do seu país de origem. São caixas de supermercados, são frentistas, garçonetes, cabeleireiras, manicures. Embora tenham sido beneficiadas com a chamada Operação Acolhida, embora tenham sido recebidas com solidariedade por parte da sociedade roraimense, elas padecem também pelo ódio e intolerância de grande parte da população local. Ainda bem que as escolas públicas abriram suas portas para as crianças venezuelanas. E o portunhol é correntemente falado na hora do recreio.

Hoje, para as mulheres indígenas, brasileiras, haitianas, guianenses e venezuelanas residentes em Roraima, o que eu desejo é que todos nós, homens e mulheres, abramos a mente e os corações para a aceitação das diferenças, para a aceitação da diversidade, para o respeito mútuo, para a civilidade. Somos uma sociedade de migrantes e refugiados, somos uma sociedade de fronteira. Temos que nos educar para a convivência, aqui há lugar para todos. 

Sobre o autor

Eliakin Rufino é poeta, compositor, professor e filósofo. Nasceu e reside em Boa Vista, Roraima.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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