Joaquim partiu nos deixando um exemplo de amor aos livros e aos escritores e escritoras da nossa região.
Embora minha coluna semanal Revelando Roraima, aqui no Portal Amazônia, tenha o objetivo de divulgar a arte e a cultura do Estado de Roraima, hoje quero expandir a fronteira para homenagear Joaquim Melo, livreiro e produtor cultural do meu querido Estado do Amazonas. Roraima já foi Amazonas. Boa Vista do Rio Branco foi município do Amazonas de 9 de julho de 1890 até 13 de setembro de 1943, quando foi transformado em Território Federal do Rio Branco. Meu pai nasceu no Lago do Manaquiri. Minha mãe na Foz do Jutaí. O Amazonas corre em mim.
Por essa proximidade familiar e geográfica, Manaus sempre foi minha referência cultural. Estudei Filosofia na Universidade do Amazonas entre 1980 e 1984. Fiz muitos shows e muitos amigos e amigas. Nesse período, duas livrarias são importantíssimas: a Livraria Nacional, do Zé Maria, voltada para todo tipo de público leitor, principalmente o público escolar e universitário. Era uma livraria abarrotada de livros em português, inglês e espanhol. Detalhe: a livraria ficava localizada ao lado do Bar do Armando. Leituras políticas e debates etílicos.
A outra era a Livraria Maíra, do ator e poeta Dori Carvalho. O nome da livraria era uma homenagem ao romance homônimo de Darcy Ribeiro. Era menor que a Nacional e era mais voltada para o público universitário. Na livraria eram realizados lançamentos de livros com sessão de autógrafos, shows musicais, encontros e despedidas, troca de ideias e muita política: nossa luta comum era derrubar a ditadura militar. Dori trouxe os livros para ajudar, porque ninguém faz revolução sem livros e sem leitura. O livro é a arma de quem luta pela paz.
E nos últimos anos, a diminuta Banca do Largo, do professor e livreiro Joaquim Melo, localizada no Largo de São Sebastião, ao lado do Teatro Amazonas, passou a ser a maior referência cultural do Amazonas. No acervo da banca, preferencialmente livros de autores locais.. Livros novos e livros antigos, verdadeiras raridades. Joaquim partiu nos deixando um exemplo de amor aos livros e aos escritores e escritoras da nossa região. Além de livreiro, ele organizava e produzia no espaço do Largo, o evento musical Tacacá na Bossa. Vai ser sempre lembrado toda vez que se falar em livro, leitura e literatura no Amazonas.
Sobre o autor
Eliakin Rufino é poeta, compositor, professor e filósofo. Nasceu e reside em Boa Vista, Roraima.
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