Uma vasta biblioteca, não lida, permanece esquecida na caverna. Livros de pedra. Páginas pesadas da nossa história.
“Que momentos da história da Literatura de Roraima você acha importante serem destacados?”. Esta pergunta me foi enviada pelo escritor, professor e pesquisador roraimense Aldenor Pimentel. Ele é professor da Universidade Federal de Roraima, está escrevendo uma dissertação e me consulta sobre o assunto. E você que começa a acompanhar minha coluna semanal Revelando Roraima, aqui no Portal, pode perguntar o que quiser. Focando mais em Arte e Cultura.
Eu destaco um momento da Literatura roraimense que eu acho importante embora seja o menos estudado, o que eu considero o momento inicial, a primeira expressão artística e literária. Publicada há aproximadamente 10 mil anos. Talvez mais. A literatura roraimense, assim como o Raul Seixas, nasceu há dez mil anos atrás. Mesmo com toda a depredação sofrida nestes milhares de anos, aqui em Roraima ela ainda permanece viva e acessível, mas poucos sabem ler. Uma vasta biblioteca, não lida, permanece esquecida na caverna. Livros de pedra. Páginas pesadas da nossa história.
Isso porque eu considero Literatura o conjunto de escritas, desenhos, símbolos e sinais que até hoje estão inscritos nas pedras e nas paredes das cavernas dos sítios arqueológicos em Roraima. O mais famoso desses sítios é a Pedra Pintada. Uma riqueza arqueológica. Roraima é um tesouro de sítios arqueológicos. Marechal Rondon quando andou por aqui em 1927 levou preciosidades. Há notícias de permanentes e seguidos saques. Não há estudo nem pesquisa. O pequeno número de faculdades de Arqueologia no Brasil já revela e denuncia o descaso histórico e a irresponsabilidade do poder público por esse patrimônio cultural fundamental para a compreensão da nossa própria história.
Os grafismos nas pedras, aqui em Roraima são dezenas de pedras pintadas, eles comunicam algo, eles nos dizem algo. O que eles dizem, o que eles expressam e comunicam, pode ser considerado literatura. Conhecida como Arte Rupestre, é uma linguagem visual, mas carregada de significados. O desenho é a escrita, a escrita é o desenho. Animais desenhados: narrativa de uma caçada, literatura. Armas desenhadas: narrativa de uma guerra, literatura. Um calendário desenhado: narrativa sobre o tempo, literatura. “Astros! noites! tempestades!”: cosmogonias, literatura.
Quem, dentre os habitantes daquela caverna, pintava, escrevia e grafava na pedra? Um artista? Um homem? Uma mulher? Um xamã? Um pajé? Quem empunhava o giz de pedra e expressava o sentimento coletivo? Quem sabia a alta tecnologia de fixação da tinta na parede da caverna? Arte coletiva ou individual, permanece na pedra até os dias hoje. Mensagens que ainda não foram decifradas. Códigos que ainda não foram abertos. Literatura Neolítica. Realismo fantástico. Educação pela pedra.
Sobre o autor
Eliakin Rufino é poeta, compositor, professor e filósofo. Nasceu e reside em Boa Vista, Roraima.
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