Vamos começar o ano novo de fora pra dentro, de dentro pra fora.
Creio que em 2023 a terra voltará a ser redonda e continuará em sua órbita ao redor do Sol, levando todos nós, gente, plantas e animais, nessa viagem cósmica, nesse ciclo de 365 dias, nesse eterno retorno. Estamos dando voltas no Universo. Estamos caminhando em círculo, ou melhor, em elipse, uma trajetória oval, girando, girando, carrapeta, pião. Creio que em 2023 até a bola de futebol voltará a ser redonda e aí sim, a seleção brasileira vai encerrar a era do pé quadrado.
Creio que em 2023 teremos um ministro do Meio Ambiente que olhe para a Amazônia com um olhar de urgência, de emergência. A região foi massacrada nos últimos anos, o desmatamento atinge números exorbitantes, as queimadas se multiplicaram e houve até a celebração sinistra e criminosa do abominável Dia do Fogo. Todo dia é dia de vida. Não podemos concordar que nossa floresta esteja de partida. Desmate e queimada devem ser combatidos. É preciso atualizar cientificamente esse manejo da floresta.
Creio que em 2023 os artistas voltarão a ocupar seu lugar na sociedade, com o respeito e a admiração que todo artista merece. É intolerável que artistas como Chico Buarque e Gilberto Gil tenham sido ofendidos, agredidos, desconsiderados. Qualquer país do mundo se orgulharia de ter um Chico Buarque e um Gilberto Gil. O ano de 2023 será o ano das artes no Brasil. Uma espécie de Renascimento artístico e cultural. Teremos de volta o Ministério da Cultura e creio que retomaremos a vocação natural que o Brasil tem para produzir Arte.
Creio que em 2023 o garimpo ilegal deverá ser extinto porque é uma ameaça mortal a todos nós. A contaminação dos rios e dos peixes já atinge atualmente diversas populações da Amazônia, principalmente povos indígenas e ribeirinhos. A contaminação ambiental de muitos para o proveito financeiro de poucos, não é um modelo de desenvolvimento que possamos adotar. O ano de 2023 deve ser o ano da sustentabilidade. Principalmente da sustentabilidade ética.
Creio que 2023 será o ano da sociedade brasileira constatar que nosso destino é se educar para conviver divergindo. Quem pensa diferente da gente não deve ser execrado, não deve ser abatido. Não se trata de aceitarmos as diferenças só com tolerância, é preciso mais. É preciso que aceitemos com alegria as diferenças. Heráclito de Éfeso já dizia: “é dos contrários que nasce a mais bela harmonia”. Sexo, crença, cor, posicionamento político devem ser afirmadores da nossa identidade feita de diversidade, de pluralidade, de multiculturalidade.
Creio que 2023 será o ano de baixar as armas e levantar os braços para o céu, agradecendo que 2022 tenha nos dado tanta chance de aprender e de mudar. Vamos começar o ano novo de fora pra dentro, de dentro pra fora. O ano não será novo com velhas ideias conservadoras. O ano não será novo com miséria e fome, desmatamento e queimada, agrotóxicos, garimpo e poluição ambiental. 2023 será novo para quem crê na mudança. Para quem tem coragem de mudar. O Barão de Itararé já dizia: “vergonha não é mudar de ideia, vergonha é não ter ideias para mudar”.
Sobre o autor
Eliakin Rufino é poeta, compositor, professor e filósofo. Nasceu e reside em Boa Vista, Roraima.
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