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Sexta, 19 Abril 2024

Alimentos no lixão

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A ideia inicial era perfeita: criar uma feira para que o próprio produtor rural de todo o Estado de Roraima pudesse vender alimentos na cidade de Boa Vista sem a figura do chamado atravessador. Na época em que foi inaugurada, há mais ou menos três décadas, o Governo do Estado disponibilizava até os caminhões para o transporte dos produtores e sua safra. Mas isso só foi no início. Hoje a Feira do Produtor, que nunca passou por nenhuma reforma, transformou-se num verdadeiro lixão com esgoto a céu aberto.

Quem chega em nossa cidade e, desavisadamente, vai parar na Feira do Produtor, encontra um cenário que contraria as regras mais básicas de higiene para um local destinado a vender alimentos para a população. A Feira é uma verdadeira ameaça para a nossa saúde. Entra governo e sai governo e a Feira continua cada vez mais abandonada, deteriorada, contaminada. Uma calamidade pública. Repleta de atravessadores, o local não oferece nenhuma vantagem nos preços dos alimentos.

Como sou cozinheiro da minha própria comida e praticante da arte culinária, sempre frequentei a Feira pois encontrava ali produtos regionais, a maioria proveniente de agricultura familiar. A realidade agora é outra. É possível encontrar produtos de São Paulo e de outros estados brasileiros. Camarões, maçãs, uvas, morangos, repolhos e chuchus são maioria em relação aos produtos genuinamente regionais: farinha, goma, macaxeira, inhame, folhas e frutas. O produtor local ocupa um espaço menor em relação aos pontos de vendas dos atravessadores.

E um detalhe visivelmente racista, é que as mulheres negras do Haiti, que vendem alho, não podem ocupar espaço dentro da Feira. Então elas ocupam a rua com suas bancas, justamente no local mais sujo. Elas estão no meio do lixo e na saída do esgoto. No local da venda dos peixes, os trabalhadores de origem indígena, que limpam os peixes, retirando escamas e espinhas, ocupam um espaço apertado e escuro, gradeado, insalubre. Só não é trabalho análogo a escravidão, porque já é escravidão.

Ora, se o lugar destinado a vender alimentos para a população é um lixão, não adianta inaugurar hospitais ou postos de saúde. Não adianta ensinar nas escolas as regras básicas de higiene, é inútil ensinar a lavar as mãos. A Feira do Produtor deveria ser interditada imediatamente, mas quem vai fazer isso? A Feira continua sendo de (ir)responsabilidade do Governo do Estado. A população não reage nem cobra uma mudança e os que podem recorrem cada vez mais aos supermercados e aos atacadões com seus produtos importados de outras regiões.

Sobre o autor

Eliakin Rufino é poeta, compositor, professor e filósofo. Nasceu e reside em Boa Vista, Roraima.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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