Chamou a atenção de importantes segmentos oficiais e empresariais a entrevista de Maurício Loureiro, fundador, ex-presidente e membro do Conselho Superior do Centro das Indústrias do Amazonas, concedida à coluna Follow-Up, porta-voz oficial do Cieam. Segundo Loureiro, “nosso país é rico em, basicamente, tudo. Sem contar com a biodiversidade, a água, que já é o petróleo do futuro”. Não adianta, porém, “sermos ricos por natureza se não sabemos como utilizar os nossos recursos, ou mais do que isso, não termos nenhuma garantia jurídica daquilo que, como potencialidades e com investimentos e investidores, podemos explorar”. Contraditoriamente, afirma Loureiro em sua entrevista: “O Amazonas está entre as 10 maiores economias do país. Entretanto, está, também, presente na lista dos estados com mais municípios entre os 50 piores IDHs do Brasil”. Um dado incisivo, inegável, que vem desafiando o círculo oficial há mais de 50 anos.
O engenheiro Augusto Rocha, professor da Ufam, também membro do Cieam, no brilhante artigo “ZFM: a eterna busca de um inimigo externo” do último dia 23, publicado no Facebook e na coluna Follow-Up, chama atenção apropriadamente, ao que penso, a um dado característico predominante do pensamento local. Afirma Rocha: “inimigos externos são ótimos para unir a população de uma região. Na ZFM estamos sempre com inimigos externos, podendo ser São Paulo, Piauí ou algum Ministro de plantão. Sempre nos sentimos atacados e com isso buscamos alguma reunião de interesses comuns, enveredando por um combate que envolve a proteção de benefícios fiscais (legais e ainda fundamentais, diga-se de passagem). Não me lembro de outro tema que una tão fortemente o Amazonas quanto este. Isso é ótimo, pois há uma pauta em comum”.
Entretanto, ao que salienta, “este samba de uma nota só pode nos transformar em vítimas de fato. Afinal, todos nossos ovos estão vindo de uma única cesta e de uma única galinha que coloca os tais ovos de ouro. E como esta galinha vem sendo tratada? Ruas esburacadas, regras instáveis, falta de clareza para novos produtos e várias outras formas de descrédito. Tanto que o resultado é declinante em dólar, mesmo sem descontar a inflação. Há um resultado declinante e não se verificam preocupações ou ações contra isso. O mundo cada vez mais tende a ter barreiras comerciais e tributárias reduzidas, mas parece que negamos a considerar isso como inexorável. É quase como negar a globalização (sei que há quem acredite nisso). E o que temos feito para trazer alternativas econômicas para o Estado do Amazonas? Quais as atividades produtivas alternativas? Quais são os outros componentes do PIB do Estado que não dependem direta ou indiretamente da ZFM? Eles crescem?”
De forma contundente Augusto Rocha conclui seu artigo, afirmando: “A ZFM está e segue em crise. Por que temos medo de afirmar isso com todas as letras? Afinal, um segundo fator para união de uma sociedade é um forte desejo de sair de uma crise. Países ricos quando não têm crises, inventam crises ou guerras, para manter o ânimo forte. Temos realmente este forte desejo ou será melhor sermos os coitados do Norte que precisamos de apoio para manter a benesse fiscal eternamente? O que gostaria de ver além de uma forte união contra os inimigos da ZFM seria um forte desejo e um conjunto de ações para sair da crise”. Associo-me ao articulista quando enfaticamente afirma: “Gostaria de ver uma ampla união a favor de nosso desenvolvimento e contra todos os desperdícios de oportunidades. Por que ainda não vemos ninguém nesta direção? Por que todos falam dos problemas de infraestrutura e logística, mas não se faz nada? Quais os interesses que nos prendem a um passado que não voltará? Somos vítimas de nós mesmos e de nossa incapacidade de agir no presente para a construção de um futuro melhor. A negação da história não ajuda em nada. Somos nossos maiores algozes”. Verdades incontestáveis. Alguma dúvida a respeito? Ao que entendo, nenhuma.