Suframa e as prioridades da ZFM

Superando padrões dos séculos passados, intenso choque na cultura científica vem abalando a região nas últimas décadas – trata-se do desafio de passar da cultura de inventário para a cultura de pesquisa e desenvolvimento (P&D), hoje primazia absoluta na Amazônia. O governo vem tentando introduzir a nova cultura científica na região a partir de meados da década de 1990, frente à importância assumida pela região no cenário internacional e a pressão por sua preservação. Estudos científicos disponíveis dão conta de que, em essência, ações do governo priorizam a biodiversidade como a menina dos olhos da ciência por codificar a vida abrindo novas fronteiras na biologia. Por sua vez, ciência e tecnologia abrem amplas possibilidade para aproveitamento da biodiversidade em novos patamares atendendo à multiplicação das demandas sociais intensificadas nos últimos 25 anos.

Segundo a pesquisadora Bertha Becker, “o caso dos fármacos, essenciais à saúde pública, que tem no mercado internacional ampla demanda para seu desenvolvimento. Exemplos: fitoterápicos, dermocosméticos, nutracêutica, que utiliza elementos naturais para gerar bem estar e hoje vem se expandindo notavelmente com as terapias para a longevidade. Mais recentemente, a bioenergia tem sua produção estimulada nas áreas de cerrado e da floresta tropical, frente à demanda por energias renováveis. A associação da biodiversidade com a indústria eletrônica rumo à nanotecnologia já não é mais futuro no mundo. E a economia da floresta, correspondendo ao aproveitamento de todo o espectro dos elementos do ecossistema é hoje possível com um mínimo de destruição”. Lamentavelmente, devido à carência de políticas públicas e à baixa velocidade e eficácia das ações governamentais nesses campos tecnológicos, a região, em estado letárgico, apenas assiste a banda passar.        

No transcurso dos 52 anos da Zona Franca de Manaus, a política de incentivos fiscais envelheceu. O governo fez vistas grossas ao ensino, pesquisa e desenvolvimento, menosprezando a necessidade de ajustar a ZFM em direção à economia do conhecimento. De acordo com estudos da historiadora Etelvina Garcia, “não fomos (e ainda não somos) capazes de converter os dividendos do modelo Zona Franca de Manaus em educação, ciência, tecnologia, inovação, consciência sociopolítica… Não nos apercebemos de que esses fatores são absolutamente essenciais para que possamos promover mudanças substantivas e inadiáveis na estrutura da nossa sociedade e acumular competência [em escala crescente, e só Deus sabe em que velocidade!] para responder aos desafios de competitividade da economia globalizada”.

Para o engenheiro Armando Cordeiro, professor aposentado da Ufam, “se as decisões e políticas públicas não vierem mais rapidamente, a Amazônia perderá a oportunidade de comandar a quinta revolução tecnológica. Isso porque a sexta extinção de espécies vivas na natureza, causadas pelas revoluções industriais modernas estão em curso já há bastante tempo, sendo uma de suas consequências a variabilidade da biodiversidade no planeta”. Na verdade, “a Terra não é esse equilíbrio ambiental que conhecemos; ela está assim, foi muito diferente no passado e o será no futuro. Efetivamente, por mais de 4 bilhões anos (dos 4,6 bilhões de sua existência) nosso planeta não tinha floresta. Nada garante que isso não possa vir a acontecer”. Portanto, ao que salienta Cordeiro, “realmente mais ação governamental acelerada será necessário para não perdermos o “timing” de usar a riqueza da Amazônia em benefício desta e pósteras gerações”.

Com efeito, nesta etapa,  muito mais importante do que obras públicas de efeitos duvidosos estão os investimentos em conhecimento, ciência, tecnologia e inovação, o vetor fundamental do avanço tecnológico e do desenvolvimento sustentado. Uma responsabilidade que, irrenunciável e inabdicável, compete ao governo estadual e à Suframa. O foco central, evidentemente, é 2073 não as próximas eleições.
 

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