O Brasil vem caminhando de costas para a Amazônia ao longo de praticamente toda a história. Desta forma esquece que a região é solução não problema, é precioso ativo, não passivo oneroso. Não há dúvidas de que a exploração da biodiversidade, dos recursos naturais de base biotecnológica, da produção sustentável de alimentos, da mineração e do ecoturismo é o futuro. Cadeias produtivas que, para viabilizá-las economicamente, todavia, demandam adoção de política públicas consentâneas. O Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) é parte integrante do elenco de soluções ajustadas a programas e projetos de acordo com estrutura ora sendo desenhada pela Suframa e a nova direção do Centro, tendo em vista promover inovação tecnológica para o mercado. Mega desafio jamais antes enfrentado objetivamente pela Suframa e governo do Estado.
O CBA, por conseguinte, ao lado da estrutura de ensino, pesquisa e extensão local (e externa) assume a função de gerar condições para o desenvolvimento e aprimoramento do PIM associado à bioeconomia.
Analisado por este ângulo, caberá ao CBA a) desenvolver ação integrada com a universidade e centros de pesquisa do setor público e privado (Rede de Laboratórios Associados – RLA); b) promover o incremento da densidade tecnológica no setor bioindustrial; c) gerar ambiente favorável à inovação, incluindo a oferta de serviços biotecnológicos; c) desenvolvimento e difusão de tecnologias de processo e produto. Assim, dentre os principais objetivos do CBA assumiria destaque a transformação de conhecimentos gerados pelo próprio Centro e por institutos de pesquisa em produtos de elevado valor agregado comuns às cadeias produtivas derivadas da exploração sustentável dos recursos da biodiversidade, da mineração, do ecoturismo.
O CBA é um projeto de longo prazo, que exige continuidade para que o conhecimento se acumule, avance e seja transmitido de uma geração a outra. De acordo com Marcelo Viana, diretor do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), a ciência brasileira vem perdendo recursos nos últimos anos, o que torna mais difícil atrair jovens cérebros, estimulá-los e mantê-los atuantes aqui. Desta forma, ele afirma, “a saída é depender menos dos cofres públicos, encontrando maneiras de se conectar cada vez mais com o mundo privado, prática comum nos Estados Unidos e na Europa”. Centros esses que veem as instituições de ensino como parte do sistema produtivo de seus países. No Brasil, salienta Viana, brutal “abismo legal e ideológico separa o mundo universitário do empresarial, com claro prejuízo para ambos os lados, que pouco se falam.”
Implantado com recursos próprios da Suframa em 2003, o CBA ainda se defronta com entulhos burocráticos que impedem sua definitiva posta em marcha. Uma renomada afronta a uma região cujo bioma detém 20% do banco genético do planeta. Superadas as adversidades conjunturais, todavia o Centro poderá vir a exercer a indispensável governança do sistema de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) local. Mega desafio de curtíssimo prazo, do qual o governo do Amazonas não se pode permitir ficar de fora. Ao contrário, precisa concentrar energias, recursos financeiros e humanos tendo em vista assegurar pleno êxito ao modelo ZFM-2073, vale dizer, à própria economia estadual.
Estamos perdendo precioso tempo apegados em discutir teimosamente apenas o PIM, omitindo as potencialidades por explorar de nossa bioeconomia. A chave para esse novo mundo inicia pelo Zoneamento Ecológico Econômico (ZEEs), efetivo em todas as mesorregiões, além da adequação da grade curricular da universidade e da pesquisa às vocações econômicas reveladas pelo ZEE. E, com efeito, assegurar prioridade a cursos (mesmo que temporários) técnicos nos setores de pesca, madeira, construção naval, biodiversidade, mineração, produção de alimentos, ecoturismo. Cadeias produtivas em relação às quais tudo é superlativo quanto a processos e produtos, logística de transporte e alcance mercadológico global.