Pedro II, resgate histórico

Foto:Reprodução/Rede Amazônica

De acordo com Yuval Noah Harari, em seu extraordinário livro “Uma breve história da humanidade – SAPIENS”, 2017, há cerca de 13,5 milhões de anos havia tão somente matéria, energia, tempo e espaço que se aglutinaram no chamado Big Bang. Harari não explica como e de onde surgiram esses elementos da natureza. Por volta de 300 mil anos após seu surgimento, matéria e energia, combinadas, produzem os átomos, que se combinam em moléculas. Há aproximadamente 3,8 milhões de anos, a combinação de certas  moléculas começam a formar estruturas ainda mais elaboradas chamadas organismos. Prossegue o autor: há cerca de 70 mil anos, os organismos pertencentes à espécie “Homo sapiens” começaram a formar estruturas ainda mais elaboradas chamadas culturas.

O desenvolvimento subsequente dessas culturas humanas é denominado história. Para completar o preâmbulo, reproduzo o raciocínio de Harari, segundo o qual três importantes revoluções definiram o curso da história. A Revolução Cognitiva deu início à história, há cerca de 70 mil anos. A Revolução Agrícola a acelerou, por volta de 12 mil anos atrás, e a Revolução Científica, iniciada há apenas 500 anos, nos conduziu ao mundo contemporâneo e suas fantásticas tecnologias presentes na informação, no ensino, na cultura, na circunavegação, na engenharia, na medicina, na biotecnologia, nas conquistas espaciais, na produção de alimentos e produtos agroindustriais; na imprensa, esteio do Renascimento; na geração de novas tecnologias (investimentos em P,D&I), e assim por diante.

Como se pode observar claramente, a história e a cultura sempre estiveram no cerne dos processos criativos e de conquistas humanas. O movimento desencadeado por meio do lançamento do livro GYMNASIANOS, de minha autoria, visa fundamentalmente isso. Trabalhar em torno do resgate do papel central do histórico Colégio Estadual do Amazonas em relação ao padrão do ensino no Amazonas, que por décadas liderou. A proposta consiste, em síntese, da criação da Associação dos Ex-Alunos, e, por seu intermédio, juntar-se à direção do Colégio e às secretarias de educação e cultura do Estado e do Município nos preparativos da celebração dos 150 anos de fundação do Gymnasio Amazonense Pedro II, em 1869, centro da política Imperial de instituir e consolidar padrão de ensino e fomento à cultura por todo o país.

A história do Colégio Amazonense Dom Pedro II (denominação oficial atual), desde sua instalação é marcada por lutas de gerações em torno de ideais libertários e renovadores. O gymnasiano celebrizou-se como protagonista da ação política, em inúmeras contendas em torno desses ideais, contando para tal com o entusiasmo e a coragem de uma juventude em ebulição. A mais célebre dessas lutas teve campo na Revolução de 30. Movimento que, pela força das armas, depôs o presidente Washington Luís, e, com apoio de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e estados nordestinos, levou Getúlio Vargas ao poder, que exerceu por 19 anos (Era Vargas). Os gymnasianos apoiaram as forças insurgentes contra São Paulo numa luta ferrenha que deixou marcas de balas visíveis no colunato frontal externo do histórico edifício.

Independentemente do espírito libertário e contestatório do gymnasiano, o Colégio ocupou desde início papel preponderante em relação ao padrão de ensino do Amazonas. Quadro que perdurou até meados dos anos 1970. Posteriormente, tornou-se um colégio comum, sem expressão política, educacional e cultural. É anseio de um grupo de ex-alunos, professores e estudantes do Pedro II lutar pelo resgate dessas tradições e do padrão de ensino que sustentou. Objetivo factível tendo em vista que muitos nomes do empresariado, da política, da cultura, da universidade, dos profissionais liberais são egressos do Casarão da Sete de Setembro. A começar pelo governador Amazonino Mendes, gymnssiano que, como eu foi presidente do Centro Estudantal “Plácido Serrano”, há muitos anos desativado. Uma imposição histórica à qual não podemos nos omitir.

Manaus, 24 de setembro de 2018.

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