Amazônia e a terceira natureza

A inclusão da biodiversidade à matriz econômica do Polo Industrial de Manaus (PIM) avança com maré favorável. Contudo, o que, como e onde produzir configura desafio tão intrincado quanto solucionar uma equação de terceiro grau. Embora complicado, há métodos que nos conduzem ao encontro de raízes de funções cúbicas desenvolvidos há pelo menos 500 anos. A chave mestra: abordagem correta e conhecimentos teóricos apropriados. No tocante ao setor primário, o problema se reporta em essência ao desenvolvimento de conhecimento científico e tecnológicos ajustados às assimetrias do bioma amazônico, visualizando seus impactos sobre o produtor rural. Há nessa caminhada desafios extremos a serem enfrentados, como a redução dos impactos ambientais e a geração de emprego e renda. Afinal, o homem é o centro do processo.
O pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Alfredo Homma, estabelece parâmetros de especial relevância voltados ao solucionamento de nossa equação. No estudo “A Terceira Natureza da Amazônia”, publicado na Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, v.38, n.132, jan./jun. 2017, distingue a Segunda Natureza (a área desmatada) da Primeira Natureza (a floresta intocada). A partir dessas premissas considera que “o desafio seria como transformar uma parte da Segunda Natureza em uma Terceira Natureza com atividades produtivas mais adequadas”, ressaltando que “a preocupação exclusivamente ambiental sobre a Amazônia tem colocado em segundo plano as necessidades prementes como a de garantir segurança alimentar e a necessidade de gerar renda e emprego para a população local”.  
Entre os Censos Demográficos de 1970 e 2010, Homma sustenta que, enquanto, nesse período, a população da Amazônia Legal passou de 7,8 milhões para 25,5 milhões, sendo que Rondônia teve a população multiplicada por 13 vezes e Roraima por 11 vezes, “as alternativas agrícolas passam a utilizar apenas uma parte dos 76 milhões de hectares já desmatados (2016) na Amazônia, que corresponde a três vezes a superfície do Estado de São Paulo ou mais do que a soma dos Estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, ou ainda duas vezes a superfície do Japão ou da Alemanha, respectivamente a terceira e a quarta economia do planeta”. 
Em consequência de sua baixíssima exploração, não obstante a imensa extensão territorial, “a participação da Amazônia Legal no PIB do país é de somente 8,4% (2014), equivalente ao dobro do Estado de Santa Catarina, e não tem o impacto que deveria ter para o desenvolvimento local”. Alfredo Homma é pragmático ao constatar em seu trabalho: “a despeito da exaltação da magnitude da biodiversidade amazônica, os grandes mercados e a sobrevivência da população regional ainda vão depender dos produtos tradicionais, representados pela biodiversidade exótica como o rebanho bovino e bubalino e os cultivos como cafeeiro, dendezeiro, soja, milho, algodão, pimenta-do-reino, bananeira, coqueiro, laranjeira, entre os principais”. 
Vale salientar, segundo Alfredo Homma, considerado mundialmente uma das maiores autoridades em Amazônia, que “a biodiversidade nativa, como o cacaueiro, a seringueira, o pau-rosa, a castanheira-do-pará, o óleo de tartaruga, dentre outros, foi importante no Brasil Colonial e nos primeiros anos da República, porém não conseguiu consolidar um modelo de desenvolvimento permanente”. O capital extrativo, pondera, “desestimulou os plantios, pela falta de tecnologia e pela visão míope dos governantes, empresários e acadêmicos, levando a sua transferência para novos locais”. Além do problema desmatamento, sem plano de desenvolvimento regional o governo continua em voo cego. Efetivamente,  “enquanto não se concretizar um parque produtivo local com plantas da biodiversidade amazônica, o risco da biopirataria vai estar sempre presente”, conclui o pesquisador. A integração biodiversidade x PIM, por conseguinte, permanece, não se sabe até quando,  a desafiar políticas públicas harmonizadas ao bioma.
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