O Colégio Amazonense Pedro II é sem dúvida o marco do ensino público e da memória cultural no Amazonas. Uma trajetória plena de história pura, particularmente sobre a Revolução Gymnasiana, relatada no livro “Mocidade Viril 1930”, do escritor Mário Ypiranga Monteiro. Fatos e versões complementados pelos gymnasianos do nosso tempo do Colégio Estadual do Amazonas – CEA, turmas do final dos anos 1950 até a primeira metade dos 60.
Os ginasianos, conforme reportagem assinada pela jornalista Karol Rocha, do jornal A Crítica, desta quinta-feira, consideravam-se os mais importantes representantes da classe de estudantes secundaristas do Amazonas. O que faziam, agiam e decidiam era cumprido pela turma do Colégio, que liderava os demais colégios da cidade. Por isso eles tomaram parte nas lutas da Revolução de 1930 e 1935”.
O Colégio Estadual, no nosso tempo, nas décadas de 1950, 60 e 70, formava aqueles que viriam a ser as maiores lideranças do Estado, tanto na classe empresarial, profissional liberal quanto política. O padrão do ensino de então permitia a formação dessa elite.
Pessoalmente, desde que entrei no CEA em 1957 e de lá saí para a Universidade em 1963, ali vivi, com meus colegas de turma, no curso ginasial (ensino médio) ou científico (segundo grau), os momentos mais dignificantes de minha geração. Lá aprendemos noções de caráter, respeito, amor aos mestres, à família, à pátria.
Todas as terças-feiras a direção do Colégio reunia os alunos no Pátio Interno para cantarmos o Hino Nacional e celebrar a pátria. Tínhamos aulas de educação moral e cívica, práticas esportivas. Éramos campeões imbatíveis de futebol de salão e outros esportes. Destaque também para os desfiles do 5 e 7 de Setembro. Uma honra formar em nossos pelotões e desfilar em homenagem ao Dia do Amazonas e ao Sete de Setembro.
Era de alto nível o padrão educacional da época, destacando-se o rigor dos professores, alguns deles, intransigentes, conduziam a turma em nível máximo de atenção às aulas, porque nas provas não havia jeitinho. Estudava passava, não estudava, bomba. A maioria de nós ao sair de Manaus (não havia universidade ainda, à época), para fazer faculdade fora (isto é, os que tinham famílias em condições de bancar os custos de estudar fora) passávamos sem necessidade de cursinho.
Daquelas décadas saíram os profissionais de maior destaque do Amazonas, em qualquer campo que se considerar. Tivemos grandes mestres, que davam aula de paletó e gravata e mantinham com dignidade suas famílias.
Sobre os colegas, a imensa maioria triunfou na vida. No meu livro GYMNASIANOS listo cerca de 800 nomes que podem ser cotejados nesse sentido.
Para efeito de registro, cito alguns nomes (vivos e mortos), que ocuparam posições de destaque em suas carreiras profissionais ou políiticas: o advogado e empresário Francisco Antonio Marques da Cunha, os advogados Alberto Petronio de Carvalho, José Vasconcelos e Felix e Antonieta Valois Coelho, seu irmão o médico Raimundo Valois, senador Fábio Lucena, o advogado e desembargador do Trabalho Raimundo Silva, os advogados Paulo Figueiredo, Azize Dibo Neto, o escritor e poeta Donaldo Mello, os engenheiros Vladimir Paixão e Silva, Paulo Paes Barreto, Armando Cordeiro, Amaury Veiga, Ernani, Orlando e Vilar Câmara, os empresários Frank Benzecry, José Henrique da Fonseca, Pedro Vieira de Castro, os militares Ozório Fonseca, Ilmar Faria, da PM, e o general Jeannot Jansen.
Cito também os colegas economistas Manoel Alexandre, Marcelo Castro Lima, Antonio Gadelha, destacando ainda diversos escritores e artistas plásticos, arquitetos, como a professora e historiadora Etelvina Garcia, os desembargadores Divaldo Martins da Costa, e, no Rio de Janeiro, Nildson de Araújo Cruz, os médicos Marcus Barros, Horlando Araújo da Silva, Jaime Covas, Luis Carlos Avelino, Paulo Pinto, Raul Brasil, Roberval Tavares, diversos professores da UFAM, os jornalistas Phelippe Daou, Guilherme Aluizio, Hermengarda Junqueira e Aldísio Filgueiras, e o mais importante de todos os políticos daquela geração, o ex-prefeito de Manaus e governador do Amazonas, Amazonino Mendes.
A Associação dos ex-Alunos do Pedro II (ASEA), fundada em fevereiro último, tem muito trabalho ao longo deste ano no cumprimento de extensa programação comemorativa do Sesquicentenário, que certamente contará com o apoio do Executivo Estadual por meio das Secretarias de Educação, da Secretaria de Cultura e da Fundação Televisão e Rádio Cultura do Amazonas (FUNTEC).
A ASEA irá procurar também apoios junto a Academia Amazonense de Letras, Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), à ALCEAR e demais entidades culturais do Estado.
O line-up do festival traz espetáculos de música e imagem como o Ciclope Studio, projeto de artes visuais da Bolívia e o feat entre Tambores do Pacoval e Mestra Bigica.