Ao nos aproximarmos do igapó, desligamos o motor e suavemente remamos para próximo do buritizal, dentre outras espécies de árvores naquele trecho de floresta, em um silêncio surpreendente até mesmo para nós.
Em um dia típico do verão tropical, bem cedo, o movimento da natureza podia ser sentido. Como o sol despertava pontualmente as cinco e cinquenta da manhã, ainda era possível sentir o frescor vindo da vegetação junto com o suave movimento da voadeira que deslizava suavemente no Lago do Tracajá, no município de Careiro, a mais de 200 quilômetros da cidade de Manaus, no Amazonas.
Tinha eu combinado com ‘Chiquinho’, um experiente pescador da região, que gostaria de confirmar a história que era possível pegar um peixe com a mão. Quase todos os peixes se aproximam da superfície do rio bem cedo, enquanto o sol não está pleno no céu. Aquele, portanto, era o horário ideal.
O trajeto foi rápido, não mais que 30 minutos. Eu já tinha minha câmera de filmar as mãos e estava ansioso para compreender aquele fenômeno que parecia impossível.
Ao nos aproximarmos do igapó, desligamos o motor e suavemente remamos para próximo do buritizal, dentre outras espécies de árvores naquele trecho de floresta, em um silêncio surpreendente até mesmo para nós.
O igapó é uma parte do rio que na sua cheia (enchente) ou início da vazante do rio, muitas árvores tem suas raízes e parte do tronco submersos pela água.
De vez em quando ouvia um ruído, tipo um martelo batendo em madeira, não muito alto. Neste momento, o pescador fez a observação que era o tambaqui, um peixe que se projetava batendo com o “rabo” na água e na árvore do açaí, provocando uma vibração que fazia com que os frutos maduros caíssem.
Lógico, eu filmava tudo atento, porém lembrei que tinha que filmar o pescador pegar o peixe com a mão, o objetivo de toda a viagem. Com um sorriso maroto ele olhou para mim e disse: “Estás pronto?”.
Nem respondi com palavras, apenas balancei a cabeça positivamente. Ele pegou alguns frutos do açaí, aproximou da água e suavemente repetiu o mesmo barulho da semente caindo do alto da árvore. Com a outra mão, ele pegou o peixe que subiu para comer a semente.
Surpreso e satisfeito com a filmagem registrando aquele momento único, achei que era fácil e tentei – inutilmente – fazer a mesma coisa por um bom tempo, até me conformar que era apenas um repórter registrando as maravilhas da natureza.
Esta é uma das maravilhas da Amazônia, a natureza sempre nos ensinado a viver junto com ela, que nos sustenta e fascina. Para mantê-la para sempre, temos que respeitá-la.
Sobre o autor
Eduardo Monteiro de Paula é jornalista formado na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com pós-graduação na Universidade do Tennesse (USA)/Universidade Anchieta (SP) e Instituto Wanderley Luxemburgo (SP). É diretor da Associação Mundial de Jornalistas Esportivos (AIPS). Recebeu prêmio regional de jornalismo radiofônico pela Academia Amazonense de Artes, Ciências e Letras e Honra ao Mérito por participação em publicação internacional. Foi um dos condutores da Tocha Olímpica na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016.
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