Um choque e um misto de emoção e alegria profunda fecharam o ano de 2022 quando, depois de mais de 38 anos, encontrei a minha filha.
Nos anos 80, já formado em jornalismo na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), ganhei uma bolsa para estudar na Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos da América (EUA). Por parte de um programa chamado ‘Companheiros das Américas’, além do curso, faria estágio em rádio e TV locais assim como jogar e ensinar futebol.
Viver em outros países é sempre uma grande experiência e tudo faz parte de um grande aprendizado. Por exemplo, existe na UT Martin (universidade que estudei), a semana internacional onde o estudante estrangeiro que participar, além de possível premiação, ganhava uma semana de alimentação no restaurante universitário. Como era bolsista, tentei participar do máximo de coisas possíveis.
Me inscrevi e fiz parte da culinária internacional e cozinhei um prato típico do brasileiro: picadinho. Nem sei se ficou bom, mas já ficou valendo. A minha segunda participação foi cantando. Verdade! Junto com um excelente músico venezuelano que estudava medicina e fazia parte da famosa orquestra ‘Paul Mauriat’, subimos o palco principal na companhia de mais duas brasileiras e outro brasileiro.
Cantei ‘Garota de Ipanema’ em inglês , espanhol e português e com isso ganhei uma semana de comida no restaurante da universidade. Ah! O backing vocal e o violonista também ganharam. Na verdade eu já era relativamente conhecido por jogar e coordenar o futebol (brasileiro) na UT Martin.
Com o tempo passando e eu já estagiando na TV e rádio locais, conheci uma pessoa muito interessante e agradável à época, cujo nome é Leigh Ann Adkins. Passamos a ficar juntos por todo o tempo. Lamentavelmente terminaram meu curso, estágio, outras atividades e o visto expirou. Tive que voltar para o Brasil, antes passando em Washington DC para entregar o relatório das atividades que havia realizado no Tennessee.
Na volta ao Brasil, retornei às minhas atividades na TV Amazonas (Grupo Rede Amazônica) e também apresentei o relatório do que havia feito nos Estados Unidos.
No meu coração pensava em retornar aos Estados Unidos, entretanto o sistema político à época não era tão favorável, era altamente burocrático. Mas, subitamente, recebi a notícia de que seria pai. Reuni a família e os avisei que voltaria aos Estados Unidos e buscaria mãe e filha. Quero lembrá-los que não existia internet e celular estava longe de aparecer. Assim, o mais eficiente meio de comunicação da época era o Telex: caro, difícil e complicado, e poucas empresas tinham.
Foram anos de luta e com o passar do tempo não consegui o meu intento, embora sempre em busca deste objetivo de tê-las junto comigo aqui no Brasil. Seria necessário centenas de páginas para explicar todas as tentativas em minha vida.
Anos passaram. Em um dia de janeiro de 2022 estava na sala de gravação do ‘O jornal’ quando o meu celular chamou com uma ligação internacional, dos Estados Unidos, de alguém que conhecia de UT Martin, e a pessoa que chamava me perguntou se eu tinha o contato com minha filha Candice (norte-americana).
Foi um impacto muito forte que foi necessário ser socorrido por amigos lá presentes. Refeito do susto consegui o contato tão esperado de minha filha, imediatamente liguei à ela e as primeiras palavras delas foram : “Pai , vou fazer uma criança nascer, sou pediatra, me ligue às 18 horas”.
Foi mais um outro choque em um misto de emoção e alegria profunda. Finalmente, depois de mais de 38 anos, encontrei a minha filha. Às 18 horas estava tão nervoso que não acertava ligar. Assim ela me liga e juro, as primeiras palavras não conseguia compreender, embora fale inglês, e mais uma vez ela disse : “calma, temos bastante tempo”. Aí, sim, consegui me restabelecer e finamente além de ouvir, compreender.
“Meu Deus, que alegria!”. Depois de uma longa e boa conversa programados para nos encontrar pessoalmente. “Eu já sou avó de um garoto e uma garota!!!”. Comuniquei a toda a minha família e em especial para meus filhos Tirza e Eduardo e ambos ficaram extremamente felizes.
Marcamos para nos encontrarmos no fim do ano de 2022 e passamos o Réveillon juntos. Como não tinha visto para os Estados Unidos, minha filha Tirza imediatamente esteve pessoalmente com ela para nos encontrarmos na Costa Rica (América central ).
Finalmente, no dia 29 de dezembro de 2022, na Costa Rica, no hotel Royal Corin em La Fortuna, abracei e beijei minha filha querida e esperada Candice. A longa espera havia acabado! Novo ano, nova jornada, uma nova vida!
Sobre o autor
Eduardo Monteiro de Paula é jornalista formado na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com pós-graduação na Universidade do Tennesse (USA)/Universidade Anchieta (SP) e Instituto Wanderley Luxemburgo (SP). É diretor da Associação Mundial de Jornalistas Esportivos (AIPS). Recebeu prêmio regional de jornalismo radiofônico pela Academia Amazonense de Artes, Ciências e Letras e Honra ao Mérito por participação em publicação internacional. Foi um dos condutores da Tocha Olímpica na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016.
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