Sina inevitável

Foto:Reprodução/Shutterstock

Os sequestros e suas torturantes modalidades; homicídios em linha desafiadoramente ascendente; “clonagem” de cartão de crédito; quadrilhas especializadas em saques eletrônicos e fraudes afins; corrupção em todos os níveis nos poderes públicos: o cenário social brasileiro é de pura desesperança, dada a onipresença do fenômeno do crime a demandar prementes soluções políticas para a sua erradicação ou, ao menos, para obrigatória diminuição.

A vitimização diuturna imposta a toda uma apavorada sociedade retira, lamentavelmente, o caráter de excepcionalidade do fato delituoso, para convertê-lo em mero lugar-comum nas relações sociais do cotidiano, tudo pela sua continuidade apavorante que impõe a todos um pseudo estado fleumático, mais de medo e perplexidade, ressalte-se, do que complacência.

Parece que conviver com o espectro do crime a rondar os mais comezinhos hábitos da população tornou-se a sina inevitável das pessoas: fomos ou seremos as próximas vítimas. Assombrosas e apocalípticas estatísticas criminais revelam o recrudescimento desmesurado da violência nas metrópoles, como também em longínquos e pacatos distritos interioranos, onde outrora e raramente a quietude do lugar era surpreendida por um delito isolado, no mais das vezes de natureza passional.

É patente que os finais de semana e feriados transformaram-se em autêntica guerra civil, face aos morticínios e avalanches de roubos. Os inúmeros programas televisivos unicamente voltados para a temática do crime atingem grande audiência, mormente quando veiculados em “horário nobre”, e alguns, como que substituindo a obrigação estatal de persecução de periculosos delinquentes, contam com a interação e o concurso dos cidadãos espectadores para um ofício de ordem eminentemente público: identificar, através de fotos repetidamente mostradas, o paradeiro daqueles que o Estado policial já perdeu de vista.

Conduta juridicamente punível, fato é que o crime está se tornando um episódio banal em nossas vidas, dada a repetição de sua prática por um rol de homo violens dos mais diversos estratos sociais, importando no correspondente descrédito do povo quanto aos mecanismos institucionais de sua prevenção, controle e punição, sendo certo residir neste intrigante aspecto a grande problemática da sua erradicação, pela desproporção mesma da adoção de políticas e investimentos públicos específicos sempre aquém do mínimo tecnicamente necessário, daí o florescimento e multiplicação de empresas particulares de segurança. E não adianta criar Ministério de Segurança Pública, porque os criminosos não estão preocupados com estrutura hierárquica.

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