Pesquisa colaborativa desenvolvida entre cientistas do Amazonas, Acre e São Paulo, visa contribuir para a eficácia, segurança e efetividade no tratamento de envenenamento provocado pela espécie jararaca-do-norte.
A demora para administração de antiveneno é o principal fator para o agravamento de acidentes causados por serpentes em seres humanos. Diante disso, pesquisa colaborativa desenvolvida, com apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), entre cientistas do Amazonas, Acre e São Paulo, visa contribuir para a eficácia, segurança e efetividade no tratamento de envenenamento provocado pela espécie jararaca-do-norte (Bothrops atrox).
O projeto em andamento intitulado “Avanços no tratamento ofídico: estudos pré-clínicos e clínicos, tratamentos alternativos e descentralização” analisa desde os aspectos básicos da capacidade de neutralização das toxinas das peçonhas da serpente até o acesso ao antiveneno em áreas remotas da região amazônica.
O estudo reúne pesquisadores da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), Instituto Butantan e Universidade Federal do Acre (Ufac) e é amparado pelo projeto Iniciativa Amazônia +10, Chamada de Pública nº 003/2022, ação do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo a Pesquisas (Confap) e do Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência Tecnologia e Inovação (Consecti).
O coordenador do projeto no Amazonas, pesquisador Wuelton Monteiro, da FMT-HVD, explica ser necessária a implementação de um protocolo de pesquisa, que aumente a acessibilidade ao tratamento, diminuindo o tempo decorrido entre o envenenamento e o tratamento do paciente e, consequentemente, melhorando o prognóstico.
“Acredita-se que o treinamento sistemático dos profissionais envolvidos levará ao aprimoramento na classificação de gravidade dos acidentes, melhorando a definição da dose do antiveneno a uma vigilância mais ativa e sensível das reações adversas precoces ao tratamento”,
disse o pesquisador,
Até o momento, os pesquisadores já validaram um material para treinamento de profissionais da saúde, levando em consideração os aspectos epidemiológicos e culturais da região amazônica. Já foram capacitadas, aproximadamente, 300 pessoas que atuam no interior do estado, nos municípios de Careiro da Várzea (distante a 25 km da capital Manaus), Barcelos (399 km), Nova Olinda do Norte (135 km) e Ipixuna (1.367 km), bem como de sete Distritos Sanitários Indígenas (DSEIs) do Amazonas.
“Desses DSEIs, dois já estão oferecendo o tratamento com soro antiofídico, com excelente aceitação por parte dos profissionais. Nós estamos entrando numa fase de avaliação da viabilidade deste processo, levantando pontos positivos e negativos encontrados durante esta implementação”, observou o pesquisador.
Doutor em Medicina Tropical, Wuelton Monteiro reforça que o envenenamento causado por serpentes exige uma intervenção rápida, com a administração de antiveneno, preferencialmente nas primeiras seis horas após a picada. No entanto, muitos grupos vulneráveis podem levar dias para alcançar a assistência médica, no momento em que o antiveneno já não é capaz de neutralizar os efeitos do envenenamento.
Neutralizantes
Identificar moléculas que sejam capazes de neutralizar e bloquear os efeitos do veneno da jararaca-do-norte no organismo humano também têm sido objetivos dos pesquisadores, visto que pode propiciar o desenvolvimento de medicamentos a serem usados no tratamento do envenenamento, em conjunto com o soro antiofídico.
Essa parte do estudo vem sendo desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan. Algumas moléculas testadas são medicamentos usados em seres humanos, para outras doenças, e que demonstraram resultados promissores em testes in vitro e, posteriormente, podem evoluir para testes em laboratório.
Com a descoberta e caracterização completa das linhagens, espera-se gerar recursos humanos especializados e aptos e ainda introduzir uma nova linha de pesquisa multidisciplinar no Amazonas, fortalecendo a área de biotecnologia local.
Além de Wuelton Monteiro, participam da pesquisa os cientistas Ana Maria Moura da Silva, do Instituto Butantan, e Paulo Sérgio Bernarde, da Ufac.