A produção foi rodada no galpão da escola Maracatu da Favela, entre as alegorias do desfile de 2020
A pandemia do novo coronavírus fez com que muitos artistas mundo afora, tivessem suas carreiras totalmente impactadas e, para que não parassem, eles tiveram que se reinventar. O cantor e compositor amapaense João Amorim, de 35 anos, foi um deles, que estava se preparando para embarcar numa turnê por nove estados da Amazônia.
O tucuju, planejava as filmagens do clipe de “Deusa”, seu terceiro single que fará parte do disco Festa Temporã, quando viu todos os seus planos e projetos profissionais interrompidos por tempo indeterminado. Além da angústia infligida pela pandemia e pelo isolamento, João vivenciou junto com milhares de amapaenses o apagão que deixou o estado sem luz e abastecimento de água por mais de um mês.
“No apagão eu tive que esquecer que eu era artista. Eu era o pai de duas crianças de cinco anos que tinha que correr atrás de água e comida para manter a nossa casa”, conta ele.
O lançamento da Lei Aldir Blanc, no ano passado, possibilitou a retomada do trabalho para artistas em todo o país. No caso de João, foi a oportunidade para retomar o sonho de apresentar “Deusa”, lançado no Youtube na quarta-feira de cinzas (17). A escolha da data não foi por acaso. O clipe, assim como a música composta em parceria com Danilo José, traduz a nostalgia de um carnaval no mundo sem pandemia.
A produção foi rodada no galpão da escola Maracatu da Favela, entre as alegorias do desfile de 2020, que serão destruídas nos próximos meses para dar lugar aos adereços do próximo carnaval. A atriz e bailarina Mariana Andrade interpreta a “Deusa” que inspira a canção.
Visual arrojado
A qualidade técnica e o visual arrojado trazem a marca do audiovisual amapaense, que já desponta entre as novas cenas emergentes do cinema brasileiro contemporâneo. Principal nome do cinema local, Célio Cavalcante Filho assina a direção geral e a direção de fotografia do clipe.
“Criar esse mundo com a sua própria luz e realidade alternativa desse ano de não carnaval só foi possível graças a parceria com várias produtoras e profissionais incríveis da nossa cidade. A partir do momento em que se dispõe a se criar um mundo fictício, nesse caso, de um realismo fantástico, você tem que ter subsídios de linguagem que segurem a imersão do espectador, envolvido com a música e as imagens desse mundo louco da cabeça desse homem enfeitiçado, apaixonado, obcecado por essa Deusa”, explica o diretor.
Célio também é diretor de “Amanda”, primeiro longa-metragem comercial feito no Amapá, que tem previsão de lançamento para 2022.
“Sinto até vontade de chorar quando penso nessa retomada. É uma coisa que eu tinha sonhado para o ano passado. Ficamos um ano na geladeira. Agora estamos saindo da geladeira com muito talento dessa equipe, com muita força, com muita alegria, todo mundo feliz em participar”, celebra João.
João Amorim
João Amorim, cantor e compositor amapaense, desenvolve uma carreira autoral desde 2013, quando lançou seu primeiro álbum, “Nômade”. Sua música mais difundida é o single “Passa, Tchonga!” (João Amorim/ Paulinho Bastos), de 2018. Em 2020 lançou Festa Temporã, single composto com dois grandes nomes da música amazônica, Zé Miguel e Manoel Cordeiro. A canção dará título a um álbum de composições e arranjos regionais urbanos, que o músico lançará em 2021. Há cinco anos João realiza todos os domingos o projeto Roda de Bandaia, com repertório 100% tucuju, com muito Marabaixo, Bandaia e Zouk. Já subiu no pódio de festivais regionais e nacionais com suas músicas autorais, entre eles o FLIC, em Santa Catarina, onde alcançou o segundo lugar nacional com a música “Índia Waiãpi”. “Deusa” dá continuidade à sua missão de divulgar os ritmos latino-amazônicos por todo o planeta.