Produto a ser desenvolvido pode ter mais eficácia do que outros tipos de inseticida por conter bioativos da floresta, que já estão adaptados ao ambiente.
Existem pelo menos três tipos de fungos do solo amazônico que são eficazes no combate às larvas do mosquito Aedes aegypti, que é o principal vetor de transmissão dos vírus da dengue, chikungunya, zika e febre amarela. Esta é a conclusão de estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Acre (UFAC) publicado em outubro na revista científica ‘Brazilian Journal of Biology’.
A pesquisa foi coordenada pelo engenheiro florestal e biólogo Gleison Rafael Mendonça. Para realizar o estudo, Mendonça coletou solos da floresta amazônica da região do Acre para obtenção das espécies fúngicas e larvas do mosquito em ambientes peridomicílios – ou seja, ao redor de residências – na cidade de Rio Branco. No laboratório, ele selecionou 23 espécies de fungos e observou como elas interagiam com as larvas do mosquito.
Cinco delas foram eficazes no extermínio do vetor. O cientista, então, testou os fungos em um ambiente mais parecido com os quais o Aedes se desenvolve. Nas condições reais do experimento. Três das espécies se destacaram: Beauveria sp, Metarhizium anisopliae e M. anisopliae.
A região amazônica apresenta um inverno muito chuvoso, com formação de poças com água parada, e não há produtos específicos contra o Aedes que atendam às suas características climáticas. Para Mendonça, a vantagem de usar como matéria-prima os fungos do próprio solo amazônico é que o inseticida não causará danos ambientais, como contaminação da água.
“Elas foram eficazes em matar 100% das larvas de Aedes aegypti em cerca de três a quatro dias. Esse mosquito é um problema de saúde pública na Amazônia e existem poucas pesquisas locais sobre o tema”,
aponta Mendonça.
O pesquisador, que pretende criar um produto para combater o mosquito, afirma que uma substância feita com bioativos da própria floresta pode ser mais eficaz no combate ao mosquito na região do que outro tipo de inseticida desenvolvido nos polos científicos do Sul ou do Sudeste, onde há muita pesquisa sobre o combate ao Aedes.
“Os microrganismos nativos da região amazônica são, obviamente, adaptados às condições locais da região, então priorizar o uso de um produto desenvolvido a partir de estirpes nativas de outras regiões pode impedir a ação eficaz dele por aqui porque as condições climáticas são diferentes”, diz. Mendonça pretende continuar sua pesquisa com as espécies de fungos eficazes contra o Aedes, um problema que preocupa as autoridades sanitárias, já que tanto a dengue quanto as demais doenças têm o número de casos aumentado a cada estação chuvosa.
A expectativa do autor do estudo, agora, é conseguir desenvolver um produto acessível e que possa ser comercializado. “Muitas pessoas morrem de dengue, chikungunya e outras doenças causadas por esses mosquitos todos os anos no Brasil, então queremos propiciar uma proteção eficaz e segura por meio de um produto biológico que não vai trazer prejuízo nem ao meio ambiente nem à saúde das pessoas, ao contrário de produtos químicos”, conclui Mendonça.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Bori