Barco-laboratório monitora água no Amazonas com 80 parâmetros de análise de qualidade

O Índice de Qualidade da Água, utilizado em todo o Brasil, é estipulado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA). O objetivo do projeto é também estudar o ar e o solo da região.

Que embarcações são comuns na Amazônia, não é novidade. Os barcos são um dos principais meios de locomoção na região, uma vez que não existem estradas o suficiente para interligar todos os municípios e o rio assume o papel de “estrada aquática”.

Contudo, existem outras funcionalidades para embarcações na região como o barco de pesquisa ‘Roberto dos Santos Vieira’. Inaugurado em março de 2022, o projeto realizado utilizando a embarcação conta com a parceria da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) com o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e tem como intuito principal monitorar a qualidade da água, ar e solo no Amazonas.

O Portal Amazônia conversou com o coordenador do Grupo de pesquisa química aplicada à tecnologia (GP-QAT), Sergio Duvoisin Júnior, que explicou os objetivos e importância social do projeto.

Foto: Divulgação/UEA

Contexto

Considerado pioneiro no âmbito do monitoramento, o programa conta com 12 projetos ambientais e de infraestrutura no Estado. Sérgio explicou que “tudo isso começou com pequenos trabalhos de iniciação científica de monitoramento de ar e depois de um certo tempo, há uns 10 anos, surgiu a necessidade de fazer uma coisa maior”.

Nesse tempo, o projeto foi apresentado ao Ipaam e agora faz parte de um programa de monitoramento ambiental que vai contemplar a bacia amazônica inteira, mas inicialmente com foco na qualidade da água, tendo iniciado por Manaus (AM).

Posteriormente, terá início o monitoramento da qualidade do ar, particularmente no período de queimadas da região. “A gente tá começando agora pela bacia do Rio Negro. A ideia é ir pro Rio Madeira, Rio Solimões e rios fronteiriços”, complementa o coordenador.

Imagem: Divulgação/UEA

Qualidade da água

Sérgio contou que os projetos começaram com o monitoramento da qualidade de água bruta por meio do Índice de Qualidade da Água (IQA), utilizado em todo o Brasil, estipulado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA).

Nesse índice são 9 parâmetros de análise e, ao final, é gerado um resultado em uma escala 0-100. Quanto mais perto do 0, pior a qualidade da água, quanto mais perto do 100, melhor.

“Os estudos começaram monitorando os igarapés com esse índice de qualidade, mas depois o grupo ficou responsável por implementar o plano estadual de recursos hídricos, aprovado em fevereiro de 2019, que aplica vários critérios físico-químicos, biológicos e de metais. A gente começou a fazer essa implementação pelos igarapés Tarumã- Mirim, Tarumã-Açú, Puraquequara, São Raimundo e Educandos. Atualmente estamos entregando 80 parâmetros de análise de qualidade da água”

relatou Sérgio, doutor em físico-química pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Ou seja, para além do índice de qualidade padrão utilizado no território nacional, dezenas de outros critérios são avaliados. Além disso, vale ressaltar que todos esses dados estão abertos para o público em geral, tornando-se uma ferramenta importante tanto para a sociedade, quanto para os gestores públicos. Os índices de qualidade são filtrados por cores.

Estrutura física 

O barco possui 28 metros e já pode ser considerado como uma das maiores estruturas aquáticas para o desenvolvimento de pesquisas na Amazônia.

São quatro laboratórios dinâmicos e cinco camarotes, com capacidade para atender 12 pesquisadores, incluindo seis marinheiros, uma sala de reuniões e uma cozinha, além de um refeitório, uma lavanderia e uma ponte de comando. Os laboratórios são divididos por metodologias de ‘pesquisas analítica’, ‘via úmida’, ‘microbiologia’ e ‘prospecção’. 

Por quê monitorar a qualidade da água?

“Todos dizem que água é vida e eu digo que água é vida e morte”, refletiu o pesquisador. Ele completa que existem muitas doenças provocadas pela contaminação da água como cólera, leptospirose, disenteria bacteriana, hepatite A, dentre outras.

“Quando a gente ‘tá’ falando de qualidade de água, a gente não está simplesmente tentando deixar o manancial com uma qualidade melhor de água. A gente ‘tá’ falando de saúde pública, de bem estar social. São várias coisas ligadas à água”,

completou.

Ele exemplificou com os Igarapés do São Raimundo e do Educandos, que estão extremamente comprometidas, principalmente por esgoto doméstico, mas o esgoto industrial também influencia bastante.

Sérgio reiterou a importância do programa para verificar a real situação dos igarapés e das bacias hidrográficas do Amazonas, não só se estão “ruins” mas identificar a extensão do problema para que políticas públicas possam ser planejadas e criadas como forma de melhorar a qualidade de vida da população não só da capital amazonense, mas também do interior do Estado.

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