Muitos parentes deixaram de se vacinar por causa da desinformação, relata o comunicador Edivan Guajajara
As chamadas “fake news” têm circulado através das redes sociais, levando informações falsas sobre a vacinação não só ao meio urbano, como também às aldeias.
“Chegam informações na aldeia de que essa vacina é apenas um teste com os povos indígenas, que não tem nenhuma eficácia”, afirma Edivan Guajajara, sobre a realidade da campanha de vacinação contra a Covid-19 na Aldeia Zutiwa, localizada na Terra Indígena Araribóia (MA). Edivan é comunicador do coletivo Mídia Índia.
De acordo com o Plano Nacional de Vacinação, profissionais da saúde e indígenas aldeados são grupos prioritários na etapa inicial da vacinação. Até a primeira semana de março, o Maranhão havia imunizado 9.927 indígenas. Entretanto, alguns entraves estão atrapalhando a vacinação em massa dos indígenas. Entre eles, a desinformação.
É importante lembrar que as duas vacinas contra a Covid-19 utilizadas no Brasil (a vacina da Oxford/Astrazeneca e a Coronavac, do Instituto Butantan) são seguras. Testes com milhares de participantes mostraram que as vacinas não produzem efeitos colaterais graves e que são efetivas contra o novo coronavírus. Tire suas dúvidas sobre o tema.
“Muitos parentes ainda não estão querendo tomar a vacina. Eu vi muita resistência de alguns indígenas pela falta de conhecimento, mas o que mais prejudica são as fake news”, comenta Edivan. Durante a etapa de vacinação em sua aldeia, Edivan coletou depoimentos de vários indígenas que se vacinaram. Todos eles relataram estar se sentindo bem após a imunização.
Na Aldeia Zutiwa, onde a população foi influenciada por boatos e informações falsas que questionam a eficácia e a segurança da vacina, circulam virtualmente vídeos e mensagens que afirmam que os povos indígenas estariam sendo usados como cobaias, o que é mentira. A desinformação não para por aí. “Existe aquela outra versão: que diz que se tomar vacina vai virar um tipo de animal, como um jacaré”, relata Edivan.
As informações falsas partem de grupos conservadores e também de membros representantes da Igreja Evangélica.
“Já vi nas redes sociais e no WhatsApp. Foi por causa dessa mentira que alguns parentes estão sem tomar a vacina”, informa o Cacique Paulino. “Eles estão com medo porque veem aqueles vídeos no celular”, comenta João Viana, outro morador da aldeia, fazendo alusão ao material recebido pela população.
De acordo com a Dra. Juliana Abreu Santana que é médica da equipe de Saúde Indígena do município de Arame e tem atuado na campanha de vacinação da Aldeia, as fake news têm dificultado a imunização, por isso, o número de vacinados está abaixo da meta.
“Estamos vendo muitos parentes com medo de se vacinar, medo da vacina causar algum dano, doença ou a morte. Temos tentado conversar bastante, explicar, e fazer a vacinação, porque isso significa salvar essas vidas. Estamos tentando fazer o máximo”, explica ela, que viu a aldeia passar por períodos difíceis durante a pandemia.
Com o esforço de agentes de saúde e membros da aldeia, muitos indígenas têm se conscientizado e receberam inclusive a segunda dose da vacina, completando o ciclo de imunização.
“Um dos principais motivos de eu ter me vacinado é pela prevenção devido à segunda onda da doença. Após a vacina a gente se sente mais seguro e imunizado, acima de tudo”, comenta o estudante Régis Guajajara.
“Essa comunidade é uma aldeia grande, cabe a todos se vacinarem. Até porque a gente anda muito, vai na cidade, e também entra gente de fora aqui na aldeia também”, comenta Cacique Paulino, que também tem incentivado que a população da Aldeia se vacine. “Nós perdemos muitos parentes aqui, nossos anciãos e anciãs, por isso a gente tem que tomar essa vacina. Chegou na hora certa.”
Em resposta às fake news, que também afetam outras aldeias indígenas pelo país, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) criou a campanha “Vacina, parente“, que busca criar ações de conscientização sobre as vacinas nas aldeias.