Estudo sobre ação antifúngica do extrato da flor do jambu, beneficia frutíferas da Amazônia

A pesquisa avaliou extratos de plantas como inibidores, despontando como um possível bioativo recomendável para aplicação no controle das doenças associadas a fungos.

Típico da culinária paraense, o jambu retorna à cena científica com a revelação de que o extrato da flor dessa hortaliça se mostrou promissor no controle alternativo de fungos prejudiciais às plantas de bacuri e muruci – frutas de reconhecida importância socioeconômica na Amazônia, com potencial de comercialização para todas as regiões brasileiras.

A descoberta está descrita no boletim de pesquisa “Efeito de extratos vegetais na inibição do crescimento micelial de Lasiodiplodia pseudotheobromae e Cylindrocladium sp.”, lançado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Os nomes científicos no título são dos fungos estudados – o primeiro causador da seca descendente do bacurizeiro (Platonia insignis Mart.) e o segundo da queima foliar do murucizeiro [Byrsonima crassifolia (L.) Rich.].

A pesquisa avaliou extratos de 15 plantas, alguns sobressaindo-se mais que outros como inibidores dos dois patógenos, mas o de flor de jambu apresentou os melhores resultados para ambos, despontando como um possível bioativo recomendável para aplicação no controle das doenças associadas a esses fungos. A ação antifúngica do jambu é creditada ao espilantol, princípio ativo que deixa na boca a característica sensação de dormência e formigamento.

Foto: Ronaldo Rosa

Acesso livre

O acesso ao boletim de pesquisa “Efeito de extratos vegetais na inibição do crescimento micelial de Lasiodiplodia pseudotheobromae e Cylindrocladium sp.” está liberado ao público no Portal Embrapa.

Como o bacurizeiro e o murucizeiro são fruteiras em processo de domesticação, pesquisas como essa na área de Fitopatologia se tornam referência por servirem de base para futuras investigações científicas. A associação dos fungos pesquisados às respectivas doenças é recente e não há controle químico recomendado para eles.

Alternativa ecológica

Por outro lado, como destaca a publicação, o uso de plantas como substitutos para os produtos sintéticos tem se mostrado uma alternativa de interesse ecológico e econômico bastante favorável, tanto para o produtor como para os consumidores.

“Os resultados desse trabalho são preliminares, mas de suma importância para o estudo do controle alternativo de doenças do bacurizeiro e do muricizeiro, visto que são culturas importantes principalmente para o pequeno produtor”, avalia a fitopatologista Alessandra Keiko Nakasone, autora da obra e pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA), onde os ensaios foram conduzidos.

A autora é responsável pelo primeiro relato do fungo L. pseudotheobromae provocando a seca descendente em plantas do bacurizeiro, publicado em 2020, e participou da equipe de cientistas que em 2014 associaram o fungo Cylindrocladium sp. à queima foliar no muricizeiro.

Extratos de plantas x patógenos

O estudo avaliou extratos de seis plantas alimentícias não convencionais (PANCs), entre estas o jambu, e nove extratos de plantas medicinais. Além do jambu, no grupo das PANCs estão alfavaca, batata-doce, vinagreira, mastruz e ora-pro-nobis. O grupo das medicinais inclui nim, gengibre, eucalipto, erva-cidreira, boldo-do-reino, noni, capim-santo, cipó-d’alho e coramina.

De acordo com as conclusões publicadas, os extratos de flor de jambu e folha de gengibre e eucalipto são capazes de proporcionar inibições acima de 25% no crescimento in vitro de L. pseudotheobromae. Para Cylindrocladium sp., os extratos de flor de jambu e folha de alfavaca se destacaram por proporcionarem inibições acima de 17%.

Além da fitopatologista Alessandra Nakasone, a obra recém-lançada conta com mais cinco autores: Luana Cardoso de Oliveira, química-industrial e doutoranda na Universidade Federal do Pará; Deyse Ribeiro Silvino de Jesus, acadêmica de Agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia; Rayanne Savina Alencar Sobrinho, engenheira florestal; Alessandra de Nazaré Reis Freire, engenheira-agrônoma e Osmar Alves Lameira, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. 

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