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Sexta, 19 Abril 2024

Desfolhar do calendário

Poucas horas nos separam de 2016. Como justificar essa pressa toda com a qual os calendários se sucedem, passando-nos a impressão de que, mais do que correr, o tempo voa e, com ele, a vida da gente se esvai? Não é verdade que há bem pouco estávamos envolvidos com as festas de mudança de século?Eu sei, e muito bem, que essas lembranças só nos tomam de assalto a partir de certa idade. E que antes dessa etapa, quando ainda se é criança, acontece o inverso: entre um Natal e outro o espaço é imenso, o tempo se arrasta em ritmo de tartaruga. Não ignoro igualmente que quando se está na casa dos “entas”, a contagem não interessa: flutua-se, indiferente ao desfolhar do calendário. A primeira cogitação sobre o assunto geralmente ocorre com o ingresso no território dos trintas sobre cujos trilhos o tempo começa a ganhar velocidade. Sucedem-se o “inta e um”, o “inta e dois”... o “inta e nove” e, de repente, quando menos se espera depara-se o “enta” que nos diz termos chegado à metade de nosso incerto e problemático centenário... Que horror! – mudemos de assunto – já! – antes que seja demasiado tarde... O que importa hoje é que já estamos nos acostumando com o corcovos do novo ano. Mas cá estamos, sãos e salvos, aleluia, aleluia...Por isto, repito sempre, a palavra de ordem a ser obedecida deve ser esta: enquanto houver música no salão e par disponível convém que dancemos, dancemos, até a última valsa, ainda que lenta, se não der para bailar um forró. As tragédias que ora presenciamos no mundo é, em boa parte, produto do desencontro entre sistemas sociais que, por se reproduzirem em tempos históricos diferentes, aprofundam a incomunicabilidade. Talvez outros séculos tenham tido mais facilidade em se livrar dos fantasmas e dos ecos de dor que vinham do passado. Tentando inaugurar uma nova era, foram mais felizes em despistar a vigilância das assombrações arcaicas. Nosso século, deixa a impressão de que nele estão em atrito fatos presentes, anseios futuros e restos de história que tinham ficado, sem que disso o Ocidente tivesse consciência, insepultos. E não se trata de sobrevivência do obsoleto no coração do moderno, e sim de reaparição fantasmagórica do passado. A história é hoje palco no qual se registra a volta de forças que se supunham soterradas pela avalanche de modernizações posteriores à Revolução Industrial. Bem, chega de remembranças que soam nostalgicamente. Tenhamos um 2016 cheio de esperanças e, em que pese todas as nossas mazelas nacionais, como a pobreza, a violência urbana, o tráfico de drogas, a desqualificação, cinismo, despudor e incompetência de alguns políticos, a corrupção essa mazela nacional,a insuportável carga tributária e, tantas outras, tenhamos nesses novos tempos que advirão pela magia do calendário da imaginação, um novo ano com esperança, e sem pieguismos afirmo: se você tem amigos, hoje é dia de buscá-los, falar com eles, desejar felicidades e paz. Feliz e venturoso Ano Novo.

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