Em meio a muitas histórias e versões que se contam sobre a maçonaria, o exagero pode tomar conta das narrativas sobre a organização
Um dos grupos que mais chama a atenção e desperta curiosidade, os maçons são mais representativos do que se pode imaginar. Há muitas histórias e versões que se contam sobre a maçonaria, mas, em meio a essa confusão, o senso comum pode acabar fortalecendo o exagero pode tomar conta das narrativas.
Por isso, conversamos com o professor e historiador Abrahim Baze, um dos maiores estudiosos da maçonaria no Amazonas, para descobrir o que é mito e o que é verdade sobre a organização.
Ele explica que “a ausência do conhecimento acaba trazendo outras formas de pensar” e que a seletividade da instituição acaba abrindo espaço para fantasias. “Fazem muitas pensamentos fora do processo da realidade da maçonaria”, argumenta.
A maçonaria é uma religião?
“A maçonaria não é uma religião, ela prega uma religião, ou seja, o cidadão só pode ser se ele crer em Deus”, explica o professor. Segundo ele, um maçom pode ser de qualquer vertente religiosa mas ele tem que ter uma religião.
“Ele não pode ser ateu porque a maçonaria acredita no Deus. Então quem não crê em Deus não pode ser maçom”, ressalta. Para ele, a maçonaria é uma instituição que, de certa forma, prepara o homem para a sociedade. “Por isso ele tem que ser um homem livre e de bons costumes”, acrescenta.
A maçonaria é um grupo secreto?
O professor Abrahim contesta a ideia de que a maçonaria esconda seus ritos, processos e tradições. “Na verdade, a maçonaria é uma escola. Quando você entra na maçonaria, você vai galgando graus e o seu conhecimento é de acordo com o grau. É como se você tivesse na universidade e você saísse de um período pra outro. Quando você deixa aquele período pra trás, você conquistou o conhecimento até ali, mas tem mais coisas pra frente. Na maçonaria é a mesma coisa”, compara.
“Esses conhecimentos é que eu não posso falar. Não é que eu queira esconder, mas você teria que ser maçom, teria que ser iniciado pra poder ter liberdade de eu lhe falar”, destaca.
Apenas pessoas ricas e importantes podem fazer parte da maçonaria?
Na avaliação do professor Baze, há diversidade entre os membros da maçonaria. “A maçonaria não separa, por exemplo, a vida econômica. Você vai encontrar maçons humildes, simples, pessoas que não tem grandes recursos, pessoas que andam de ônibus, por exemplo. Então lá nós não fazemos diferença pelo poder econômico, nós fazemos diferença pelo caráter, pelo aquilo que você é como ser humano”, ressalta.
“A Maçonaria respeita o seu ponto de vista. Lá, nós não discutimos religião, raça nem cor. Nós não fazemos diferença. Lá não existe, por exemplo, autoridade. Um cidadão pode ser o governador, mas lá dentro ele é simplesmente o irmão. A função política dele aqui fora não influi no contexto maçônico”, pontua.
A maçonaria exclui as mulheres?
Segundo o professor, as mulheres desempenham um papel fundamental da maçonaria. “Na maçonaria, quem cuida da área social são as mulheres dos maçons, as esposas, as sobrinhas, as filhas, as irmãs, porque elas tem uma participação muito efetiva”, explica.
“Embora ela não vá pra nossa reunião toda semana, existe uma reunião festiva durante o ano e que as mulheres adentram o templo e participam conosco. É a chamada festa branca porque vai entrar maçom, não maçom, vai entrar a esposa do maçom, vai entrar a filha do maçom”, exemplifica.
Baze reconhece que, no início, a maçonaria era exclusivamente masculina. “Ela é fundada como uma sociedade masculina. Mas com o avançar do tempo, passou a ter a maçonaria feminina – com os mesmos graus de conhecimento, com os mesmos ensinamentos, com os mesmos princípios morais”, conclui.
A maçonaria em dados
- Estima-se que haja 6 milhões de maçons no mundo;
- Eles se reúnem em templos que chamam de lojas (em inglês, lodge, ou alojamento, que é onde antigamente se agrupavam os pedreiros responsáveis pela construção de igrejas ou catedrais);
- As lojas são organizadas por região;
- Os maçons geralmente usam uma espécie de avental, por conta de seu aparente elo com os antigos pedreiros das catedrais (stonemasons, em inglês);
- Entre personagens históricos com elos com a maçonaria estão o político Winston Churchill e os escritores Oscar Wilde, Rudyard Kipling e Arthur Conan Doyle.