O Carnaval é, em síntese, o culto ao belo. E, como disse o sociólogo italiano Domenico de Masi, referindo-se à festa brasileira: “Durante o carnaval, os pobres oferecem aos privilegiados a sua música, as suas cores e a sua alegria, contagiando-os com a explosão de beleza e de prazer. Um povo pobre de recursos materiais, mas riquíssimo de cultura, disposto a acolher toda a diversidade, a fazer conviverem pacificamente todas as raças da terra e todos os deuses do céu”.
Penso como os estrangeiros que visitam nosso país neste mês de fevereiro devem estar se perguntando como é possível que um povo com tantas dificuldades econômicas e sociais – que enfrenta cotidianamente a miséria, o aumento de tarifas públicas, o desemprego, a dengue, o apagão, a violência e a corrupção – seja capaz de produzir e promover de forma tão competente o maior espetáculo da Terra.
Arregimentados em todas as camadas da população, os sambistas desfilam solidários e integrados, numa organização de dar inveja até mesmo aos mais disciplinados exércitos. O Sambódromo se transforma num imenso palco, no qual são encenadas verdadeiras obras-primas da cultura nacional, inspiradas nas lendas, nos personagens e nos fatos pitorescos de nossa história. O Carnaval é uma festa, mas é também uma competição que exige muito trabalho e muito planejamento.
A imaginação voa. E os carnavalescos também. Já vimos uma escola carioca fazer um astronauta equipado pela NASA pairar sobre a avenida, agora com uma simbólica fantasia de papagaio. Mais do que isso, duas outras competidoras elegeram “o sonho de voar” como enredo e uma delas apresentou um carro alegórico exemplar para estes tempos de guerras e atentados: o Avião da Paz, tripulado por crianças de várias nacionalidades. Poderia haver mensagem mais adequada?
Porém estas falhas e mazelas indicam apenas que o grande espetáculo é feito por seres humanos – representativos, nos seus defeitos e nas suas virtudes, da sociedade brasileira. O essencial é que estes brasileiros, os que fazem o Carnaval e também os que não ligam para o samba, têm potencial inquestionável para construir um país digno, justo e feliz. Bom carnaval a todos.
