“A brincadeira e a descoberta fazem parte da formação das crianças indígenas”, explica pesquisadora

O lúdico é uma marca dos grupos indígenas. Ela se estende do adulto as crianças

Na cultura indígena, as crianças são tratadas de maneira muito diferente da cultura não indígena. Além disso, a brincadeira e a descoberta são componentes diários da formação dos pequenos nas comunidades. A pós-Doutora em História pela Universidade Lusófona de Humanidades e Artes, Maria das Graças de Souza Teixeira, trabalhou de 2007 a 2011 com pesquisas voltadas para crianças indígenas. Segundo ela o ambiente indígena é marcado pela ludicidade.

“O lúdico é uma marca dos grupos indígenas. Ela se estende do adulto as crianças. Elas acompanham com frequências os adultos e aprender observando e brincando. Geralmente fazem ou ganham brinquedos como pequenos arco-e-flechas e panelas que imitam e repetem a atividade dos mais velhos”, explica a pesquisadora. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que crianças indígenas de 0 a 9 anos representam mais de 30% da população indígena na Região Norte.

Para Teixeira, a sociedade ocidental coloca as crianças no papel de frágeis e idiotizadas. “Uma frase comum falada nos lares é: isso não é coisa para criança. Na sociedade indígena crianças, adultos e idosos são respeitados e não são tolhidos quanto suas atividades. Para o indígena uma criança é um indígena completo e não em partes como é colocado na nossa sociedade”.

A pesquisa “As culturas infantis indígenas e os saberes da escola: uma prática pedagógica dos desencontros” do doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Roberto Mumbarac, confirma a fala de Maria das Graças. De acordo com a pesquisa, a participação das crianças no universo social da etnia Sateré-Mawé acontece pela observação cotidiana das atividades dos adultos e pela participação momentos sociais vividos na comunidade, que vão de rituais a alimentação coletiva.

Entretanto quando as crianças Sateré-Mawé vão para a escola, boa parte da criatividade e inventividade que possuem na tribo deve ser deixada de lado. Uma das histórias contadas na pesquisa demonstra exatamente isso. “A professora disse: Vocês duas aí, não sabem escrever nada, nem sei por que já estão na segunda série. Esse monte de coisas que rabiscaram no papel não tem sentido nenhum, eu expliquei que era para escrever o significado de cada figura e esses ‘garranchos’ que escreveram não servem para nada. Além de provocar constrangimento para as crianças, desqualificou completamente o processo de escrita das alunas. Quando fomos indagar o que estava escrito abaixo de cada figura, elas nos afirmaram terem escrito na língua da comunidade e depois explicaram o significado em português, que era exatamente aquilo que as figuras representavam”.

O problema da memória

Maria das Graças acredita que um dos maiores problemas no Brasil é a falta de registros históricos da vida das crianças nas comunidades indígenas. “É uma mémoria esquecida. Pouco se sabe sobre como esses as crianças desses povos eram, ou como se divertiam, quais eram seus brinquedos. Poucos registros e materiais nós temos no Brasil”, diz.

Segundo ela, esses registros nos fazem não somente refletir sobre a infância indígena, como também sobre o tratamento que dispensamos a nossas próprias crianças. “É muito notório observar a liberdade que os indígenas têm e sua criatividade. Talvez pudéssemos aprender com isso e oferecer para elas um ensino mais humanitário e aberto as necessidades de cada um”, avalia.

 
Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Minissérie mistura missão astronauta com salinização das águas enfrentada no Bailique, no Amapá

Produção foi realizada durante 13 dias no Arquipélago do Bailique, mostrando a elevação extrema do nível do mar a e salinização do rio Amazonas em meio a uma missão astronauta.

Leia também

Publicidade