Ritmos como o brega e a guitarrada, do Pará, são influências da cumbia amazônica
Brega, carimbó, guitarrada, todos esses ritmos da região amazônica têm conquistado fãs no Brasil e no mundo. O que você provavelmente não sabe é que esses ritmos foram influenciados por um ritmo peruano pouco conhecido, mas extremamente importante para a região: a cumbia amazônica.
A conexão entre o povos que vivem no afluente do Rio Amazonas já é conhecido. A música “Carapira” de Pinduca, um dos maiores influentes do carimbó no Pará, foi regravado nos anos 70 pelo grupo Los Wemblers de Iquitos, uma prova da relação entre grupos musicais que compartilhavam o rio como seu meio de transporte.
Um dos pesquisadores da música da região Norte é Fernando Rosa, escritor do blog de música iberoamericana Senhor F. Morador do Rio Grande do Sul, seu interesse com a cultura da região Norte nasceu da produção de eventos culturais em Porto Alegre em parceria com músicos do Uruguai, Chile e Argentina. “Foi quando nasceu em mim a ideia de que existe muita música do Brasil fora do samba e da Bossa Nova”, afirmou o pesquisador.
Segundo ele, a música da região Norte é a mais desconhecida pelos brasileiros. Suas investigações o levaram pelos ritmos até chegar a cumbia amazônica, fruto do trabalho da importante gravadora peruana, a Indústria Fonográfica Peruana (Infopesa). Segundo a pesquisa “El Poder Verde de La Cumbia: A Amazônia em Discos” realizada pelo Centro de Pesquisa e Pós-graduação sobre as Américas da Universidade de Brasília (UNB), a Infopesa foi fundada no ano de 1971 pelo empresário e reconhecido produtor musical, Alberto Maraví.
Foto: Reprodução/Senhor F
Para cientistas políticos, como Pablo Vila e Héctor L’Hoeste, a cumbia pode ser considerada o gênero musical mais difundido da América Latina. A Infopesa teve um importante papel na produção e divulgação de diferentes ritmos de cumbia na América Latina, inclusive a cumbia amazônica.
Segundo Fernando Rosa, a popularidade da cumbia adentrou a Amazônia e chegou ao Acre, especificamente na cidade fronteiriça de Cruzeiro de Sul. “Lá nasceu o grupo Juaneco y Su Combo que gravou Mujer Hilandera, ou seja, Mulher Rendeira, e ganhou o país – um dos grandes sucessos da cumbia peruana”.
O grupo Juaneco y Su Combo, de Pucallpa, foi lançado pela Infopesa e é considerado um dos grupos mais importantes da música amazônica peruana. Em suas letras, e principalmente na estética das capas de seus vinis e suas vestimentas, o grupo fazia sempre referências a elementos da cultura amazônica e de identidades indígenas da região. A música da região foi bastante influenciada pela cumbia amazônica, com seu ritmo tropical, alcançando o brega em Manaus, além da guitarrada e o carimbó no Pará.
Música Amazônica
Para Fernando, a cultura amazônica, diferente do que é produzido em outras partes do país ficou isolada e adquiriu seus próprios contornos. “Pra ter ideia, a produção cultural em Manaus, Raimundo Soldado nos anos 80 era um sucesso tamanho que era mais ouvido que Roberto Carlos. Depois disso artistas como Teixeira de Manaus e Oséias se alimentaram cada vez dessa fonte inesgotável de ritmos amazônicos. Essa é a música popular da região amazônica que nós brasileiros desconhecemos”, afirma.
“A realidade é que o Brasil tem uma dívida com o Norte, e isso me levou a tentar entender que a cultura da região. Duas são as consequências principais para que essa dívida fosse formada. Uma é a dimensão geográfica da Amazônia. Essa distância gera um outro problema, a imagem de outras regiões em relação a Amazônia, que ganha o estigma da disputa de terras e da ocupação destrutiva da floresta”, finaliza Fernando.
Conheça o ritmo: