Iniciou sua carreira profissional em 1949, como integrante do grupo Altamiro Carrilho e Seu Regional. Dois anos depois, começou a estudar piano. E desde então, sua música atravessou as fronteiras do Brasil e ganhou o mundo.
O músico acreano João Donato de Oliveira Neto nasceu em 17 de agosto de 1934 em Rio Branco, no Acre. A família é marcada pela aptidão artística: a irmã mais velha, Eneyda, estudava piano. Já o irmão caçula, Lysias Ênio, tinha paixão pela poesia e veio a compor as letras de composições do artista. Sua morte, na madrugada desta segunda-feira (17), no Rio de Janeiro, repercutiu em todo o país e fez com que diversos artistas brasileiros a lamentassem.
Em 1945, João Donato se mudou para o Rio de Janeiro com a família. Na cidade, começou a tocar em festas do colégio onde estudava. Em uma delas, conheceu o grupo Namorados da Lua e fez amizade com Lúcio Alves, Nanai e Chicão.
Iniciou sua carreira profissional em 1949, como integrante do grupo Altamiro Carrilho e Seu Regional. Dois anos depois, começou a estudar piano. E desde então, sua música atravessou as fronteiras do Brasil e ganhou o mundo.
João Donato atuou com artistas como Astrud Gilberto, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Eumir Deodato, Stan Kenton, Nelson Riddle, Herbie Mann e Wes Montgomery. Suas músicas “Amazonas”, na gravação de Chris Montez, e “A rã” e “Caranguejo”, ambas gravadas por Sérgio Mendes, fizeram muito sucesso.
Como arranjador, destacam-se entre seus trabalhos os CDs “O homem de Aquarius”, de Tom Jobim, e “Minha saudade”, de Lisa Ono, além de discos de Fagner, Gal Costa e Martinho da Vila.
Contribuição musical
O artista e músico acreano ficou conhecido por suas composições marcantes e por sua contribuição para a bossa nova. Em 2000, foi contemplado com o Prêmio Shell de Música pelo conjunto da obra e participou do Free Jazz Festival (RJ), obtendo sucesso de público e crítica.
Em 2003, ganhou o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Em 2004, foi contemplado com o Prêmio Tim pelo disco “Emílio Santiago encontra João Donato”.
Donato é o único acreano a ser detentor do prêmio Grammy Latino, considerado o “Oscar” da música. Ele venceu a estatueta em 2010, na 11ª edição do prêmio. Na ocasião, ele foi o único brasileiro a ganhar em uma das sete categorias principais, sendo esta a de ‘melhor álbum de jazz latino’ por ‘Sambolero’.
O disco premiado, que possui uma faixa com participação especial de Zeca Pagodinho, foi gravado em quatro dias. Na véspera da premiação, que ocorreu no dia 12 de novembro de 2010, Donato também levou o prêmio especial da academia de gravação por Excelência Musical pela sua obra.
Em 2016, foi indicado novamente para o Grammy Latino. No ano passado, também foi indicado na categoria de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira, com ‘Síntese do Lance’.
Em 2013, João Donato voltou ao Acre para celebrar 80 anos de vida em grande estilo. Na época, o músico realizou um show especial intitulado ‘Donato e a Bossa que Vem do Acre’, encantando o público com sua musicalidade única e sua genialidade ao fundir ritmos brasileiros, afro-cubanos e jazz.
Entre as composições de músico estão ‘Minha Saudade’, ‘Amazonas’, ‘Lugar Comum’, ‘Simples Carinho’, ‘Até Quem Sabe’ e ‘Nasci para Bailar’.
O nome de João Donato foi imortalizado na capital acreana. Em abril de 2006, a cidade de Rio Branco inaugurou a Usina de Arte João Donato, um centro cultural que oferece cursos de formação artística à população. A iniciativa foi batizada com o nome do músico como uma homenagem ao seu talento e à sua contribuição para a música brasileira.
Luto
Ele morreu aos 88 anos em decorrência de uma série de problemas de saúde. Recentemente, ele teve uma infecção nos pulmões. O governo do Acre decretou luto oficial de três dias pela morte de João Donato. O multi-instrumentista e ícone da MPB acreano planejava voltar à sua cidade natal, Rio Branco, no ano que vem para comemorar os 90 anos. O decreto de luto foi publicado em edição extra do Diário Oficial do Estado (DOE).
Em nota, o governo do Acre relembrou que o músico fez sua primeira apresentação musical aos 7 anos na Rádio Difusora acreana. “Pianista, maestro, arranjador, acordeonista, cantor e compositor, mestre João Donato foi um dos grandes nomes da Bossa Nova e da MPB. De personalidade desbravadora e modernidade precoce, cultuado como gênio no Brasil e no exterior manteve-se ativo e visionário, criando, a seu modo, clássicos futuros da música internacional até os últimos momentos dos seus 88 anos dedicados à música e à cultura brasileira. João Donato emprestou seu talento para a música brasileira, mas nunca esqueceu de suas origens amazônicas, do Acre, do tacacá e da Difusora”, disse a nota.
João Donato tinha 74 anos de carreira, marcada pela criatividade e pelas misturas de vários gêneros musicais. Ele não parou de trabalhar nem durante a pandemia da Covid-19, quando participou do lançamento digital do álbum ‘Jazz is Dead’, em parceria com músicos de Los Angeles.
*Com informações das matérias escritas por Iryá Rodrigues e Renato Menezes, do g1 Acre