Selfies podem reduzir expectativa de vida de animais silvestres

Olhares atentos a tudo, e sempre a intenção de bater uma boa foto, que depois de postada nas redes sociais, possa trazer muitos likes e outros tantos comentários. É o vício pelas selfies, que está impactando diretamente na vida de animais silvestres.

Segundo dados do relatório “Foco na Crueldade: o impacto prejudicial das selfies com vida silvestre na Amazônia,” lançado este mês pela ONG Proteção Animal Mundial, o uso desenfreado das mídias sociais tem provocado o aumento no sofrimento e na exploração de alguns dos animais mais icônicos da Amazônia, como o bicho-preguiça, sucuri, jacaré e outros.
De acordo com o relatório, de 2014 pra cá, o Instagram recebeu 292% a mais de fotos no formato selfie com a vida silvestre, e cerca de um quarto dessas fotos são as consideradas selfies “cruéis” que mostram pessoas abraçando ou interagindo inadequadamente com um animal silvestre. 

Foto: Divulgação / World Animal Protection

Na Amazônia, em cidades de entrada como Manaus e Puerto Alegria (Peru), os pesquisadores desvendaram que muitos animais são extraídos da natureza, em sua maioria ilegalmente, para serem utilizados como atrações turísticas que exploram e prejudicam a vida silvestre com a finalidade de entreter os turistas e oferecer oportunidades de fotos com esses bichos.Roberto Vieto, gerente de Vida Silvestre da ONG Proteção, explicou que “a utilização de animais silvestres para fins comerciais é ilegal em Manaus. No entanto, apesar das leis e sua aplicação ativa, outras ações complementares, como a redução da demanda turística, são necessárias para acabar com esse tipo de turismo silvestre prejudicial.”  

Foto: Divulgação / World Animal Protection

Segundo a analista ambiental Cristina Isis Buck Silva, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), esse tipo de atividade é considerado crime ambiental, “guardar, ter em cativeiro ou depósito e utilizar a fauna silvestre sem autorização da autoridade competente é crime ambiental com pena de multa e detenção de seis meses a um ano. O Ibama é completamente contrário a este tipo de turismo e como citado no relatório, realiza fiscalizações periódicas na região a fim de coibir este tipo de atividade,” ressalta.

Perguntada sobre as ações desenvolvidas pelo Ibama para coibir essa prática, Cristina afirma que elas são realizadas com frequência.

“O Ibama tem conhecimento desta prática predatória. Já foram realizadas várias fiscalizações na área, mas ao longo do tempo percebemos que este é um assunto complexo, que envolve diversos setores do ramo de turismo e muitas vezes conta com a conivência deles próprios,” disse.

“Sabemos que vários segmentos desse ramo do turismo se beneficiam dessa atividade. As agências, hotéis e guias muitas vezes vendem a ideia de que será possível manipular e fotografar animais silvestres, mas não dizem que isso é a custa de maus-tratos dos animais. E assim, erroneamente, muitos turistas acabam presenciando esta atividade ilegal, com a falsa promessa de se sentirem próximos da ‘biodiversidade amazônica,’ porém é notório que grande parcela dos turistas consideram essa atividade errada e condenam a prática. Prova disso é a grande quantidade de denúncias recebidas de turistas, que voltam revoltados do passeio ao perceberem que a prática traz sofrimento e maus-tratos aos animais. Devemos lembrar que a outro tipo de turismo oposto a este que o Ibama apoia e incentiva é o turismo de observação de aves, uma atividade que gera renda a quem pratica, sem haver nenhum incomodo aos animais,” concluiu a analista ambiental. 
  

Foto: Divulgação / World Animal Protection

Em nota, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), afirma que “desconhece os meios científicos utilizados no relatório da ONG, mas esclarece que manter animais silvestres em cativeiro para fins de exposição e exploração financeira na atividade turística é ilegal, pois com a exposição e contato frequente com humanos, os animais silvestres acabam perdendo o instinto natural e raramente têm condições de retornar à natureza”. 

Ressalta que realizam contínuas ações de fiscalização em locais que registram tal prática, a fim de coibir o crime ambiental, aplicar as sanções legais aos responsáveis e resguardar a integridade dos animais, que com base nas fiscalizações, as espécies expostas são preguiças, psitacídeos como araras e papagaios, e cobras. 

Na tentativa de reverter esse cenário, a ONG promove a campanha mundial “Silvestres. Não entretenimento” para acabar com a retirada forçada do ambiente natural e a crueldade aplicada à animais usados em atrações turísticas como passeios e shows. A ONG também atua junto aos governos para que eles passem a garantir que empresas de viagens e os indivíduos que exploram animais selvagens para o turismo na Amazônia respeitem as leis já existentes. Além disso, a organização acaba de lançar o “Código da Selfie” que instrui turistas a tirarem fotos com responsabilidade sem alimentar a indústria cruel do entretenimento com esses animais.  

Foto: Divulgação / World Animal Protection

Inúmeras tentativas de contato, por telefone e e-mail, foram feitas com o Sindicato das Empresas de Turismo do Amazonas (SINDTUR), e como o Conselho Regional de Biologia (CRBio – 6ªRegião), mas não obtivemos respostas.

Denúncias sobre essas práticas exploratórias, podem ser feitas para o IPAAM/SEMA no (92) 2123-6774 ou através da Linha verde do IBAMA: 0800-618080 (ligação gratuita).

Para mais informações sobre o relatório e o Código da Selfie www.worldanimalprotection.org.br/selfie
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