Parque do Utinga registra aparição inédita de espécie de rã na Grande Belém

A rã da espécie Pseudis paradoxa, mais conhecida como rã-paradoxal, é um anfíbio encontrado nos estados do Amazonas, Amapá e Maranhão, e em algumas regiões do Pará. Um animal dessa espécie foi encontrado no Parque Estadual do Utinga durante as ações de limpeza das macrófitas aquáticas no Lago Bolonha. Esse é o primeiro registro de uma rã-paradoxal na Região Metropolitana de Belém.

“O animal já foi avistado em outras partes do Pará, como Baixo Amazonas, Marajó e na região entre o Pará e o Maranhão, mas havia uma disrupção (interrupção) na presença da rã aqui na região conhecida como área de endemismo Belém. O registro desse animal no parque é muito importante, pois ele fecha o gap (lacuna) que existia na distribuição da espécie no Pará”, conta o gestor ambiental Augusto Jarthe, um dos responsáveis pelo resgate de fauna durante a limpeza das macrófitas no Lago Bolonha.

A presença do animal no Parque é um indicador do sucesso na preservação da biodiversidade do Utinga. “Esses animais são muito exigentes. Então, eles só vivem em lugares com boas condições ambientais. Apesar de toda a pressão antrópica (ação do homem) que o parque sofre por estar dentro de uma área urbana, ele consegue favorecer que espécies mais que especiais se desenvolvam”, acrescenta.

Foto: Divulgação/Agência Pará

Fenômeno

Além do registro inédito na região de Belém, o caso é curioso pelas próprias características do animal. A Pseudis paradoxa é um dos únicos organismos vivos cuja forma adulta é menor que as formas iniciais. O girino da espécie é mais de duas vezes maior que a rã adulta. “O nome Paradoxa vem desse fenômeno. No crescimento, o girino perde a cauda e por isso fica menor”, explica Augusto Jarthe.

Para o gerente do Parque Estadual do Utinga, Julio Meyer, o registro da rã-paradoxal é mais uma amostra da riqueza da biodiversidade local. “Esse achado é emblemático, pois fala que, além daquelas espécies que já conhecemos, ainda há uma biodiversidade a descobrir. Fala também sobre o cuidado tomado com a fauna e a flora em todos os serviços que são realizados no Parque. Afinal, eles são os principais habitantes desse espaço”, destacou.

Foto: Divulgação/Agência Pará

Manejo

A rã-paradoxal foi encontrada durante as ações de limpeza de macrófitas no Lago Bolonha, um dos mananciais existentes no Utinga, fonte de abastecimento de água para cerca de 70% da população da Região Metropolitana de Belém. Além de sua função de abastecimento, o lago também é berço de diversos animais e vegetais. São mais de 90 espécies de peixes, além de anfíbios, cobras e lagartos.

As macrófitas são plantas que crescem, de forma acelerada, sob a lâmina do lago, formando pequenas ilhas que servem de habitat para alguns animais, mas podem causar prejuízos. Augusto Jarthe ressalta que um dos principais danos é a diminuição na penetração da luz solar no lago. “Um dos efeitos é a morte e decomposição de animais e plantas dentro do lago, por isso essas macrófitas precisam ser retiradas periodicamente”, acrescenta.

Foto: Divulgação/Agência Pará

Entretanto, a retirada das macrófitas pode levar à morte de animais que vivem nas pequenas ilhas formadas pelas plantas. A fim de evitar esses efeitos, a legislação nacional e estadual exige que junto com a limpeza seja feito o resgate dos animais, que são levados para uma área de soltura, de aproximadamente três hectares, no meio do lago. “Durante essa limpeza do Bolonha, que iniciou em outubro de 2007, já resgatamos mais de 2.500 bichos, dos quais 99% são espécies de herpetofauna: cobras, lagartos e anfíbios. Dentre eles estava a Pseudis paradoxa”, informa Augusto Jarthe.

O animal foi coletado e será enviado para integrar a coleção herpetológica do Museu Paraense Emílio Goeldi, considerada uma das maiores do mundo nessa área.

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