Neste ano, as populações ribeirinhas da Reserva Mamirauá , no Amazonas, utilizaram menos madeira da floresta para as construções nas comunidades. As espécies preferidas pela população tem sido o Açacú e o Louro Inamuí. Esses são alguns dos resultados preliminares do ‘Monitoramento da Exploração de Madeira Não Manejada’ em comunidades da Reserva pelo Instituto Mamirauá.
A atividade, empregada pela equipe do Programa de Manejo Florestal Comunitário, oferece dados sobre o uso tradicional da madeira pelas populações que residem na região da Reserva. Em 2016, as visitas aconteceram em agosto, em 84 comunidades para o levantamento de informações. No ano de 2016, foram cerca de 1.400 m³ de madeira em tora, como é classificada a madeira bruta, sem tratamento, e 1.600 m³ de madeira serrada.
O valor da exploração em tora foi 40% menor do que a média do volume explorado dessa forma nos dois anos anteriores. As informações coletadas compõem o banco de dados do monitoramento do Instituto Mamirauá. No ano de 2015, o volume de madeira explorada em tora foi de cerca de 2.600 m3 , enquanto de madeira serrada tiveram a média de 20 m3 . Claudio relata que a diferença entre o volume explorado em madeira serrada entre os anos reflete uma condição ambiental importante, decorrente da cheia histórica registrada em 2015, que influenciou a época em que as comunidades retiraram madeira”, disse Cláudio
Em 2014, foram explorados, pelos moradores das comunidades, mais de 2 mil m3 de madeira em tora e também foi utilizado cerca de 1.200m3 de madeira serrada. “Visualizando os dados brutos, notamos mudanças significativas. A começar pela diferença do volume de madeira em tora entre os três anos. Nos dois primeiros ele é bem parecido, mas em 2016 notamos uma redução significativa, praticamente metade do ano anterior”, comentou Cláudio Anholetto, técnico do Instituto Mamirauá.
Os dados foram coletados em cerca de 80 comunidades da Reserva Mamirauá. De acordo com o levantamento, as espécies preferidas para utilização pelos comunitários são o Açacú (Hura crepitans), muito usado como boia para casas flutuantes, e o Louro Inamuí (Ocotea cymbarum).
Os números se referem à madeira utilizada pela população das comunidades ribeirinhas. Essa Unidade de Conservação se enquadra na categoria de Reserva de Desenvolvimento Sustentável, na qual populações tradicionais residem na área e podem fazer o uso sustentável dos recursos naturais para sua subsistência. O monitoramento fornece dados desse uso pelos comunitários, para construção de moradias, mobiliário e canoas, por exemplo, e não para comercialização. Toda madeira da Reserva que é comercializada deve ser originária de planos de Manejo Florestal Comunitário.
De acordo com Cláudio Anholetto, como parte do monitoramento, são aplicados questionários a representantes das comunidades e serradores, que informam as espécies exploradas, os locais de onde foi retirada a madeira, a utilização dada ao produto, por exemplo, se é para construção ou troca, entre outros dados.
“O principal uso pelas comunidades é para a construção de novas estruturas de moradia, principalmente madeira para construção de casas, e para uso como boias em flutuantes. Em seguida, vem o uso para reforma de casas e construção de estruturas comunitárias, como escolas ou igrejas, depois por madeira para construção de embarcações, principalmente canoas”, contou. O técnico destaca que o monitoramento é utilizado pelo Instituto Mamirauá para subsidiar projetos de pesquisa neste ambiente, entre eles a pesquisa de Viviane Marcos, que utiliza os mesmos dados na avaliação de parâmetros de uso e manejo das espécies para a análise da cadeia produtiva de madeira em Tefé.
“As populações humanas extraem um recurso natural da floresta que gera um impacto sobre o ambiente e sobre a espécie. Com o monitoramento, buscamos avaliar informações coletadas a respeito das espécies utilizadas, bem como em que volume estão sendo exploradas”, comentou Cláudio. De acordo com o técnico, algumas espécies madeireiras tornaram-se raras na área da Reserva, mas ainda hoje há a retirada de madeira delas. “Sabendo isso, temos ideia de como está sendo utilizado o recurso nessa região”, completou.
Cláudio explica que, após a identificação de um impacto exagerado sobre determinadas espécies em função da exploração madeireira, a proposta feita pela equipe aos moradores da comunidade é a substituição por espécies alternativas, com aproveitamento madeireiro semelhante. “Imagino que essa possa ser uma medida. Outra via a ser aplicada conjuntamente seria de conscientização, de educação”, contou Cláudio.
O monitoramento é realizado pelo Instituto Mamirauá anualmente, desde 1993, e ajudou na implantação do Manejo Florestal Comunitário nas áreas mais afetadas pela extração tradicional de madeira naquela época.
“Quando os primeiros planos de manejo foram instalados, uma queda muito grande do uso tradicional da madeira pode ser notada, que foi substituída pela madeira manejada. As comunidades que antes retiravam a madeira sem licenciamento ou regulamentação de nenhum tipo, passaram a fazer planos de manejo para comercialização da mesma”, comentou o técnico. A ação conta com recursos do Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).