Rondônia e o 4 de janeiro

Rondônia é, para muitos, uma verdadeira Canaã. Pois oportuniza novas perspectivas de vida para legiões de brasileiros e cidadãos do mundo.

Rondônia é, para muitos, uma verdadeira Canaã. Pois oportuniza novas perspectivas de vida para legiões de brasileiros e cidadãos do mundo.

Rondônia sempre recebeu a todos de braços e coração abertos. Gente de dezenas de pátrias e de todos os recantos do Brasil aqui aportaram com seus sonhos de uma vida melhor. E o Estado acolheu e correspondeu.

É uma nova civilização que se firma na Amazônia, com particularidades ambientais, culturais, sociológicas e antropológicas que permitem falar em uma riqueza contínua e permanente apresentando indicadores socioeconômicos acima da média nacional graças, exatamente, ao caráter empreendedor do nosso povo.

Acima de tudo está a biodiversidade riquíssima, somos o portal da Amazônia Ocidental, o princípio do pantanal e temos o cerrado e tudo o que possa haver em cada um desses biomas.

Na cultura, somos a soma de todas as expressões porque o rondoniense caracteriza-se exatamente pelo seu caráter cosmopolita forjado nas tantas vivências trazidas pelos emigrantes e imigrantes.

Foto: Daiane Mendonça/Secom RO

Porto Velho já teve, de princípio, como língua “oficial”, o inglês no primeiro jornal e na cultura dominante nos tempos da construção da ferrovia Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM). A atual capital um dia chegou até a ser dividida em duas: a cidade-empresa (domínio estadunidense e inglês, por onde passaram trabalhadores de umas 50 pátrias) e a Porto Velho dos brasileiros.

Nos ciclos da borracha, “levas” de nordestinos modificaram os costumes da região com suas falas e culturas até hoje enraizadas em nossa essência. Os arigós, ou soldados da borracha, foram e são os heróis da resistência.

Nesse caráter plural, não se pode anular a força das nossas tradições ameríndias que ainda sobrevivem na língua, nos costumes, e nos influenciam mais do que percebemos.

O Estado só foi instalado há 40 anos, mas, para chegar ao ponto de ser uma nova estrela na Bandeira Nacional, passou por muitas odisseias em que se despontaram verdadeiros heróis. O maior deles foi o sertanista e indigenista Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Foi por sua força e tenacidade que a região foi integrada de fato ao Brasil e nosso mapa de Rondônia feito à foice e muita inteligência estratégica, contando com cientistas de ponta que fizeram parte das campanhas empreendidas por Rondon.

Marechal Rondon. Foto: Reprodução/Governo de Rondônia

Embora contestado por tantos por suas posições políticas, fato é que o coronel Aluízio Ferreira também foi essencial à formação de Rondônia. Discípulo de Rondon, nacionalizou a EFMM, foi diretor dos telégrafos, combateu o cangaço em Rondônia e — o mais importante- — foi o proponente da criação do Guaporé, tendo recebido o presidente Getúlio Vargas em Porto Velho, que criou o novo território federal em 1943, constituído por terras do Amazonas (onde estava Porto Velho) e Mato Grosso (onde estavam os antigos municípios de Santo Antônio do Rio Madeira — o maior do planeta em área — e Guajará).

Na política partidária, o precursor — esquecido — foi o médico Joaquim Augusto Tanajura, membro da Comissão Rondon (aliás, o velho militar creditava sua própria vida à devoção de Tanajura que lhe deu respaldo médico durante as mais importantes campanhas militares). Tanajura afixou-se às margens do Madeira e foi o fundador da primeira escola, da maçonaria, do primeiro clube de futebol, do primeiro jornal em língua portuguesa, primeiro prefeito eleito de Porto Velho e de Santo Antônio, primeiro deputado estadual… defensor dos índios, da educação, da saúde pública… O nome da sede do Legislativo estadual deveria ter sido dado em sua homenagem. Mas desde quando políticos (via de regra) conhecem a história?

A BR-029 (hoje 364) seguiu as linhas telegráficas da Comissão Rondon e nos trouxe mais heróis, tendo como timoneiro o presidente Juscelino Kubitscheck –e não se pode esquecer da figura do governador Paulo Leal (vide o livro “O outro braço da cruz”).

Por fim, destaco os governadores Humberto Guedes e Jorge Teixeira. Dois coronéis do Exército. Um preparou e outro consolidou a transição de Rondônia de território para estado da federação. O dia festivo que marcou o novo tempo foi 4 de janeiro de 1982. Mas, muito antes disso, houve muitas lutas que jamais podem ser esquecidas.

Grosso modo, esses foram/são os pilares de Rondônia. O estado que tem o “céu sempre azul” como entoa nosso hino, o mais bonito dentre os de todos os estados pela sua melodia e poesia.

Parabéns, RONDÔNIA! 

Sobre o autor

Às ordens em minhas redes sociais e no e-mail: julioolivar@hotmail.com . Todas às segundas-feiras no ar na Rádio CBN Amazônia, às 13h20.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

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