Morre o roteirista Mário César, cofundador do Memorial Rondon, em Porto Velho

Ele era carioca e conduziu vários projetos culturais em Rondônia, com destaque ao filme “O Rio da Dúvida”.

A partida de Mário César Cabral Marques, um batalhador do cinema brasileiro e cofundador do Memorial Rondon, deixa um vazio não apenas no coração da cultura de Rondônia, mas em todo o tecido da memória nacional.

Mário César, um visionário das telas e das letras, encerrou sua última cena neste sábado, aos 73 anos, no Rio de Janeiro. O adeus ocorreu no Cemitério Catumbi, onde seu corpo foi velado e sepultado, mas sua essência permanecerá imortalizada em cada quadro, cada palavra, cada gesto que dedicou à arte e à preservação da história.

 No Rio Roosevelt, lugar em que foram gravadas cenas de “O Rio da Dúvida”. 

Sua contribuição ao Memorial Rondon, em Porto Velho, é inestimável, com mais de 400 peças que narram a epopeia do sertanista. E sua paixão pelo projeto da exposição permanente “Rondon Marechal da Paz” prometia ser a joia da coroa na Casa de Rondon, um antigo posto telegráfico em Vilhena (sul de Rondônia), que ele sonhava transformar em um santuário de cultura e história.

O filme “O Rio da Dúvida”, uma cinebiografia rodada nas terras de Rondônia em 2017, é um testamento de sua maestria, aclamado e laureado em festivais internacionais. Mário, ao lado de sua esposa Patrícia Civelli, filha do pioneiro cineasta ítalo-brasileiro Mário Civelli, geriu a empresa Memória Civelli com um compromisso histórico, guardando os tesouros deixados pelo Marechal Cândido Rondon.

Mário César Marques dedicou sua vida ao cinema e à memória nacional. Foto: Divulgação

Em setembro de 2022, Mário recebeu homenagens da Superintendência Estadual de Cultura, em Porto Velho, e realizou uma visita técnica à Casa de Rondon, em Vilhena. Naquele dia 27, seu aniversário de 71 anos, ele celebrou a vida e o trabalho, entrelaçados em uma mesma trama de dedicação e amor.

Recentemente, Mário expressou-se sobre a perda de Irmã Beth Myky, uma neta de Rondon, lamentando que com ela se ia uma parte significativa da memória histórica. Agora, com a partida de Mário, ecoa um sentimento similar: um homem de sonhos e projetos, de uma disposição incansável para a realização, nos deixa. 

O roteirista com a mão na massa junto de soldados do Exército, erguendo um poste do telégrafo de Rondon em Porto Velho, em 2015. Foto: Divulgação

Sua vida foi um compromisso ético e estético com o Brasil, uma busca incessante pela verdade através da arte. Mário articulava com o governo e a iniciativa privada meios para viabilizar grandes projetos. Suas motivações era a cultura, acima de tudo. Ele era um homem que encontrava poesia na história, na música, na literatura, e em todas as formas de expressão artística. O entusiasmo e a alegria com que falava empolgava a todos.

Na última conversa que tive com Mário, há apenas quatro dias, ele falou com fervor sobre o papel da indigenista Irmã Beth e sobre seu próprio trabalho, “O Rio da Dúvida”, que ele descrevia como um “documento definitivo” sobre a saga de Rondon e Roosevelt. Ele via seu filme como um “trabalho cinematográfico histórico com um olhar poético”, uma definição que, talvez, melhor encapsula o legado e a vida de Mário César Cabral Marques: um poema em movimento, uma narrativa viva, um compromisso com a arte e a história. 

Sobre o autor

Às ordens em minhas redes sociais e no e-mail: julioolivar@hotmail.com . Todas às segundas-feiras no ar na Rádio CBN Amazônia às 13h20.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Projeto leva ópera a estudantes de escola pública da zona sul de Manaus

Alunos do Centro de Educação de Tempo Integral (CETI) Cinthia Régia Gomes do Livramento, localizado na zona sul de...

Leia também

Publicidade